Entre a infinidade de péssimas ideias que eu tenho o costume de ter, talvez a mais idiota tenha sido criar um fake pra monitorar a extrema direita e olha, fui ver depois do Roda Viva do Bolsonaro e não tem boa notícia lá não…
Os primeiros sinais do Efeito Roda Viva
Acompanhar as redes sociais quando uma coisa dessas acontece já não é tarefa fácil por si só, imagina então quando você resolve ver tudo pela perspectiva do outro lado da trincheira. Tem que ter estômago.
Não sigo apenas os expoentes do pior campo ideológico mas também muita gente que costuma comentar em tweet de general (seja ele de pijamas ou não) e fala em caixa alta, tudo, o tempo todo. Em resumo, são os típicos comentaristas de portal e, pasmem, estavam eufóricos pela performance de seu candidato mitológico. Segue aqui um tweet escolhido a esmo:
Nenhuma pergunta decente por parte da bancada
Perguntaram sobre fake news antigas que já foram esclarecidas
Perguntaram sobre Ditadura, Ditadura e mais Ditadura
Bolsonaro atropelou a bancada inteira sem dó
Foi assim! Fim.
— Bolsonaro Presidente (@JoelAlexandreM) July 31, 2018
O resultado esperado daquele beócio no centro da roda era um massacre. Uma pessoa destemperada gritando coisas aviltantes e maluquices dignas de sair de lá sedado direto pra um sanatório.
Mas parece que o efeito foi o inverso. O cara saiu de lá aplaudido por esse séquito de descerebrados. E olha, nas críticas que eles fizeram à bancada escolhida não dá pra repreendê-los não. Convenhamos, quem caralhos em sã consciência vai pra uma entrevista desse porte achando que o voto vai ser igual canhoto de cartão de crédito, porra? Eu que tenho um emprego de 8 horas por dia tive tempo juntamente com a Leticia de contatar pessoas especializadas, gravar, produzir, editar e publicar um podcast de mais de duas horas sobre isso. Qual a desculpa de alguém que vive da informação?
Em todos esses anos de profissão ninguém avisou ao Lessa que qualquer idiota com acesso à Internet pode editar a Wikipedia? Qual o real impacto na atual situação do país faz com que alguém ache que é mais importante lacrar dizendo que Jesus foi refugiado ao invés de falar sobre a concessão pública de TV ou do rompimento da filosofia de relações internacionais sul-sul que o Serra promoveu?
Claro que isso não atenua as aberrações ditas pelo ignóbil postulante ao Executivo, mas minam demais a reputação (já abalada) e a seriedade do programa.
O problema é que o Paulão aqui da esquina perdeu o bico que tinha de repositor no supermercado do bairro e independente do que decida a Corte Interamericana dos Direitos Humanos a pindaíba dele vai continuar. Claro que o caso Herzog precisa de uma definição, mas isso aí não vai encher a geladeira da Rebeca, 25 anos, uma faculdade travada e um filho de 4 meses de idade pra sustentar com 954 reais.
Enquanto pseudointelectual de esquerda, eu adorei ouvir aquelas perguntas, mas porra, AGORA NÃO É A HORA DISSO, CARALHO. Eu preciso, nós precisamos, de uma bancada que mostre como o fulano lá é totalmente rendido em matemática, quiçá economia.
Agora é a hora de mostrar o despreparo dessa família que há quase 30 anos recebe do nosso bolso mas que mesmo vivendo nas entranhas do sistema não tem um mísero plano do que fazer com a porra do país.
Douglas Adams estava certo. Toda essa busca por respostas fez com que a gente se perdesse do caminho de fazer a pergunta certa.
Enquanto isso o Paulão, o mesmo que tá desempregado, bate no peito e se diz um orgulhoso eleitor do milico de merda.
Os Dias Seguintes
Passar algum tempo longe do Facebook me deu alguma clareza de várias estratégias eleitorais.
Aparentemente, os expoentes da nova-direita-hipster-startupeira que vêem no João Amoeba o novo bastião da moralidade que vai levar o Brasil a outro patamar sentiram que o Bronco de Farda acusou o golpe de não saber responder a um mínima pergunta com coerência, nada tinha início, meio nem fim, a não ser, é claro, que você concorde que a melhoria da saúde passa por empregar as pessoas pra que elas estejam ocupadas demais pra se consultar (se for o seu caso, me explique nos comentários, é sério).
Com isso começou uma nova ofensiva de tentar vender pra quem ficou balançado com o Roda Viva desta segunda-feira que, ao invés de votar no ex-militar mais imbecil que o Brasil já produziu, que essas pessoas passem a olhar com carinho e cogitar o candidato do partido que só é novo no nome, mas que não tem a pretensão de mexer em uma palha do status quo. Quem sabe tudo melhora se a gente tirar a regulação estatal de tudo e trocar a Voz do Brasil pelo podcast do Geração de Valor…
O que dizer de um candidato que se vale das viúvas do mais inepto dos postulantes para viabilizar o seu caminho? É o tipo de jabuticaba política que só pode ser compreendida pela heterogeneidade dos movimentos anti-PT que nasceram de 2013 pra cá. Tudo beira a esquizofrenia.
E tem maluco indo correndo pra estar entre os primeiros a passar essa vergonha…
A típica previsão furada de futuro
O que me preocupa não é o dia primeiro de janeiro. Eu já venho me acostumando há alguns meses com a ideia de um presidente sabor chuchu. Ao meu ver a grande responsabilidade do processo eleitoral desse ano não está nos candidatos nem nos tribunais eleitorais, muito menos na mão dos eleitores.
Quem não tem o direito de errar esse ano são os institutos de pesquisa.
Nós não podemos nos dar ao luxo de passar nem perto do que foram as eleições do EUA em 2016.
Os protofascistas, ultradireitistas, ou seja lá como você prefira chamar, já têm ensaiado o discurso de fraude eleitoral. Assim que a derrota vier, todo tipo de ataque será liberado, e quanto mais discrepante o resultado das urnas com o da expectativa dos tacanhos, mais violenta tende a ser a reação.
Cês já tão preparados psicologicamente pro dedo no cu e gritaria que vai ser o pós-eleições? Quem tiver férias pra pegar na empresa pegue nesse outubro, fica a dica.