Mês: janeiro 2020

Pistolando #052 – BMF edition: Plantas antifa de Detroit sofrem racismo em biblioteca e são salvas por wombat italiano que tem medo de fadas

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O Bom, o Mau e o Feio 

 

Ficha técnica

Hosts: Leticia Dáquer e Thiago Corrêa

Edição: Thiago Corrêa

Capa: Leticia Dáquer

Data da gravação: 28/01/2020

Data da publicação: 30/01/2020

 

O Bom:

Leticia:

Thiago: 

 

O Mau:

Leticia:

 

O Feio:

Leticia: 

Thiago: 

 

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[DUBLADO] BÔNUS do epsiódio 051 – Entrevista com Patrizia Dragoni, professora da Universidade de Macerata, Itália

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[ITALIANO] BÔNUS do epsiódio 051 – Entrevista com Patrizia Dragoni, professora da Universidade de Macerata, Itália

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Transcrição em Português do episódio 051 EXTRA – Entrevista com Patrizia Dragoni, professora da Universidade de Macerata, Itália

Tempo de leitura: 19 minutos

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[Leticia] Então, antes de qualquer coisa normalmente a gente começa pedindo ao convidado que se apresente, assim a gente sabe, quer dizer, quem ouve entende por que a gente convidou vocês. O que você faz, onde está, como foi parar lá, qual é a sua especialidade, coisas assim. Uma apresentação breve.

 

[Patrizia] Bom, sim, eu ensino Museologia na Universidade de Macerata, onde trabalho tanto com História dos Museus quanto de gestão de museus.

 

[Leticia] Ah, entendi. O que você estudou, enfim, pra depois trabalhar com isso?

 

[Patrizia] Eu sou formada em Letras, com orientação Histórica-Artística… 

 

[Leticia] Oh!

 

[Patrizia] Depois fiz especialização em didática geral e museal, e é isso, fui parar na universidade antes como “fellow researcher”, depois como pesquisadora, e agora sou professora associada, mas também já trabalhei dentro de museus, porque trabalhei muitos anos em colaboração com a Região Úmbria e ali eu fazia todo o trabalho de back office.

 

[Leticia] Ah, ok, então você conhece bem o trabalho ali das coxias…

 

[Patrizia] Escrevi catálogos, organizei mostras, escrevi guias curtos, folhetos etc.

 

[Leticia] Fantástico. Com a outra convidada a gente falou de um lado totalmente diferente da coisa, então falamos de histórias, de fofocas, histórias no sentido de causos, coisas assim. Mas como essa outra pessoa não trabalha diretamente com isso, é uma pesquisadora mas a formação dela é totalmente diferente, a gente ficou meio curioso com relação à parte de como funciona um museu, sabe. Falamos de furtos de quadros, de coisas assim, de falsificações… E antes de qualquer coisa, já que quem tá nos escutando provavelmente não tem ideia de como funciona um museu: como funciona a coisa? Tipo, quem escolhe quais são as obras que vão ficar expostas, quais ficam, sei lá, no depósito, as obras emprestadas de um museu pra outro, quem decide que exposição fazer, que obras selecionar, como funciona isso?

 

[Patrizia] Bom, vamos falar em geral, porque os museus são diferentes…

 

[Leticia] Sim, sim.

 

[Patrizia] Normalmente quem decide o que vai ficar exposto e o que não vai ficar exposto é o responsável, digamos assim, do museu. Um curador, onde houver um, porque sabe, na Itália as pessoas ligadas às profissões museais são um pouco diferentes, nem sempre existem. Quer dizer, depende se for museu estatal, ou cívico, mas enfim, vamos falar de um museu grande que tem um diretor, um conservador. Nesse caso a escolha é feita por eles, quando é modificado o acervo. Então se decide o que vai ficar exposto e o que pode ficar nos depósitos, em base à história que se deseja contar através do museu. Então é uma escolha crítica muito precisa, porque decidir o que você quer expor e o que você NÃO quer expor certamente muda um pouco a percepção da história das obras que você quer contar.

 

[Leticia] Hmmm. Sim, sim.

 

[Patrizia] E é isso, depois com relação aos empréstimos, é outra coisa, porque aí tem a ver com as mostras. Então uma mostra, que normalmente tem um tema específico, o museu que pede emprestado, dependendo da mostra, já tem um plano das obras que quer exibir, faz um pedido através de formulários específicos pro museu de quem ele quer pegar emprestado, e esse museu pode ou não emprestar, dependendo de vários fatores.

 

[Leticia] Hm.

 

[Patrizia] Ele decide, por exemplo, que vai emprestar porque essa mostra tem uma importância científica que merece o empréstimo.

 

[Leticia] Tá.

 

[Patrizia] Ou porque os curadores são prestigiosos, porque o museu pra onde vai a obra tem muito prestígio, porque assim a obra adquire maior visibilidade, ou então pode decidir o contrário, não emprestar, porque não considera a mostra importante, ou porque a obra é frágil e não pode viajar. Por exemplo, existem inserções em pastilha, um tipo particular de stucco dourado que é muito frágil, e pode se soltar com a movimentação. OU então a obra precisa ser exposta com critérios específicos de umidade, de temperatura, então são necessários parâmetros que devem ser mantidos iguais…

 

[Leticia] Entendi.

 

[Patrizia] …no seu local de partida e no local de chegada, então o museu pode decidir não emprestar, mas essas são todas operações que dependem obviamente dos responsáveis do museu.

 

[Leticia] Entendi. Tô ouvindo um barulho, é o microfone, tá batendo contra alguma coisa, não sei… 

 

[Patrizia] Ah, aqui. Tá ouvindo ainda?

 

[Leticia] Uhum. Ok. E uma coisa, já que a gente falou de furtos, e… rolam muitos, né, e de repente a gente pensa que é coisa de filme, mas na real a gente vê o jornal na televisão e vê que não é uma coisa tão incomum. Acontece, aconteceu esse ano, né, eu tava vendo as notícias na televisão enquanto esperava o avião pra vir pro Bras… pra Itália, e vi a notícia de um quadro que foi roubado, o fulano saiu na porta principal, pela porta principal.. Como é possível que estas coisas ainda aconteçam, quer dizer, o que deu errado quando acontece algo assim? Porque tá, nesse caso específico era alguém que trabalhava no museu, então eu entendo que obviamente quem trabalha ali sabe como fazer, né, se precisar fugir roubando alguma coisa ele faz porque sabe como. Mas pra quem não… Pros casos nos quais não é isso, é outra pessoa de fora que rouba, pega um quadro e leva embora, o que acontece?

 

[Patrizia] É, bom, isso também é difícil, porque normalmente os furtos acontecem quando o museu tá fechado. É um pouco mais fácil nesses casos, porque mesmo se os sistemas de alarme estiverem ativados, frequentemente os ladrões conhecem os alarmes e conseguem entrar por vias de acesso diferentes, por exemplo, a entrada do pessoal da limpeza…

 

[Leticia] Ok.

 

[Patrizia] Entradas de serviço… Frequentemente também acontece, por assim dizer, um apoio de alguém que trabalha dentro dos museus, que de repente deu informações e tal.

 

[Leticia] E essas coisas, essas obras roubadas, vão pra onde? Quer dizer, são furtos feitos a pedido de alguém, as obras têm um destino, uma destinação certa quando são roubadas, sei lá, onde vão parar normalmente essas obras?

 

[Patrizia] No caso do museu, frequentemente podem ser furtos a pedidos, porque as obras são tão famosas, tão conhecidas e catalogadas que dificilmente podem ser revendidas no mercado de antiguidades.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Normalmente os antiquários precisam ter, pelo menos na Itália, precisam ter listas das obras roubadas, que são publicadas todo ano pelos Carabinieri, pra Tutela dos Bens Culturais. Tem um núcleo especial dos Carabinieri que toma conta da tutela dos bens culturais, um núcleo que nasceu em 1969, é um dos mais antigos que existem sob esse aspecto, e que publica todo ano a lista das obras roubadas. Todos os antiquários precisam ter essa lista, porque se eles vierem a vender uma dessas obras, obviamente são passíveis de sanções penais.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Então quando as obras são roubadas, especialmente obras que se encontram em museus, digamos que tem um pedido por trás, então normalmente são furtos encomendados. Seria difícil revender, sei lá, um Rafael…

 

[Leticia] Sim. Então seria um colecionador, alguém que realmente tem esse sonho de possuir uma obra assim, enfim.

 

[Patrizia] Sim, normalmente, mas também acontece da pessoa desequilibrada, né, acontece, mas é bem difícil, isso acontece mais no caso de destruição, de danos…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …feitos às obras de arte, pode ser que apareça alguém que é meio perturbado, aí, como já aconteceu algumas vezes…

 

[Leticia] Ai, sim, sim…

 

[Patrizia] … esfaqueiam a obra ou atacam de alguma forma, mas no caso do roubo, normalmente é por esses motivos. Se são obras importantes, se são obras pequenas, tipo pequenas paisagens, essas podem ser mais interessantes pro mercado, porque é mais difícil encontrar elas depois, ou então… Mas são coisas que acontecem mais frequentemente nas igrejas.

 

[Leticia] Aaaaah ok.

 

[Patrizia] Nas igrejas pode acontecer que haja esses furtos, porque as igrejas obviamente são abertas ao público…

 

[Leticia] Aaaah sim, sim, e também todo o esquema de segurança que tem num museu normalmente não tem numa igreja, né, a não ser que seja uma igreja famosa e tal…

 

[Patrizia] Exato, a obra pode ser roubada, pode ser cortada…

 

[Leticia] Ah!

 

[Patrizia] …em pedaços, porque depois os falsários usam esses pedaços pra inserir em outras telas.

 

[Leticia] Oh!

 

[Patrizia] E a partir da obra grande eles criam outras obras diferentes. Aí você não encontra mais nada do original, porque é muito difícil, a obra já foi tão modificada que fica muito difícil encontrar novamente.

 

[Leticia] Caramba, não sabia disso. Que bosta! 

 

[Patrizia] Pois é, normalmente fazem assim pra não serem descobertos, e frequentemente usam também telas que são antigas, pra que a prova do carbono 14 diga que elas são antigas, mesmo com instrumentos técnicos…

 

[Leticia] Caraca, nunca tinha ouvido falar disso!

 

[Patrizia] Os falsificadores são talentosos, viu…

 

[Leticia] Caramba! E quando, entrando no lance das falsificações, já que você entrou no assunto, como, como se faz, porque a gente viu, eu tinha coloc… Tinha botado uns links também na… Na nossa pauta, no script que a gente usa pra fazer a gravação principal, a gente tinha botado algumas notícias de quadros que estão em um museu na França, não me lembro qual, que descobriu que tipo a metade das suas obras eram falsas. E como, como se faz algo assim? Porque eu entendo, e a outra convidada disse a mesma coisa, que são muitos especialistas envolvidos, é uma coisa meio subjetiva, porque não existe uma maneira de provar, especialmente se o falsificador consegue inserir um pedaço de obra antiga pra conseguir enganar até o carbono 14. Mas quem decide o que é um falso ou não é, com que frequência se fazem essas análises, porque de repente é um quadro que tá ali há muitos anos e ninguém teve a ideia de ir lá ver se é daquele pintor mesmo, e de repente alguém vai lá, olha e fala ‘olha só, esse aqui não é dele’, ‘nem esse’, ‘a metade dos seus quadros não foram pintados pelo pintor que vocês falaram’. Como acontece isso tudo?

 

[Patrizia] Como acontece, bom, normalmente pode acontecer quando há uma exposição…

 

[Leticia] Ih, tô ouvindo o barulho de novo.

 

[Patrizia] Ah, pode ser eu mexendo o dedo, viu…

 

[Leticia] Pode ser.

 

[Patrizia] Pode ser quando há uma exposição, quando as obras de arte são submetidas a exames. Talvez por precisar fazer alguma restauração, porque precisa fazer alguma ação em particular, e aí pode acontecer de descobrirem que a tinta ou algum elemento da tinta não é do mesmo período da tela.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Ou então não é… Não é… Tipo… Ligado também às restaurações, ou seja, foram usados materiais que naquela época não existiam.

 

[Leticia] Ah, entendi. Caraca…

 

[Patrizia] E isso pode ser um motivo, ou então se faz alguma comparação com outras obras, mas determinar o que é falso realmente não é fácil.

 

[Leticia] Imagino! Principalmente se eles chegam a essa sofisticação, a esse nível de esforço, enfim, pra fazer com que o quadro passe por verdadeiro, não deve ser nada fácil…

 

[Patrizia] Existem falsificadores na história que venderam muitas obras a colecionadores e depois essas obras foram parar em museus, exatamente porque eles eram artesãos, eram artistas mesmo, e sabiam fazer obras com as mesmas técnicas, com as mesmas modalidades, realmente não é fácil. E aí a essa altura do campeonato essas obras também já viraram obras antigas que fazem parte dos museus, né?

 

[Leticia] Eu acho que sim, né, porque tem uma história interessante por trás…

 

[Patrizia] Elas têm uma história por trás…

 

[Leticia] Pois é… E quando é o contrário que acontece, tipo, encontram um quadro que ninguém esperava, como aconteceu essa semana, saiu dias atrás a notícia de um, o que era, um Magritte? Não lembro mais. Um quadro que foi encontrado durante uma faxina, sei lá, era um…

 

[Patrizia] Então, eu lembro que saiu há pouco tempo a notícia de um Cimabue que foi encontrado na cozinha…

 

[Leticia] Não, essa eu não… Essa eu não tinha visto, tô mais chocada ainda! (risos) Oooh um Cimabue!!!

 

[Patrizia] Na França, na casa de um senhor, na roça, foi encontrado esse pequeno, essa pequena pintura de Cimabue, que ele guardava na cozinha, e depois foi avaliada em tipo 24 milhões de euros, uma coisa inacreditável…

 

[Leticia] E quando acontece algo assim, como se faz? Tipo, essa, esse quadro, essa obra, é desse senhor, ou tem, eu imagino que mude de país pra país, de repente tem uma lei que obriga quem encontra certas obras a ceder pros museus ou pro governo ou sei lá, não sei. Como funciona?

 

[Patrizia] Bom, depende, nesse caso também depende do país. Cada país tem regras diferentes. Na Itália, por exemplo, pode acontecer muito frequentemente com achados arqueológicos…

 

[Leticia] Ah sim.

 

[Patrizia] Porque de repente, sei lá, um camponês vai arar o seu terreno e do nada acha uma necrópolis. Pode acontecer. Aí se chama “encontro fortuito”, ele deve chamar a superintendência, ou seja, o órgão de tutela, e aqueles objetos, como tudo o que é encontrado na Itália embaixo da terra pertence ao Estado…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …aqueles objetos devem passar pra propriedade do Estado. Mas o Estado reembolsa em parte…

 

[Leticia] Ah ok.

 

[Patrizia] o valor do objeto ao proprietário. Se uma pessoa dá a sorte de encontrar, sei lá, um Cimabue em casa, ela não é obrigada a comunicar nada. Vai poder escolher entre ficar com ele ou vender.

 

[Leticia] Aaaah entendi…

 

[Patrizia] Mas na hora em que você tenta vender, aí o Estado pode intervir, pedindo o direito de prelação. Isso também aconteceu com o Cimabue da França, porque a França decidiu que o Cimabue não vai mais sair de lá, vai virar patrimônio nacional, então o Estado vai comprar a um preço mais baixo, obviamente. Mas o senhorzinho que encontrou o quadro tá com a aposentadoria mais que garantida.

 

[Leticia] Caramba! Eu sempre me pergunto que histórias têm essas coisas, sabe, como o quadro foi parar ali, que percurso estranho ele deve ter feito pra acabar na cozinha de um camponês que não sabe o que era e de repente até ia jogar fora se tivesse que se mudar, sei lá…

 

[Patrizia] Aí é realmente muito difícil imaginar como aquele Cimabue chegou ali. Dificilmente ele tá ali desde o século XIV.

 

[Risos]

 

[Patrizia] Esse… No caso de obras assim pequenas, que com certeza fazem parte de uma obra maior, as possibilidades são numerosíssimas, muitas obras também foram confiscadas durante a Guerra…

 

[Leticia] Aaaaah sim, putz, também tem isso…

 

[Patrizia] Também tem isso, e não tem como saber se de repente um soldado… Pegou partes da pintura naquela confusão absoluta que rolava naquele momento, e botou na mochila…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …e levou embora pra outro lugar. Não sei. Esse é um trabalho que tá sendo feito agora, principalmente com relação às coleções hebraicas…

 

[Leticia] Ah, interessante, devem aparecer umas histórias fantásticas, não?

 

[Patrizia] Pois é, porque muitas famílias denunciaram ao longo dos anos a perda ou o furto das suas próprias coleções, que foram ou confiscadas por causa das leis raciais, ou perdidas porque as famílias precisaram abandonar suas casas e tudo o que tinha dentro sumiu, e agora estão tentando trabalhar pra recuperar essas, essas obras. Não só as coleções alemãs.

 

[Leticia] Ah, saquei.

 

[Patrizia] Nas americanas e nas europeias também, tem advogados que estão trabalhando com essas famílias pra recuperar os objetos, se for descoberto que os bens deles foram parar em museus.

 

[Leticia] Caramba… Imagina quanto tempo já passou e quantas coisas ainda precisamos entender, descobrir… Cacete, que trabalho infinito que vai dar…

 

[Patrizia] Porque muitas vezes essas famílias no início não falaram nada. Precisaram elaborar muito o trauma…

 

[Leticia] Compreensivelmente.

 

[Patrizia] Então são coisas que quem falou foram os netos, sabe. 

 

[Leticia] Saquei.

 

[Patrizia] …mais do que eles mesmos. Em muitos casos atrás das pinturas tinham etiquetas ou carimbos, e graças a eles podem ser recuperadas. Mas não é fácil, sabe, recentemente foram feitas exposições de obras confiscadas, principalmente em países da área germânica…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] E se está trabalhando nesse momento nesse temas..

 

[Leticia] Hm. Essa dificuldade de rastrear a origem das obras, eu lembro… Eu fiz dois anos de Comunicação Internacional aqui em Perugia muitos anos atrás, antes que… Antes da minha filha nascer, e eu fiz História da Máfia, que era uma das matérias. E a professora dizia que essa dificuldade de determinar a origem dos objetos e das obras torna muito apetitoso como forma de investimento, sabe, essa coisa da arte. Porque é muito fácil, você, sei lá, tem, compra um móvel antigo, pra lavar seu dinheiro ganho ilegalmente, e compra esse móvel antigo, muito, de muito valor, qualquer um pode chegar e dizer ‘olha, herdei esse móvel do meu bisavô’, porque ninguém nunca vai conseguir provar o contrário, né.

 

[Patrizia] Isso.

 

[Leticia] Então tem todo esse lance da dificuldade e tal que no fim das contas torna possível esse tipo de coisa. Isso ainda acontece muito? Quer dizer, a máfia, e eu tô falando da máfia porque pensei nisso agora, mas ainda se faz esse tipo de investimento porque é fácil de, tipo, enganar o governo e tudo o mais?

 

[Patrizia] A máfia… Sim, sim e não, eu não tô muito bem informada do lance da máfia, não, digamos que o furto mais famoso ligado à máfia é o caso do Caravaggio de Palermo.

 

[Leticia] Ai, sim, sim! A gente botou o link pra essa notícia na… Na pauta, porque é uma história sensacional.

 

[Patrizia] Essa é uma história sensacional, mas digamos que aqui a gente sabe que a máfia estava envolvida. Em termos de aquisição de bens, sim, é provável que eles também sejam considerados interessantes, e quanto mais desaparece, digamos, o local de origem, mais valor eles têm. Por exemplo, agora tão sendo muito procurados no mercado tudo o que possa vir de Palmira.

 

[Leticia] Aaaaaaaah sim, faz sentido…

 

[Patrizia] Porque muito provavelmente, parece que sim, tá, mas nada certo, mas por exemplo, parece que todos os alto-relevos dos templos que depois foram destruídos não foram destruídos junto com os templos, mas foram tirados pra revender…

 

[Leticia] O quê!

 

[Patrizia] …pra financiar a compra de armas.

 

[Leticia] WHAT!!! 

 

[Patrizia] Então o templo teria sido destruído pra encobrir isso.

 

[Leticia] Que plot twist!

 

[Patrizia] Exato! Pra não deixar ver os buracos que ficaram, o templo foi destruído. Parece que mais por isso do que por vontade de destruir o patrimônio.

 

[Leticia] Cara…

 

[Patrizia] O que na verdade é uma coisa que atinge muito a gente no Ocidente…

 

[Leticia] Caramba, sim, é doloridíssimo de ver. Tô ouvindo o barulho de novo, Patrizia.

 

[Patrizia] Com certeza sou eu com o dedo segurando o computador.

 

[Leticia] Sim, é doloridíssimo de ver, né, como os Budas no Afeganistão, que são coisas que dão um aperto no coração.

 

[Patrizia] Mas os Budas foram destruídos por outros motivos, né. Aqui parece que pra encobrir esse tráfico. Esse tráfico ilegal, que é uma das principais fontes de financiamento do terrorismo.

 

[Leticia] Olha só, não sabia disso… Caramba, tô aprendendo um monte de coisas, essas são as entrevistas que eu amo, aprendo um monte de coisas que eu não conhecia. Vou fazer duas perguntas no nome do meu colega e depois te libero. Ele tinha falado da morte do Roger Scruton, não sei como se pronuncia esse sobrenome, na verdade. Que era um estudioso de estética…

 

[Patrizia] Filósofo também.

 

[Leticia] Sim, filósofo, apreciava a estética mais clássica…

 

[Patrizia] Um conservador…

 

[Leticia] Sim, um conservador, enfim, um chatonildo que achava feio tudo o que não era clássico, né. Como são esses, esses padrões de beleza ao longo do tempo, essas mudanças? É uma coisa espontânea, orgânica, ou tem uma determinação das camadas mais… Das elites, ou dos especialistas… Como funciona?

 

[Patrizia] A crítica certamente condicionou o gosto na arte, em alguns momentos certos artistas foram apreciados e outros não. Vou usar como exemplo o próprio Caravaggio. No século XVIII ele já não era mais considerado um artista importante, não era um artista apreciado, porque os padrões estéticos que eram impostos eram os do neoclassicismo…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Então uma pintura que se inspira no ideal estético clássico naturalmente não pode apreciar um naturalismo tão real quanto o das obras do Caravaggio. Então o Caravaggio começou a não ser tão apreciado, tanto que mesmo quando foram feitas as campanhas napoleônicas confiscando obras de arte, que são consideradas um dos furtos mais famosos, embora furto seja a palavra errada…

 

[Leticia] Sim, hehehe…

 

[Patrizia] …campanhas feitas na Itália, o Caravaggio não era tãaao levado em consideração. As obras de arte que eram confiscadas eram as do Renascimento e do período Clássico.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Então Guido Reni, Carracci, sei lá, esses artistas, e não o naturalismo, era o que agradava. O fenômeno da redescoberta começou no século XX, principalmente com Roberto Longhi, depois uma mostra em 1951, quando o Caravaggio foi redescoberto e se tornou o que é hoje.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Porque senão ele não era considerado, enfim, não agradava, são padrões de… de gosto. Imagina quando foram feitos… Quando começou a aventura da arte dos impressionistas, nos Salões de 1863, por exemplo, O Almoço na Relva foi reprovado.

 

[Leticia] Imagino, uma ruptura assim…

 

[Patrizia] Foi redescoberto depois. Há uma crítica, digamos, uma corrente crítica, que aprecia um tipo de arte em vez de outra, e assim determina a sorte ou não. Pensa no ideal estético clássico que Hitler tinha.

 

[Leticia] Sim.

 

[Patrizia] E depois na Mostra de Arte Degenerada de 1937. Que ele opôs à Mostra de Arte Alemã…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …mostrando como a arte alemã que se inspirava nos ideais clássicos era aquela que devia ser levada em consideração, enquanto que a outra deveria ser destruída, porque os pintores usavam um padrão estético, um modo de pintar…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …que não era apreciado por aquele tipo de estética que ele queria promover, isso sem contar o fato de que também tinha todo o lance racial e tudo o que era ligado ao povo judeu, mas ele não gostava mesmo daqueles tipos de obras, elas não eram incluídas no ideal que queria refletir o classicismo, o estilo grego, a pureza, a perfeição das formas, que era propagandeado naquele momento.

 

[Leticia] Entendi.

 

[Patrizia] Então em nome desse ideal clássico é possível fazer abominações, enfim.

 

[Leticia] Sim, putz, sim, sim. E isso tá de acordo com o que a gente ouviu entre ontem e hoje aqui no Brasil, quer dizer, lá no Brasil, não sei se você viu, eu sei que apareceu, começou a aparecer nos jornais estrangeiros, do secretário da cultura que fez um, um discurso absolutamente abominável, falando exatamente, usando frases inteiras de Goebbels, falando exatamente…

 

[Patrizia] Não acredito…

 

[Leticia] Sim, uma coisa inacreditável, ‘arte pura, verdadeira, ou então não haverá nada’, coisas desse tipo, com uma estética muito nazista, uma cruz em cima da mesa e Wagner tocando no fundo, então ele defende a brasileira como se ela, como se a cultura brasileira fosse uma coisa europeia, o que obviamente é uma idiotice, e desprezando toda, tudo o que os africanos e povos originários trouxeram ao Brasil, e ao mesmo tempo ele se declara muito patriota, muito nacionalista, mas bota esse Wagner no fundo, que não tem porra nenhuma a ver. Então é toda uma imbecilidade que por acaso tem tudo a ver com essa pergunta que o meu colega tinha feito dias atrás. No fim das contas, tamos aqui.

 

[Patrizia] Assustador, porque tudo o que fala do belo, ou seja, o belo como ideal, como estética,

 

[Leticia] Sim.

 

[Patrizia] Aquilo que não é belo se torna feio, e o que é feio pode ser destruído, e isso é uma coisa realmente horrível!

 

[Leticia] Sim.

 

[Patrizia] Enquanto que aqui, por exemplo, estamos tentando ler com outros olhos, nos esforçar pra ler com outros olhos um tipo de cultura que não é a nossa, exatamente pra encontrar a função natural de certos objetos, eu tô pensando no que você disse sobre a arte africana, ou seja, obras que vieram de museus dedicados à arte colonial, ou à arte africana, estamos tentando restituir esse valor cultural, simbólico, religioso, dos objetos, pra além da estética…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Me parece que o discurso do presidente do Brasil é o oposto…

 

[Leticia] Nem me fala, só tem idiota no governo dele, começando por ele mesmo, que é um imbecil. O cara já foi mandado embora, acho, depois de uma manifestação da embaixada alemã em Brasília porque né, cê não pode deixar uma coisa assim passar, né? Houve houve manifestações várias contra essa coisa inacreditável e o cara foi mandado embora, mas certamente vai entrar alguém pior ainda no lugar dele, porque é isso que vem acontecendo nesse último ano, infelizmente.

 

[Patrizia] Poxa, espero que não!

 

[Leticia] Um negócio pavoroso. Mas ainda falando de governos péssimos, vou fazer a última pergunta, do meu colega também: vamos falar desse desconforto que a arte causa. Por que tem um tipo de arte que incomoda tanto certos governos, ou certas correntes de pensamento político? Por que existe esse… Esse ódio aparentemente gratuito, embora a gente saiba que gratuito não é, mas por que esse ódio contra certos modos de fazer arte, esse considerar arte o que você gosta e não-arte o que você não gosta? E existe nos museus que você conhece, ou com os quais você tem mais contato, onde você conhece gente que trabalha, sei lá, existe alguma obra que você goste que quando foi feita ou exibida causou polêmica e virou O assunto?

 

[Patrizia] Sim, mas depende da polêmica, vou te dar um exemplo famoso da Itália. Quando a diretora da Galeria Nacional de Arte Moderna de Roma, a Palma Bucarelli, comprou obras de Burri…

 

[Leticia] Ah sim…

 

[Patrizia] Foram feitas críticas inclusive pelo próprio governo, porque foram usados fundos públicos…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …naquele caso, porque era um museu nacional, pra adquirir obras de arte que não eram bonitas. Que não eram consideradas bonitas. Ou imagina o caso do Manzoni, o famoso… a lata com merda de artista…

 

[Leticia] Sim, sim!

 

[Patrizia] Porque continha excrementos, e por sinal nem se sabia se realmente…

 

[Leticia] Exato, exatamente, o mistério faz parte da coisa…

 

[Patrizia] Naquele caso sim, em termos de obras politicamente, digamos, perigosas, eu não tenho grandes exemplos na Itália. Mas artistas podem ser perigosos.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Então tem o exemplo do Ai Wei Wei na China…

 

[Leticia] Sim, sim… Que a gente adora, vimos uma mostra em Belo Horizonte ano passado… Teve um evento de podcasts nesse outro estado… Eu moro em um estado do sul do Brasil, embora eu seja do Rio, e o meu colega moro em outro estado também no sul, e fomos a esse outro estado pra um evento de podcasts. Por sorte pegamos o último dia da mostra do Ai Wei Wei em um centro cultural que por sorte ficava pertinho do local onde rolava o evento, então a gente viu com pressa, mas viu. E são coisas fantásticas, a gente entende o motivo de toda a polêmica e por que ele foi preso, e tal.

 

[Patrizia] Exato. Exato. Ele como ativista dos direitos humanos, obviamente foi censurado, foi preso, sabe, por muitos anos ele ficou sem passaporte…

 

[Leticia] Sim.

 

[Patrizia] E aí nesse caso é mais ligado à figura dele que… que a outras coisas. Mas por exemplo existem leituras de histórias que são definidas controversas dentro dos museus, que por exemplo nos Estados Unidos estão dando muito o que falar.

 

[Leticia] Hm.

 

[Patrizia] Com relação, por exemplo, a alguns museus que expõem retratos de pessoas ligadas ao período no qual ainda havia escravidão.

 

[Leticia] Ah tá.

 

[Patrizia] Então ali eles dizem, bom, foi feito o retrato dessa mulher elegante, com essas roupas e tal, mas ela só podia viver assim porque tinha escravos…

 

[Leticia] Só porque tinha…

 

[Patrizia] Então tem legendas que tentam explicar esses aspectos. E o mesmo também aconteceu na Holanda, com exposições onde de repente junto de vasos preciosos também colocam correntes…

 

[Leticia] Aaaah ok…

 

[Patrizia] …usadas pelos escravos, dentro da mesma vitrine, pra mostrar que sim, tinha alguém com dinheiro pra comprar aquele vaso, mas esse alguém era servido por escravos.

 

[Leticia] Entendi.

 

[Patrizia] Ou nos Estados Unidos, agora existem objetos que se referem, por exemplo, à Ku Klux Klan, e de repente dentro do berço do bebê, branco, na mostra, colocam a clássica túnica da KKK, pra mostrar como a população, nesse caso a afro-americana, sofreu nos anos 60 esse tipo de afronta.  

 

[Leticia] Bom, aí você entra num lance de ética bem complexo, né? Porque cê faz o quê, finge que essas coisas nunca aconteceram, ou cancela completamente um artista porque ele participou disso ou daquilo, enfim, não é, não são escolhas simples, não, eu entendo…

 

[Patrizia] Não, não são escolhas fáceis, até porque em alguns casos a gente sabe, muitos artistas na época foram acusados… Gauguin, disseram dele que era pedófilo…

 

[Leticia] Uhum. Sim, sim.

 

[Patrizia] Então, você não leva mais a arte dele em consideração porque TALVEZ ele fosse pedófilo? E nesse caso nem temos provas… É realmente muito difícil falar desses temas, mas são assuntos dos quais a gente agora precisa falar, porque os museus tão cada vez mais envolvidos inclusive socialmente, e não só sob o perfil estético, mas são lugares que devem iniciar discussões. Devem levar a comunidade a refletir sobre os problemas contemporâneos, a se interrogar e também a fazer com que a sua própria voz seja ouvida.

 

[Leticia] Sim, sim, é verdade, são discussões que precisam ser feitas, principalmente nos tempos atuais; talvez a gente não tenha tido essas conversas antes, e agora tá tudo, tá tudo caindo nas nossas cabeças e estamos na merda. Talvez se esses debates tivessem sido um pouco mais frequentes no passado a gente não estaria na nossa situação atual, mas é impossível prever, então a gente faz o que pode.

 

[Patrizia] Agora no Hermitage em Amsterdã tem uma exposição linda sobre retratos do século de ouro da Holanda. E tem todos esses personagens, naturalmente usando roupas de gente de uma certa classe social, e são todos brancos. Então foi feita uma ação de ativismo pra redescobrir também as pessoas de cor que naquele período tinham dinheiro pra mandar fazer retratos. Mas que não eram retratadas. Então pegaram pessoas negras que posaram usando aquelas roupas, e foram pintados pra recriar as histórias dessas pessoas que foram…

 

[Leticia] Fantástico!

 

[Patrizia] E é muito interessante, porque começamos a ver que talvez não fosse tudo assim como a gente imaginava ou como contaram pra gente, a história não é branca ou preta, tem muitos outros tons intermediários que é preciso que a gente conheça porque as nossas sociedades tão cada vez mais, e eu tô falando da Europa, multiétnicas, precisamos conviver nelas e não pensar que seja um fenômeno atual, porque ele sempre ocorreu.

 

[Leticia] Sim, o ser humano nunca parou quieto, né?

 

[Patrizia] Exatamente, precisamos aprender que somos filhos dessas migrações, e então é necessário olhar pra elas com olhos mais abertos.

 

[Leticia] Ótimo.

 

[Patrizia] Isso pode ajudar a incluir esses novos cidadãos na vida cultural, serve pra gente também, enfim.

 

[Leticia] Sim sim. Perfeito. Ah, tô feliz, aprendi um monte de coisas. Agora vou transcrever tudo, traduzir tudo… Escuta, MUITO obrigada, eu sei que foi uma zona..

 

[Patrizia] Imagina!

 

[Leticia] É tudo culpa da Tim. Vamos tomar um café um dia desses?

 

[Patrizia] Claro!

 

[Leticia] Eu vou ficar na Úmbria, aqui na Itália, até 5 de fevereiro, depois volto pro Brasil e só apareço aqui de novo em julho…

 

Transcrição em italiano do episódio 051 EXTRA – Entrevista com Patrizia Dragoni, professora da Università di Macerata, Itália

Tempo de leitura: 20 minutos

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[Leticia] Allora, innanzitutto noi di solito cominciamo chiedendo agli invitati di presentarsi, così sappiamo, insomma, chi ci ascolta capisce per quale motivo vi abbiamo invitati, insomma. Che cosa fai, dove ti trovi, come ci sei arrivata, qual’è la tua specialità, cose di questo tipo. Una presentazione veloce.

 

[Patrizia] Sì, niente, io insegno Museologia all’Università di Macerata, dove mi occupo appunto sia di Storia dei Musei che di gestione dei musei.

 

[Leticia] Ah, ho capito. Che cosa hai studiato, insomma, per arrivare lì a lavorare con questo?

 

[Patrizia] Allora, io sono laureata in Lettere con indirizzo Storico-Artistico…

 

[Leticia] Oh!

 

[Patrizia] Poi ho conseguito una specializzazione in didattica generale e museale, poi niente, praticamente mi sono trovata così all’università prima come assegnista di ricerca, poi come ricercatore, adesso sono professore associato, ma mi sono anche occupata di musei internamente, perché ho collaborato molti anni con la Regione dell’Umbria e quindi mi sono occupata proprio di tutto il lavoro di back office.

 

[Leticia] Ah, ok, quindi i dietro le quinte, insomma, lo conosci bene…

 

[Patrizia] Ho scritto cataloghi, organizzato mostre, scritto guide brevi, dépliant ecc.

 

[Leticia] Fantastico. Noi con l’altra invitata abbiamo parlato di tutta un’altra parte della cosa, quindi abbiamo parlato di storie, di gossip, di storie nel senso di aneddoti, cose di questo tipo. Però siccome quest’altra persona non lavora direttamente con questo, è una ricercatrice ma la formazione sua è tutta un’altra cosa, siamo rimasti un po’ curiosi per quanto riguarda la parte di come appunto funziona un museo, no. Abbiamo parlato di furti, di quadri, di cose di questo tipo, di falsi… E prima di tutto, visto che chi ci ascolta probabilmente non ha idea di come funzioni un museo: come funziona la cosa? Nel senso, chi è che sceglie quali sono le opere che vanno in esibizione, quali rimangono, insomma, in un caveau, i prestiti fra musei come vengono fatti, chi decide quale mostra fare, quali opere selezionare, come funziona questa cosa?

 

[Patrizia] Allora, parliamo in generale, un po’, perché poi i musei sono diversi…

 

[Leticia] Sì sì.

 

[Patrizia] Generalmente chi decide che cosa viene esposto e che cosa non viene esposto è il responsabile, diciamo così, del museo. Un curatore, laddove c’è, perché sai, in Italia le figure legate alla professione museale sono un po’ particolari, non sempre ci sono. Cioè, dipende dai musei statali, musei civici, però, parliamo di un grande museo dove diciamo che c’è un direttore, un conservatore. In quel caso la scelta viene fatta da loro, quando viene modificato un allestimento. Quindi si decide che cosa deve essere esposto e che cosa invece si può mantenere all’interno dei depositi sulla base della storia che si vuole raccontare attraverso il museo. Quindi è una scelta critica molto precisa, perché poi decidere che cosa vuoi esporre invece che cosa vuoi non esporre sicuramente cambia un po’ la percezione del racconto delle opere che tu vuoi dare.

 

[Leticia] Hmmm. Sì sì. 

 

[Patrizia] E niente, poi per quanto riguarda i prestiti, quelli sono diversi, perché riguarda le esposizioni. Quindi una mostra che generalmente ha un tema specifico, il museo che richiede il prestito a seconda della mostra ha fatto un suo piano di opere che vuole portare in mostra, fa una richiesta con delle apposite schede al museo al quale vuole richiedere l’opera, che poi può o meno prestargliela, a seconda di varie componenti. 

 

[Leticia] Hm.

 

[Patrizia] Cioè, decide, per esempio, che la presta perché quella mostra ha una importanza scientifica che merita il prestito della mostra.

 

[Leticia] Ok.

 

[Patrizia] Eh, perché i curatori sono prestigiosi, perché il museo in cui l’opera andrà è molto prestigioso, perché in quel modo l’opera acquista una visibilità maggiore, oppure può decidere al contrario di non prestarla perché non ritiene importante la mostra o perché l’opera è fragile e non può viaggiare. Per esempio, ci sono degli inserti in pastiglia, che è una tipologia particolare di stucco dorato che è molto fragile, e quindi potrebbe staccarsi con la movimentazione. Oppure l’opera ha bisogno di essere esposta con dei criteri particolari per quanto riguarda l’umidità, per quanto riguarda la temperatura, quindi c’è bisogno di parametri che devono essere mantenuti uguali…

 

[Leticia] Ho capito.

 

[Patrizia] …nel suo luogo di partenza e nel luogo di arrivo, allora può decidere di non prestarla, ma queste sono tutte operazioni che dipendono ovviamente dai responsabili del museo.

 

[Leticia] Ho capito. Sento un rumore, eh, cioè, il microfono, sta sbattendo contro qualcosa, non lo so…

 

[Patrizia] Ecco qua. Lo senti ancora?

 

[Leticia] Sì. Sì sì. Ok. Poi una cosa, no, che visto che abbiamo parlato dei furti, e ce ne… ce ne stanno svariati, no, e magari uno pensa che è una roba da film, e invece guardiamo in televisione e vediamo che non è una cosa così, eh, incomune; capita, è capitato quest’anno, no, guardavo la notizia in televisione mentre aspettavo l’aereo per venire in Bras… per venire in Italia, e ho visto appunto una notizia di questo quadro che è stato rubato, questo tizio è uscito proprio sulla porta principale, dalla porta principale… Com’è possibile che queste cose ancora succedano, cioè, cosa c’è che non va quando succede una cosa del genere? Magari va bene, questa storia in particolare era qualcuno che lavorava dentro il museo, e quindi mi rendo conto che ovviamente uno che ci lavora sa come fare, no, se deve scappare rubando qualcosa lo fa perché lo sa. Ma per chi non… Per i casi dove non è quello, è qualcun altro da fuori, e ha preso un quadro e l’ha portato via, che succede?

 

[Patrizia] Eh, beh, anche questo è difficile, perché generalmente i furti avvengono quando il museo è chiuso. E’ un po’ più facile in quel caso, perché anche se i sistemi d’allarme sono inseriti, molto spesso diciamo che i ladri conoscono i sistemi d’allarme e riescono a penetrare attraverso particolari vie d’accesso, che possono essere per esempio l’ingresso per il personale delle pulizie…

 

[Leticia] Ok.

 

[Patrizia] Ingressi di servizio… C’è spesso anche in alcuni casi, come dire, un po’ il supporto di qualcuno che lavora all’interno dei musei, che magari può avere fornito delle informazioni.

 

[Leticia] E queste cose, queste opere rubate dove vanno? Cioè chi, sono furti commissionati, qualcuno li ha ordinati, hanno un destino, una destinazione già precisa quando uno li ruba, che ne so, dove vanno a finire di solito questi?

 

[Patrizia] Nel caso del museo, spesso possono essere dei furti su commissione, perché le opere sono talmente note, talmente conosciute e catalogate che è difficile rivenderle sul mercato antiquario. 

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Generalmente gli antiquari devono avere, almeno in Italia, devono avere poi elenchi delle opere rubate che vengono pubblicati ogni anno dalla, dai Carabinieri, per la Tutela dei Beni Culturali. C’è un nucleo speciale dei Carabinieri che si occupa della tutela dei beni culturali, un nucleo che è nato nel 1969, è uno dei più antichi che esistono per questi aspetti, e che pubblica ogni anno l’elenco di opere rubate. Tutti gli antiquari devono averlo, perché se poi commercializzassero una di quelle opere, sarebbero naturalmente passibili di sanzioni penali.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Quindi quando le opere vengono rubate, specialmente le opere che si trovano nei musei, diciamo che c’è una committenza, quindi sono più che altro furti su commissioni. Sarebbe difficile rivendere, che so, Raffaello…

 

[Leticia] Sì. Quindi sarebbe un collezionista, qualcuno che veramente ha questo sogno di possedere un’opera così, insomma.

 

[Patrizia] Sì, generalmente, che poi ci sia il gesto della persona così pazza, ci può anche stare, però è abbastanza difficile, quello potrebbe accadere nel caso dello sfregio, del danno… 

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …che si fa all’opera d’arte, poi magari può arrivare la persona che è un po’ disturbata, allora come è già successo più volte

 

[Leticia] Sì, sì sì.

 

[Patrizia] Accoltella l’opera, oppure la colpisce, però nel caso del furto, diciamo, più che altro è per questi aspetti. Se sono opere importanti, se sono piccole opere tipo piccoli paesaggi, quelle potrebbero essere più appetibili sul mercato, perché è più difficile anche ritrovarle, oppure… Però sono cose che succedono di più magari nelle chiese.

 

[Leticia] Aaaaah ok.

 

[Patrizia] Nelle chiese potrebbe capitare che ci siano questi furti, perché le chiese sono aperte, naturalmente, ai fedeli…

 

[Leticia] Sì, sì sì, e insomma, tutto lo schema di sicurezza che ha un museo una chiesa naturalmente non ce l’ha, a meno che non sia una chiesa molto famosa, insomma no?

 

[Patrizia] Esatto, l’opera può essere rubata, può essere tagliata…

 

[Leticia] Ah!

 

[Patrizia] …e fatta a pezzi, perché poi i falsari riprendono questi pezzi e li inseriscono su altre tele.

 

[Leticia] Oh!

 

[Patrizia] E dall’opera grande, diciamo, ne creano altre opere diverse. A quel punto non le ritrovi, perché è molto più difficile, l’opera è stata talmente tanto modificata che poi diventa proprio difficile ritrovarla.

 

[Leticia] Questo non lo sapevo proprio. Che disastro! 

 

[Patrizia] Eh sì, generalmente fanno così per non essere scoperti e spesso utilizzano anche delle tele che sono magari antiche, in modo tale che alla prova del carbonio C14 risultano comunque antiche, anche sotto gli strumenti tecnici…

 

[Leticia] Ma porca pupazza! Io questo proprio sconoscevo totalmente!

 

[Patrizia] Eh, i falsari sono bravi, eh…

 

[Leticia] Mannaggia! E quando, per tutto il discorso dei falsari, visto che ci sei entrata tu, come, come si fa, perché abbiamo visto, io avevo colloca… messo un paio di link anche nella… Nella nostra… Insomma, nel diciamo nello script che seguiamo di solito per fare la registrazione principale, avevamo messo qualche notizia di quadri che sono di un museo in Francia, non mi ricordo esattamente quale, che ha scoperto che tipo la metà delle sue opera erano falsi. No? E come, come si fa una cosa del genere? Perché io capisco, e l’altra invitata ha detto la stessa cosa, che sono tanti esperti, è una cosa soggettiva in realtà, no, perché non hai il modo di provare, soprattutto se un falsario riesce a inserire un pezzo di opere antiche in modo da diciamo riuscire a truffare anche il carbonio 14. Però chi decide che è un falso o no, con quale frequenza si fanno queste analisi, perché magari è un quadro che è lì da tantissimi anni, a nessuno è venuto in mente di vedere, di controllare se è veramente di quel pittore, e poi a un certo punto uno va, la controlla e dice ‘guarda che questo non è suo’, ‘questo nemmeno’, ‘la metà dei tuoi quadri non sono stati dipinti da quello che dite’. Come succede tutto questo?

 

[Patrizia] Beh, come succede, generalmente potrebbe succedere nell’occasione di qualche mostra…

 

[Leticia] Guarda, sento il rumore un’altra volta.

 

[Patrizia] Ah ecco, può darsi che sono io con il dito, eh…

 

[Leticia] Può darsi.

 

[Patrizia] Potrebbe capitare proprio in occasione di qualche mostra, quando le opere d’arte sono sottoposte a delle indagini. Magari perché bisogna fare il restauro, perché bisogna fare qualche azione particolare, e allora potrebbe capitare che si scopre che magari la vernice o qualche elemento che c’è nelle vernici non è contemporaneo alle tele. 

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Eh, oppure non è… Non è proprio… Così … Legato anche ai restauri, cioè sono stati utilizzati dei materiali che a quei tempi non c’erano.

 

[Leticia] Ah, ho capito. Guarda…

 

[Patrizia] E questo potrebbe essere un motivo, oppure si fa qualche riscontro con altre opere, però determinare che cos’è un falso veramente non è facile.

 

[Leticia] Ci credo! Soprattutto se arrivano a questo raffinamento, a questo livello di sforzo, insomma, per farlo passare per vero, non sarà una cosa facile per niente…

 

[Patrizia] Ci sono stati dei falsari nella storia che hanno venduto moltissime opere ai collezionisti e poi sono finite all’interno dei musei, proprio perché erano degli artigiani, erano degli artisti veri e propri, e sapevano realizzare delle opere con le stesse tecniche, con le stesse modalità, effettivamente non è, non è facile. E poi a quel punto anche quelle sono ormai opere antiche entrate a far parte dei musei, no?

 

[Leticia] Eh, penso di sì, no, hanno una storia interessante dietro, quindi…

 

[Patrizia] Hanno una storia dietro anche quelle…

 

[Leticia] Sì, per forza… E quando invece è il contrario, nel senso che trovano un quadro che nessuno se l’aspettava, com’è uscito questa settimana adesso, giorni fa, questa notizia di un, che era, un Magritte? Non mi ricordo chi. Un quadro che è stato trovato mentre si puliva qualcosa e l’hanno trovato, era un…

 

[Patrizia] Allora, mi ricordo che è uscito da poco la notizia di un Cimabue che è stato trovato nella cucina…

 

[Leticia] No, questa l’ho… Questa non l’avevo sentita, sono ancora più scioccata (risate)! Oh! Un Cimabue!

 

[Patrizia] In Francia, in casa di un signore in campagna, è stato ritrovato questo piccolo, questa piccola tavola di Cimabue, che lui teneva in cucina, praticamente, e poi è stata quotata a tipo 24 milioni di euro, una cosa incredibile…

 

[Leticia] E quando succede così, che si fa? Cioè, questa, questo quadro, quest’opera, è del signore, c’è, immagino che cambi da paese a paese, che magari c’è una legge che obbliga chi trova certe opere a cederle ai musei o al governo o a quello che è, non lo so. Come funziona?

 

[Patrizia] Eh, dipende, anche il questo caso, sì, dipende dai paesi. Ci sono regole diverse a seconda dei paesi. In Italia, per esempio, può succedere molto spesso con i reperti archeologici…

 

[Leticia] Sì sì.

 

[Patrizia] Perché magari ecco, cioè, un contadino scava nel suo terreno e casualmente trova una necropoli. Può succedere. E lì si chiama proprio “rinvenimento fortuito”, dovrebbe chiamare la soprintendenza, quindi l’apposito ente di tutela, e quegli oggetti, siccome tutto quello che viene rinvenuto in Italia sotto il suolo appartiene allo Stato…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …quegli oggetti poi dovrebbero diventare di proprietà statale. Però lo Stato rimborsa in parte…

 

[Leticia] Ah ok.

 

[Patrizia] Nella quotazione dell’oggetto il proprietario. Se la persona che trova a casa sua fortunatamente un Cimabue, per dirti, non è tenuto a comunicarlo. Diciamo che troverà o a tenerlo oppure a venderlo.

 

[Leticia] Aaaah ho capito…

 

[Patrizia] Però nel momento in cui provi a venderlo, lì può intervenire lo Stato, che chiede il diritto di prelazione. Questo è successo anche con il Cimabue della Francia, perché la Francia ha deciso di non farlo più uscire, ma farlo diventare patrimonio nazionale, quindi lo comprerà sicuramente a un prezzo più basso. Però il signore che l’ha trovato diciamo che si è assicurato la pensione…

 

[Leticia] Embeh certo! Io mi chiedo sempre che storie hanno queste cose, no, com’è andato a finire di lì, che percorso strano avrà fatto per finire in una cucina di un contadino che non sa che cos’era e magari l’avrebbe anche buttato se si spostava o una cosa del genere, no…

 

[Patrizia] Lì veramente è tanto tanto difficile poter immaginare come sia arrivato quel pezzo di Cimabue lì. Difficile che sia rimasto lì dal Trecento. 

 

[Risate]

 

[Patrizia] Questo… Nel caso di opere così piccole che potrebbero fare parte sicuramente di un’opera più grande, le possibilità sono veramente tantissime, molte opere sono state anche requisite durante la Guerra…

 

[Leticia] Aaaaah sì, c’è anche quello, è vero…

 

[Patrizia] C’è anche questo, e non si sa se magari qualche soldato abbia… Ha preso parti di tavole nella confusione totale che c’era in quel momento, lo sia messo dentro… lo zaino…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …e l’ha portata da qualche altra parte. Non lo so. Questo è un lavoro che si sta facendo adesso, soprattutto per quanto riguarda le collezioni ebraiche…

 

[Leticia] Ah, interessante, verranno fuori delle storie fantastiche, immagino, no?

 

[Patrizia] Eh sì, perché ci sono tante famiglie che comunque hanno nel tempo denunciato la perdita oppure furto delle proprie collezioni, che sono state o requisite proprio per via delle leggi razziali, o perché loro hanno dovuto abbandonare le case, e quello che c’era dentro è andato disperso, e adesso proprio si sta cercando di lavorare proprio a recupero di queste, di queste opere. Non solo nelle collezioni tedesche.

 

[Leticia] Ah, ho capito.

 

[Patrizia] Anche in quelle americane, anche in quelle europee, ci sono proprio anche degli avvocati che si stanno occupando per conto di queste famiglie del recupero degli oggetti, nel caso in cui si scopra che qualcuno dei loro beni sia adesso dentro un museo.

 

[Leticia] Porca miseria… Pensa quanto tempo è passato e quanta roba ancora c’è da capire, da scoprire… Mamma mia, che lavoro infinito, praticamente…

 

[Patrizia] Perché poi spesso queste famiglie all’inizio non hanno parlato. Hanno dovuto elaborare molto il trauma…

 

[Leticia] Comprensibilmente.

 

[Patrizia] Quindi sono cose che sono uscite dai nipoti, magari… 

 

[Leticia] Ho capito.

 

[Patrizia] …più che da loro. In molti casi avevano dietro questi dipinti delle etichette, dei timbri, e quindi grazie a quello si riescono a recuperare. Ma non è facile, ecco, sono state fatte da poco anche delle mostre di opere requisite, prevalentemente in paesi di area germanica…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] E si sta lavorando un po’ proprio in questo momento a queste tematiche.

 

[Leticia] Hm. Questa difficoltà di rintracciare, no, l’origine delle opere, io mi ricordo… Io ho fatto due anni di Comunicazione Internazionale qui a Perugia, molti anni fa, prima di… che mia figlia nascesse, e avevo fatto anche Storia della Mafia, era una delle materie. E la professoressa ci diceva che appunto questa difficoltà in trovare l’origine degli oggetti e delle opere rende molto appetitoso come… Come forma di investimento, no? Questa cosa dell’arte. Perchè è molto facile uno, che ne so, ha un, si compra un mobile antico, appunto per ripulire i soldi, no, ottenuti in modo illegale, e si compra, si acquista questo mobile antico, molto, di molto valore, uno può perfettamente dire ‘guarda, questo l’ho ereditato da mio bisnonno’, perché nessuno sarà in grado do provare il contrario, no? 

 

[Patrizia] Sì.

 

[Leticia] E quindi c’ tutto un discorso di questa difficoltà che alla fine rende possibile anche questo tipo di cosa. Succede ancora parecchio? Cioè la mafia, e parlo della mafia in particolare perché questo mi è venuto in mente, ma ancora si fa questo tipo di investimento perché è facile diciamo di, di truffare il governo, insomma, chiunque?

 

[Patrizia] La mafia, sì, sì e no, adesso io non sono molto al dentro della questione della mafia, no, quello, il furto diciamo quello più famoso che è legato alla mafia è quello del Caravaggio di Palermo.

 

[Leticia] Sì, sì sì. Abbiamo messo a… Abbiamo messo il link per quello anche nella… Nello script perché è una storia meravigliosa.

 

[Patrizia] Questa è una storia meravigliosa, ma diciamo che qui sappiamo che la mafia è stata comunque implicata. Per quanto riguarda l’acquisto di beni, sì, è probabile che anche questi siano considerati appetibili, e più scompare, diciamo così, il luogo d’origine, più anche acquistano valore. Per esempio, adesso si sta ricercando molto sul mercato tutto quello che potrebbe provenire da Palmira.

 

[Leticia] Aaaaaaaah sì, comprensibile…

 

[Patrizia] Perché molto probabilmente, sembra, eh, niente è certo, che però, per esempio, tutti quelli che sono i rilievi dei tempi che poi sono stati distrutti non siano stati distrutti insieme al tempio, ma siano stati staccati per rivenderli…

 

[Leticia] Pensa!

 

[Patrizia] …per finanziare così l’acquisto di armi.

 

[Leticia] Pensa!!! 

 

[Patrizia] E quindi il tempio è stato stato distrutto per coprire questo.

 

[Leticia] Che plot twist!

 

[Patrizia] Esatto! Per non fare vedere il buco diciamo così della… è stato distrutto il tempo. Sembra più per questo che per volontà di distruggere il patrimonio. 

 

[Leticia] Guarda…

 

[Patrizia] Che poi è una cosa che più colpisce noi occidentali…

 

[Leticia] Sì, sì, è dolorosissimo da guardare. Sento il rumore un’altra volta, Patrizia.

 

[Patrizia] Sicuramente sono io col dito che tengo il computer.

 

[Leticia] Sì, è dolorosissimo da vedere, no, come i Buddha in Afghanistan, no, sono cose che ci fanno proprio uno strazio al cuore a vederle. 

 

[Patrizia] Però il Buddha magari è stato distrutto per altre motivazioni. Qui sembra per coprire questi traffici. Questi traffici illeciti che poi sono una delle principali fonti di finanziamento naturalmente del terrorismo.

 

[Leticia] Tu pensa, io questo non lo sapevo… Oh guarda, io sto imparando un sacco di cose, sono queste le interviste che mi piacciono, che imparo un sacco di cose che non conoscevo. Ti faccio due domande del mio collega e poi ti lascio andare. Lui aveva parlato in particolare della morte di Roger Scruton, non so come si pronuncia il suo cognome, a essere sincera. Che era uno studioso di estetica…

 

[Patrizia] Filosofo anche.

 

[Leticia] Sì, filosofo, amava l’estetica più classica…

 

[Patrizia] Un conservatore…

 

[Leticia] Sì, un conservatore, insomma, palloso, che trovava brutto tutto quello che non era classico, no? Come sono queste, questi standard di bellezza lungo il tempo, no, questi cambiamenti? E’ una cosa spontanea, organica, oppure c’è anche un dettame degli strati più… Magari l’élite, o degli esperti… Come funziona?

 

[Patrizia] La critica ha condizionato sicuramente l’apprezzamento dell’arte, per cui in certi momenti degli artisti sono stati apprezzati e in altri no. Ti faccio l’esempio proprio del solito Caravaggio. Già nel Settecento Caravaggio non viene più considerato un artista importante, o comunque un artista che piace, perché i canoni estetici che si impongono son quelli del neoclassicismo…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Quindi è una pittura che si rifà a un ideale estetico classico, naturalmente non può apprezzare un naturalismo così reale come quello delle opere di Caravaggio. Quindi Caravaggio comincia a non essere più di tanto apprezzato, tant’è che anche quando vengono compiute le campagne delle requisizioni napoleoniche in Italia, quelle che sono considerate come uno dei più famosi furti, poi furto è veramente la parola sbagliata…

 

[Leticia] Sì, hehh

 

[Patrizia] …compiuti in Italia, Caravaggio non è che viene così tanto preso in considerazione. Le opere d’arte che vengono prelevate son quelle del Rinascimento e quello del Classicismo.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Quindi Guido Reni, Carracci, che ne so, questi artisti, non il naturalismo, che non piace. E’ un fenomeno invece di riscoperta che comincia nel Novecento principalmente, con Roberto Longhi, poi una mostra nel 1951 quando Caravaggio viene assolutamente riscoperto e diventa quello che è oggi.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Altrimenti non era considerato, insomma, non piaceva, sono canoni di… di gusto. Pensa a quando per esempio vengono fatti… Comincia l’avventura dell’arte degli impressionisti, ai Salons del 1863 per esempio, Le déjeuner sur l’herbe, viene bocciato.

 

[Leticia] Eh, ci credo, una rottura così…

 

[Patrizia] Viene riscoperto dopo. C’è una critica, diciamo una corrente critica, che apprezza una tipologia d’arte più che un’altra, e quindi determina la fortuna o la sfortuna. Tu pensa solo all’ideale classico estetico che poteva avere Hitler.

 

[Leticia] Sì.

 

[Patrizia] E poi alla mostra di arte degenerata del 37. Che lui oppone alla mostra dell’arte tedesca…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …facendo vedere come appunto l’arte tedesca che si rifaceva a ideali classici fosse quella che andava presa in considerazione, mentre l’altra andava distrutta, perché i pittori utilizzavano un canone estetico, un modo di dipingere…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …che non era apprezzato appunto da quella tipologia di estetica che lui voleva promuovere, tralasciando poi il fatto che anche lì c’erano le implicazioni razziali e quindi tutto quello che veniva considerato legato al popolo ebraico, però proprio non gli piacevano quelle tipologie di opere, non venivano ricomprese in quell’ideale che voleva riflettere il classicismo, lo stile greco, la purezza, la perfezione delle forme, che appunto era quello che veniva propagandato in quel momento.

 

[Leticia] Ho capito.

 

[Patrizio] Quindi a parte di questo ideale classico si possono compiere degli abomini, ecco.

 

[Leticia] Sì, appunto, sì sì. E questo va molto d’accordo con quello che abbiamo sentito fra ieri e oggi qui in Brasile, cioè, giù in Brasile, non so se l’hai visto, so che è uscito, ha cominciato a uscire adesso nei giornali stranieri, del ministro della cultura che ha fatto una, un discorso assolutamente abominevole, parlando appunto, utilizzando proprio frasi intere di Goebbels, parlando appunto…

 

[Patrizia] Oh mamma…

 

[Leticia] Sì, una cosa tremenda dell’arte pura, vera, ‘oppure non ci sarà niente’, cose di questo tipo, con un’estetica tutta molto nazista, con una croce sopra il tavolo e con Wagner in fondo, quindi lui difendendo la cultura brasiliana come se questa, come se la cultura brasiliana fosse una cosa europea, il che ovviamente è una cazzata, e quindi disprezzando tutta, tutto ciò che ci hanno portato gli africani e gli indigeni, e allo stesso tempo mentre si dichiara molto patriota, molto nazionalista, c’è questo Wagner in fondo che non c’entra una cippa. Quindi è tutta un’idiozia che, che fortuitamente ha molto a che fare con questa domanda che mio collega aveva fatto giorni fa. Però alla fine ci risiamo. 

 

[Patrizia] Spaventoso, perché tutto quello che riguarda il bello, cioè proprio il bello come ideale, come estetica, comporta inevitabilmente che ci sia ricorso anche all’opposto. Quindi…

 

[Leticia] Sì.

 

[Patrizia] Quello che non è bello diventa brutto, quella che è brutto si può distruggere, e questo è una cosa veramente terribile!

 

[Leticia] Sì.

 

[Patrizia] Cioè mentre qui, per esempio, noi stiamo cercando di leggere con altri occhi, sforzarci a leggere con altri occhi un tipo di cultura che non è la nostra, proprio per andare incontro alla funzione naturale di certi oggetti, penso proprio a quello che citavi tu, dell’arte africana, quindi opere che provengono per esempio da musei che sono quelli dedicati all’arte coloniale, oppure all’arte africana, stiamo cercando di restituire quel valore culturale, simbolico, religioso, per cui gli oggetti avevano al di là dell’estetica…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] Mi sembra che il discorso che stia facendo il presidente del Brasile è l’opposto…

 

[Leticia] A parte che lui ha solo idioti nel suo governo, cominciando da lui stesso, che è un imbecille. E’ già stato cacciato via, penso, dopo la manifestazione dell’ambasciata tedesca a Brasilia, perché giustamente non puoi far passare una cosa del genere, no? Ci sono stati, ci sono state manifestazioni diverse contro questa cosa incredibile e quindi è stato dimesso, ma sicuramente entrerà qualcuno ancora peggio al posto suo perché questo è quello che sta succedendo da un anno ormai, purtroppo.

 

[Patrizia] Speriamo di no, dai!

 

[Leticia] E’ una cosa tremenda. Ma sempre parlando di governi pessimi, ti pongo quest’ultima domanda, sempre di mio collega: parliamo di questo scomodo dell’arte, no. Perché c’è un tipo di arte che infastidisce così tanto certi governi o certi, certe correnti di pensiero politico? Perché c’è questa… quest’odio apparentemente gratuito, sappiamo che non è gratuito, ma perché c’è quest’odio contro certi modi di fare l’arte, di considerare arte quello che ti piace e non arte quello che non ti piace? E ci sono nei musei che tu conosci o quelli dove lavori di più, insomma, dove conosci gente che ci lavora, quelli con cui hai più contato, no, c’è qualche opera in particolare che ti piace che all’epoca quando è stata fatta o quando è stata messa in mostra abbia causato qualche polemica e la gente ne ha parlato parecchio?

 

[Patrizia]Sì, dipende poi dalle polemiche, adesso ti faccio un esempio famoso per quanto riguarda l’Italia. Quando la direttrice della Galleria Nazionale d’Arte Moderna di Roma, Palma Bucarelli, acquistò le opere di Burri…

 

[Leticia] Ah sì…

 

[Patrizia] Ci furono proprio delle critiche anche da parte del governo, perché venivano spesi dei soldi pubblici…

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] …in quel caso, visto che era un museo nazionale, per acquistare delle opere d’arte che non erano belle. Che non venivano considerate belle o immagina nel caso di Manzoni, il famoso… Scatoletta con la merda d’artista…

 

[Leticia] Sì sì!

 

[Patrizia] Perché conteneva insomma escrementi e che per altro non si sapeva neanche…

 

[Leticia] Esatto, esattamente, il mistero fa parte della cosa…

 

[Patrizia] In quel caso sì, per quanto riguarda opere politicamente, diciamo, pericolose, non ho grandi esempi per quanto riguarda l’Italia. Possono essere pericolosi gli artisti.

 

[Leticia] Uhum.

 

[Patrizia] E allora magari ti faccio l’esempio in Cina di Ai Wei Wei…

 

[Leticia] Sì sì… Che ci piace tanto, abbiamo visto una mostra a Belo Horizonte l’anno scorso… C’è stato un evento di podcast in quest’altro stato… Io abito in uno stato del sud del Brasile adesso, anche se sono di Rio, questo collega mio in un altro stato ma sempre del sud, e noi eravamo andati in questo stato per un evento dei podcast, e tanto bene abbiamo chiappato l’ultimo giorni della mostra di Wei Wei in un centro culturale che per fortuna stava proprio a due passi da dov’era l’esempio, quindi anche se l’abbiamo visto di fretta, l’abbiamo visto. E sono cose fantastiche, e ci sono, uno capisce perché tutta la polemica e perché lui è stato arrestato, insomma.

 

[Patrizia] Esatto. Esatto. Lui come attivista per i diritti umani, naturalmente viene censurato, è stato in prigione, no, sai, che poi per tanti anni non ha potuto riavere il passaporto…

 

[Leticia] Sì.

 

[Patrizia] Eh, e quindi in quel caso è più legato alla sua figura che non a… che non altro. Però ci sono per esempio delle letture di storie che sono definite controverse all’interno dei musei, che per esempio adesso stanno interessando molto gli Stati Uniti.

 

[Leticia] Hm.

 

[Patrizia] E riguardano per esempio alcuni musei in cui sono esposti dei ritratti di persone che sono legate al periodo in cui c’era ancora la schiavitù.

 

[Leticia] Ah sì.

 

[Patrizia] Eh allora lì si dice, ecco, però, si è fatto il ritratto di questa donna elegante, con questi abiti, ma lei poteva vivere così perchè aveva gli schiavi…

 

[Leticia] Solo…

 

[Patrizia] E quindi ci sono delle didascalie particolari che cercano di spiegare questi aspetti. E lo stesso è avvenuto anche in Olanda, con delle esposizioni accanto magari a vasellame prezioso, di catene…

 

[Leticia] Aaaah ok…

 

[Patrizia] …degli schiavi dentro la stessa teca, per fare vedere che c’era qualcuno che si poteva permettere quello però veniva servito dagli schiavi.

 

[Leticia] Ho capito.

 

[Patrizia] O in America, adesso ci sono degli oggetti che fanno riferimento per esempio al Ku Klux Klan, e magari dentro la cullina del bambino, poi bianco, ecco, sta proprio la classica tunica col cappuccio KKK, per fare vedere come la popolazione, in quel caso afroamericana, ha subito negli anni 60 questo… questo affronto.

 

[Leticia] Eh, cominci a entrare in un discorso di etica abbastanza complesso, no? Perché tu che fai, fai finta che queste cose non sono mai esistite, oppure cancelli completamente un artista perché ha partecipato a questo o quell’altro, insomma, non è, non è, non sono scelte semplici, no, mi rendo conto…

 

[Patrizia]No, non sono scelte semplici anche perché in alcuni casi noi sappiamo, tanti artisti allora sono stati accusati… Gauguin, hanno detto, a quel punto, che era pedofilo…

 

[Leticia] Uhum. Sì sì.

 

[Patrizia] Cioè, non consideri più la sua arte perché forse lo era, le prove in quel caso non ce le abbiamo… Veramente è molto difficile parlare di questi temi, però sono temi di cui è necessario adesso parlare, perché i musei sono sempre più implicati anche socialmente, non solo sotto il profilo estetico, ma sono dei luoghi che devono aprire delle discussioni. Devono portare le comunità a riflettere sui problemi contemporanei, a interrogarsi e semmai a fare sentire anche la loro voce.

 

[Leticia] Sì sì, è vero, sono discussioni che bisogna averle, no, soprattutto nei tempi che corrono, forse non abbiamo fatto queste discussioni a tempo dovuto, e quindi adesso ci torna tutto, tutto sulle capocce, e siamo messi un po’ male, magari se queste discussioni fossero un pochino più frequenti nel passato, forse non saremmo dove siamo adesso, ma non si può prevedere, quindi ecco, facciamo quello che possiamo.

 

[Patrizia] Sai adesso all’Hermitage di Amsterdam è in corso una mostra molto bella sui ritratti del secolo d’oro dell’Olanda. E ci sono tutti questi personaggi, naturalmente, con gli abiti da persone che appartengono a un certo ceto, e sono tutti bianchi. Allora è stata fatta proprio un’azione di attivismo per riscoprire anche le persone di colore che in quel periodo avevano la possibilità economica per farsi realizzare dei ritratti. Ma che non sono ritratte. Quindi alcuni uomini di colore hanno posato con quegli abiti e sono stati ritratti per andare a ricostruire le storie di queste persone che poi erano state…

 

[Leticia] Fantastico!

 

[Patrizia] E è molto interessante perché cominciamo a vedere che forse non era tutto così come noi ce lo siamo immaginati o come ce l’hanno trasmesso, la storia non è bianca o nera, ci sono tante altre sfumature che è necessario fare conoscere perché le nostre società sono sempre più, almeno io ti parlo dell’Europa, multietniche, dobbiamo conviverci e non pensare che sia un fenomeno solo attuale, ma c’è sempre stato.

 

[Leticia] L’essere umano si è spostato sempre, no?

 

[Patrizia] Esatto, dobbiamo imparare che siamo figli di queste migrazioni, e che quindi è necessario vederle un po’ con altri occhi più aperti. 

 

[Leticia] Bene.

 

[Patrizia] Questo può aiutare, insomma, proprio per includere questi nuovi cittadini anche all’interno della vita culturale, serve anche a noi, insomma.

 

[Leticia] Sì sì. Perfetto. Ah, son contenta, ho imparato un sacco di cose, adesso trascrivo tutto, traduco tutto… Ascolta, io ti ringrazio tantissimo, so che è stato un casino…

 

[Patrizia] Ma figurati!

 

[Leticia] E’ tutto colpa della Tim. Vogliamo prenderci un caffè?

 

[Patrizia] Volentieri!

 

[Leticia] Io sarò in Umbria, in Italia, fino al 5 febbraio, poi me ne torno in Brasile e torno qua solo a luglio…

 

Pistolando #051 – Tretas artísticas para todos os gostos

Tempo de leitura: 2 minutos

 

Tá achando que arte é bagunça? Se não tá, deveria, porque onde tem ser humano, tem treta. E não é pouca não: tem fofoca, tem picuinha, tem ranço, tem tráfico, tem falsificação, tem briga de egos, tem causos mirabolantes, tem roubos hollywoodianos. Quer saber mais? Ouve o nosso papo com Ari Noert, que pesquisa arte clássica e sabe TU-DO dos babados das Tartarugas Ninjas originais, e muitas outras coisas também.

 

Ficha técnica

Hosts: Leticia Dáquer e Thiago Corrêa

Convidada: Ari Noert

Edição: Thiago Corrêa

Capa: Leticia Dáquer 

Data da gravação: 10/01/2020

Data da publicação: 23/01/2020

Músicas:

  • La Rocha del Fuso (Musica renascentista italiano do séc XV)
  • Hieronymus Bosch butt music (sonorização de uma partitura encontrada na bunda de um homem em uma pintura de Bosch)
  • Las Bistecs – HDA
  • Peter Bjorn and John – Blue Period Picasso

 

Links relacionados ao episódio

Thread no Twitter sobre a Cruz de Caravaca usada no vídeo do pseudo Goebbels brasileiro.

Caravaggio

Gian Lorenzo Bernini (mais especificamente: O Êxtase de Santa Teresa D’Ávila – e não Santa Teresa de Lisieux, como mencionado no episódio, e O Rapto de Proserpina)

O David de Donatello (Wikipedia)

 A Escola de Atenas, de Raffaello Sanzio (Wikipedia)

Michelangelo, o mala sem alça (Wikipedia)

Aldo Locatelli (Wikipedia), mais especificamente 

Rinha de pintor renascentista: como foi a briga entre Michelangelo e Da Vinci que virou meme? (Rolling Stone, 18/12/2019)

7 casos surpreendentes de roubos de obras de arte (Superinteressante, 12/12/2019)

Museu francês descobre que metade de suas obras é falsa (O Globo, 28/04/2018)

Empresas ensinam como investir em obras de arte (Valor Econômico, 07/06/2019)

L’Italia è il primo paese al mondo per furti d’arte: ecco quali sono le più ricercate (L’Espresso, 20/04/2018)

Mafia, il caso del Caravaggio perduto riaperto dal pentito: “Venduto in Svizzera”. Bindi: “Indagare ancora” (Il Fatto Quotidiano, 11/02/2018)

I tesori dell’arte nelle mani della mafia (La Repubblica, 12/01/2015)

1911: “Mona Lisa” era roubada do Louvre (DW, 21/08/2018)

Um século depois, motivo do roubo da Mona Lisa é ainda um mistério (G1, 21/08/2011)

How Beltracchi, the world’s most famous art forger, plays with the market (DW, 29/08/2015)

The prolific forger whose fake ‘Old Masters’ fooled the art world (CNN, 24/10/2019)

Everything in This Museum Is Fake (Smithsonian Magazine, 13/10/2017)

Inside the Underground World of Legal Art Forgery (Architectural Digest, 09/11/2017)

 

A Balada do Pistoleiro

Ari Noert

Livro: Leonardo Da Vinci (Walter Isaacson) 

 

Leticia Dáquer

Série: Ru Paul’s Drag Race (Netflix)

 

Thiago Corrêa

Aplicativo: Daily Art

 

Jabás

Ari Noert

Twitter pessoal: @arinoert

 

Leticia Dáquer

Twitter: @pacamanca

Blog: www.pacamanca.com

Papo Cético, podcast do site Mitografias 

 

Thiago Corrêa

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Pistolando #050 – BMF edition: Tartarugo basco sob influência de drogas lícitas usa espéculo de cobalto comprado na Amazon pra dar tetinhas a trator antigo

Tempo de leitura: < 1 minuto

 

O Bom, o Mau e o Feio 

Ficha técnica

Hosts: Thiago Corrêa e Leticia Dáquer

Edição: Thiago Corrêa

Capa: Leticia Dáquer

Data da gravação: 14/01/2020

Data da publicação: 15/01/2020

 

O Bom:

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Thiago: 

 

O Mau:

Leticia:

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O Feio:

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Pistolando – BÔNUS – Brexit: vire à esquerda, com Chris Bickerton (Cambridge University) ENGLISH VERSION

Tempo de leitura: < 1 minuto

 

Para acessar a transcrição traduzida em português clique aqui

 

Para acessar a transcrição original em inglês clique aqui

Ficha técnica

 

Host: Leticia Dáquer

 

Convidado: Chris Bickerton

 

Edição: Thiago Corrêa

 

Capa: Leticia Dáquer 

 

Data da gravação: 06/01/2020

 

Data da publicação: 10/01/2020

Links relacionados ao episódio

Why the Left Should Embrace Brexit (Jacobin, 29/04/2019)

 

Brexit and the left (Social Europe, 23/07/2019)

 

Não é só a direita: por que parte da esquerda britânica apoia o Brexit? (BBC Brasil, 29/03/2017)

 

Brexit de esquerda, um caminho bastante estreito (Le Monde Diplomatique Brasil, 31/01/2019)

 

Poll of Labour members suggests Keir Starmer is first choice (The Guardian, 01/01/2020)

 

Britain’s Communist Party blames Labour’s “Stop Brexit” stance for election defeat (People’s World, 18/12/2019)

 

George Galloway on Brexit and UK’s political future (YouTube, 29/12/2019)

 

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Pistolando #049 – BÔNUS – Brexit com Chris Bickerton (Cambridge University) DUBLADO

Tempo de leitura: < 1 minuto

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Para acessar a transcrição original em inglês clique aqui

Ficha técnica

 

Host: Leticia Dáquer

 

Convidado: Chris Bickerton

 

Edição: Thiago Corrêa

 

Capa: Leticia Dáquer 

 

Data da gravação: 06/01/2020

 

Data da publicação: 10/01/2020

Links relacionados ao episódio

Why the Left Should Embrace Brexit (Jacobin, 29/04/2019)

 

Brexit and the left (Social Europe, 23/07/2019)

 

Não é só a direita: por que parte da esquerda britânica apoia o Brexit? (BBC Brasil, 29/03/2017)

 

Brexit de esquerda, um caminho bastante estreito (Le Monde Diplomatique Brasil, 31/01/2019)

 

Poll of Labour members suggests Keir Starmer is first choice (The Guardian, 01/01/2020)

 

Britain’s Communist Party blames Labour’s “Stop Brexit” stance for election defeat (People’s World, 18/12/2019)

 

George Galloway on Brexit and UK’s political future (YouTube, 29/12/2019)

 

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Leia na íntegra a transcrição do nosso episódio sobre Brexit com Chris Bickerton, da Universidade de Cambridge (EM PORTUGUÊS)

Tempo de leitura: 11 minutos

Para acessar a transcrição original em inglês clique aqui

 

Leticia Dáquer: OK. Então, olá, prazer em te conhecer, posso te chamar de Chris? 

 

Chris Bickerton: Sim, Chris tá bom.

 

Leticia: OK. Normalmente a gente começa pedindo aos nossos convidados que se apresentem aos nossos ouvintes, então se você puder dizer quem você é, onde você tá e por que nós te convidamos…

 

Chris: Bom, meu nome é Chris Bickerton, estou baseado na Universidade de Cambridge, eu ensino e trabalho e pesquiso principalmente política europeia contemporânea… E venho seguindo, acho que assim como todo mundo que tem interesse na política britânica, o processo do Brexit, ao longo dos últimos 3 anos, e eu tenho mais interesse na resposta da esquerda à integração europeia e na posição da esquerda britânica sobre o Brexit.

 

Leticia: Olha, então você é exatamente o que a gente precisava hoje.

 

Chris: Que bom.

 

Leticia: Graças a deus, graças aos céus pela Marta! Ok, então, queríamos saber, e isso vai ser curto porque ainda temos que transcrever e traduzir isso, como eu te disse, então… Depois de ver um vídeo, uma entrevista com o Galloway, e ele tava mencionando a necessidade de… de se deslocar mais pra esquerda ainda, porque o que consideramos esquerda hoje não tá funcionando. Tá muito afastada dos trabalhadores, do povo, não se comunica, não… Não consegue se colocar no lugar, ela se tornou… Ele fala de uma esquerda burguesa, que não consegue se colocar no lugar das pessoas e entender pelo que elas estão passando. Então, segundo ele, nós precisamos ir mais pra esquerda ainda. Você acha isso também? Você concorda com ele?

 

Chris:  Ah, eu acho que provavelmente é um pouco mais complicado, eu acho que… O Labour Party fez duas coisas nos últimos anos, e essas coisas estão indo em direções opostas. Então sociologicamente o partido definitivamente vem sendo dominado por eleitores bem jovens, que vivem em centros urbanos, sabe, em cidades grandes, principalmente em Londres, e em algumas das cidades universitárias do sul… Acho que um tipo de grupo de classe média, intelectual, bem jovem de eleitores, mas especialmente de membros. Mas ideologicamente o partido foi muito pra esquerda, desde que o Corbyn se tornou o líder o LP deixou pra trás muito do que nós chamávamos de New Labour, e ficou muito mais comprometido com o socialismo, pelo menos na língua dos líderes do partido, e o manifesto que eles apresentaram nas últimas… nas eleições do mês passado foi um manifesto de esquerda bem radical, empenhado com a transformação socialista. Então eu acho que o problema com o LP não é ter se tornado um partido burguês como o Galloway diz, o problema é, se você quiser ser mais específico, é que você tem esse movimento contraditório entre esse salto ideológico pra esquerda e o movimento sociológico na direção do centro.

 

Leticia: Hmmm OK. Por que você acha que isso… que a esquerda foi dominada por esse grupo de intelectuais e tal, o que aconteceu? Por que ela não tá dominada por trabalhadores e por sindicatos do jeito que deveria, talvez, de acordo com o que a gente imagina? Quando a gente pensa na esquerda, pensamos em trabalhadores, né, e o que aconteceu? Por que agora é essa espécie de elite intelectual que tá controlando as coisas?

 

Chris: Sim, eu acho que é interessante que provavelmente tem vários motivos diferentes. O LP no Reino Unido não abandonou as suas relações formais com os sindicatos. Os sindicatos, especialmente alguns como o Unite, têm um papel muito importante na gestão do partido, e ainda existe uma dependência econômica do partido com relação aos sindicatos e às contribuições que eles fazem. Então eu acho que o que eu disse sobre a sua transformação sociológica deve ser combinado com o fato de que, sabe, as origens deles como um partido formado por sindicalistas, por trabalhadores, auto-organizados e auto-representados, elas ainda sobrevivem nessas relações que o partido   tem com os sindicatos. Mas, como nós sabemos, e certamente no caso do Reino Unido, o papel que os sindicatos têm na estruturação da vida social é muito diferente do que já foi um dia, e o efeito do governo conservador nos anos 80 sobre os sindicatos foi muito intenso, então eu acho que os sindicatos existem como uma espécie de grupo de interesse bem organizado, mas não têm o mesmo tipo de autoridade sobre a sociedade como um todo, algo que acontecia com as classes trabalhadores britânicas. Então você tem esse, esse papel dos sindicatos. De resto, eu acho que provavelmente é uma mistura de coisas, sendo que algumas têm a ver com o fato de que quando o LP se transformou nesse partido de centro, nesse Blairismo dos anos 90 representando uma terceira via, o Blair tocava o partido e ele frequentemente brigava com o partido. Os ativistas frequentemente estavam mais à esquerda ideologicamente do que a liderança do partido. Então o que o Blair tentou fazer foi cortar, por assim dizer, a parte mais ativista dos membros do LP, e tornou mais fácil se filiar ao partido, era possível entrar pro LP e não fazer praticamente nada, como quando a gente faz com a Anistia Internacional, você paga a sua contribuição mensal e pronto. Era muito diferente antigamente, quando pra ser membro de um partido você participava de reuniões toda semana e fazia parte da organização do partido em nível local, de comitês e coisas assim. Então ele transformou o partido dessa forma, como uma maneira de se livrar do LP e de falar muito mais diretamente com os eleitores. O que vem acontecendo desde o Corbyn é que muitas pessoas se filiaram ao partido e a eleição do líder foi aberta pra todos os membros, em vez de somente pros membros dos Partidos Parlamentares, só os MPs, e a natureza dessa filiação é, eu acho, muito diferente. É muito mais tipo… ativistas e muito mais envolvidos. Então eu acho que tem um tipo de geração de pessoas que não representam necessariamente a sociedade como um todo, a sociedade é muito mais diversa e muito… Mas mesmo assim é um grupo organizado, quer dizer… Grupos como o Momentum, uma espécie de organização nacional dentro do LP, uma geração de, sabe, ativistas que conseguiram realmente tomar conta do LP e através da liderança conseguiram criar esse partido muito mais radical. Mas a identidade social desses ativistas é a que eu descrevi pra você. É gente millennial, muito baseada em Londres, com muita educação formal, com muito interesse em ideias, e… em conectar ideias e políticas, e eles não têm nenhuma relação direta, até onde eu sei, com outros elementos e estruturas da sociedade britânica. E o erro do LP, eu acho, foi que ao longo do tempo ele se tornou uma espécie de bolha, sociologicamente e ideologicamente. E quando você testa essa bolha lá fora, nas eleições gerais, você percebe que era só uma bolha mesmo.

 

Leticia: Sim. Isso é exatamente o que a gente viu no primeiro plebiscito, né? Que Londres teve um resultado completamente diferente sobre o Brexit quando comparada com o resto do país. E aconteceu de novo, né? No segundo plebiscito (eleições gerais). Ninguém aprendeu nada? Por que nada mudou entre os dois eventos, o que aconteceu? Porque as pessoas talvez esperassem um resultado diferente, já que a gente meio que entendeu o que tinha acontecido da primeira vez, e agora aconteceu novamente. É algo do tipo “ah é, quer sair, então sai pra ver o que é bom pra tosse”, ou algo mais deu errado ainda mais do que antes? O que você acha que aconteceu?

 

Chris: Quando você fala do primeiro e do segundo plebiscito, o que você quer dizer exatamente?

 

Leticia: Porque no primeiro plebiscito o resultado foi um choque, ninguém tava esperando…

 

Chris: Em 2016?

 

Leticia: Sim! Porque houve uma diferença muito grande entre Londres e o resto do país, e ninguém tava esperando aquilo, porque não parecia… não parecia lógico que alguém pensasse sobre isso e chegasse à conclusão de que realmente seria ótimo sair da UE, né? E aí aconteceu de novo, e agora temos o Boris Johnson e temos todas essas coisas que ninguém entende de onde vieram. Então eu… Pelo que eu ouvi aqui na Itália, e no Brasil também, algumas pessoas tavam comentando assim, tipo, “o que houve???”, porque a gente achava que tinha entendido o que tinha acontecido na primeira vez então talvez algo tivesse que ter sido feito pra mudar as coisas e ter um resultado diferente nas eleições. Mas aí, Boris Johnson! O que houve? 

 

Chris: Eu acho… Acho que é uma lição a ser aprendida sobre ter um pouco de… cuidado sobre a maneira que a gente usa pra se informar, onde a gente se informa… Porque é possível, como eu disse, que as pessoas estejam funcionando mesmo em uma espécie de bolha. Acho que isso tem a ver talvez com uma… uma interpretação errada do voto do Brexit original. Em 2016, quando as pessoas votaram pra sair da UE, a reação de muita gente favorável a permanecer foi “ah, as pessoas foram enganadas por esses slogans mentirosos”, “as pessoas não sabiam direito sobre o que estavam votando”, “elas estavam erradas”, e aí depois de 3 anos ficaria mais evidente que, sabe, tudo isso tinha sido um erro e as pessoas iam notar e votar de outra forma. E eu acho que a gente sabe desde o começo que essa é uma leitura muito perigosa a ser feita sobre os motivos pelos quais as pessoas votam. Acho que as pessoas votaram em grande parte porque realmente queriam sair da UE, e não foi porque eles entenderam errado, essa era mesmo a visão deles sobre a UE. Aí você chega em 2019, no final de 2019, e muita gente que tinha passado por anos desses debates parlamentares e negociações e um monte de votações que foram rejeitadas… E o que elas viram foi essa incapacidade do Parlamento de simplesmente seguir o resultado do plebiscito, e aí um partido disse, olha, a gente vai fazer o Brexit e ponto final, era esse o slogan deles. E se o que te interessa é sair da UE, então você vai votar no partido que vai tirar você da UE. E se a nossa análise é a de que as pessoas estavam erradas quando votaram antes e que agora certamente vão perceber que cometeram um erro, então a gente nunca vai entender a dinâmica da coisa. E certamente durante boa parte da campanha… Foi só no finzinho, eu acho, que os ativistas e alguns líderes do LP perceberam que eles tinham subestimado a vontade de muitos eleitores no norte da Inglaterra, que tinham votado pelo Brexit, de votar no Partido Conservador pra conseguir o Brexit. E de abandonar o LP, no qual eles vinham votando há muitos, muitos anos. Foi só no finzinho que eles começaram a perceber que talvez esses eleitores não iam votar neles. E não votaram mesmo. E o LP perdeu de lavada. Então eu acho que parte do problema é o fato de que eles subestimaram a disposição das pessoas em votar em qualquer partido que simplesmente prometia dar o que eles queriam, que era tirar o Reino Unido da UE.

 

Leticia: Você acha que os sindicatos vão se fortalecer depois disso, como uma reação a essa perda de conexão com os trabalhadores (que levou à vitória dos conservadores)?

 

Chris: Os sindicatos de categoria?

 

Leticia: Isso.

 

Chris: Não sei, eu acho que… Quer dizer, de certa forma eu acho que a resposta dos sindicatos pode ser que eles tenham que mudar o seu jeito de organizar e tentar e se reconectar com muitos eleitores, mas o tipo de mudanças que estão acontecendo em todo o movimento dos trabalhadores tem a ver, em parte, com políticas de derrotas do passado, certamente, especialmente as derrotas pra Margareth Thatcher, mas também tem a ver com a estrutura da sociedade britânica, que tá mudando, e com a dificuldade que os sindicatos têm de se organizar quando a sociedade não é mais reconhecível como uma sociedade industrial, onde você tem um esquema de classes muito claro. Esse novo tipo de sociedade, muito mais desorganizada, acho que é um problema com o qual o movimento sindical sempre teve dificuldade. E tem alguns, tem algumas tentativas de meio que recrutar trabalhadores que são, sei lá, flexíveis, ou trabalhadores em posições precárias, sim, os sindicatos estão sempre tentando se adaptar a essas coisas. Mas não tenho certeza, acho que a minha impressão é que pelo menos desde as eleições gerais não há nenhuma evidência de que os sindicatos ou o LP estejam realmente tentando mudar radicalmente o jeito deles fazerem as coisas. Acho que, pelo menos os candidatos parecem estar dizendo que, sim, precisamos repensar e nos adaptar, mas o lance de que o LP foi capturado por uma parte específica da sociedade e tá lutando pra conseguir falar com o resto da sociedade, eu acho que essa ficha ainda não caiu, pra ser sincero.

 

Leticia: Sim, nós vemos a mesma coisa acontecendo em outros países também, né. A esquerda tá meio que desconectada por causa dessa mudança nas sociedades como um todo, e são outros quinhentos no Brasil, porque nós não… Quer dizer, temos indústria, mas ainda temos muitos empregos precários, e muita gente que não estudou, e não temos um histórico longo de sindicatos e tal… É outra história. Mas de qualquer forma, vou fazer mais uma pergunta só e depois vou te liberar: e os zilhões de empregos que vão desaparecer com o Brexit, que é o que estamos ouvindo há muito tempo já, você acha que isso vai acontecer mesmo ou é algum tipo de terrorismo midiático pra fazer com que as pessoas mudem de ideia ou que tenham medo? Porque eu pessoalmente tenho muitos amigos que moram em Londres e muitos deles têm amigos que foram embora porque não têm certeza do que vai acontecer agora, especialmente com os vistos, mas com os empregos também. Porque as coisas tão mudando muito rápido e eles têm medo de não conseguirem mais ficar na Inglaterra, então estão indo pra outros países. E eles, os meus amigos dizem que isso vem acontecendo o tempo todo. Mas essas pessoas estão sendo substituídas por trabalhadores britânicos ou é só empresas fechando e empregos sumindo? Você acha que isso vai acontecer mesmo? Tá rolando nesse nível mesmo, das pessoas terem que ficar assustadas?

 

Chris: Hm, o maior impacto sobre as empresas, eu acho, e sobre a economia como um todo, sempre tem a ver com a incerteza. Então, de um ponto de vista mais geral, a economia do Reino Unido é razoavelmente robusta, é bem grandinha, tem muitos setores de ponta em nível mundial, e também é muito adaptável, por causa da flexibilidade desse mercado de trabalho. O que certamente tornou as coisas difíceis nos últimos anos é que têm havido muitos, muitos investimentos que foram colocados em stand-by, não necessariamente eliminados pra sempre, mas certamente colocados em stand-by, porque ninguém sabe como vão ficar as relações entre o Reino Unido e o seu maior bloco de comércio, que é o Mercado Comum Europeu. Esse tipo de incerteza não vai, eu acho, terminar no fim de janeiro de 2020, que é quando o Reino Unido vai sair da UE, porque tem um acordo de comércio que ainda tem que ser negociado com a UE. Pode ser que o acordo seja negociado rapidamente, ou não, mas eu acho que depois que houver uma certa quantidade de certeza sobre o tipo de relação que o Reino Unido vai ter com a UE, qualquer que seja essa certeza, qualquer que seja a forma que ela tomar, em parte porque… O medo, eu acho, é que haja um colapso total nas relações e o Reino Unido caia, mas isso foi evitado porque agora temos um rascunho de acordo, então pode ser que os medos apareçam de novo no fim do ano sobre o que vai acontecer se o Reino Unido não tiver um acordo antes de 2020 acabar. Mas mesmo assim, deixando isso de lado, mesmo se o acordo não for, sei lá, algo que as pessoas tenham idealizado, dependendo do setor onde elas trabalham, depois que você tem uma estrutura que dê certeza de um acordo, aí você começa a planejar pro futuro. Como eu disse, a economia do Reino Unido, bem, temos um mercado interno bem grande, mas também temos muitos setores competitivos, que eu acho que vão ser capazes de se adaptar. Em termos de migração, eu acho que é um pouco mais complicado. Acho que o impacto provavelmente vai ser ser mais sentido na composição da migração, e não no nível absoluto de migração propriamente dita. O Reino Unido tem um mercado de trabalho aberto e requer níveis muito altos de mão-de-obra de imigrantes pra se manter. É impossível conceber, da noite pro dia, que esses empregos hoje de imigrantes sejam substituídos por britânicos, porque eles simplesmente não existem. Ao longo do tempo, eu espero que as empresas britânicas comecem a investir mais em treinamento dos seus próprios funcionários, que é algo que elas sempre… Muitas delas conseguem evitar investir em qualquer tipo de treinamento, porque eles podem simplesmente ir contratar outra pessoa mais qualificada. E esse é um dos grandes problemas do mercado de trabalho aberto, eu acho, porque do ponto de vista do empregador, não do funcionário, mas do empregador, esse mercado é ótimo, porque você não precisa investir nos seus funcionários, basta contratar outra pessoa melhor, então os trabalhadores não têm poder de barganha. E desde 2016 a gente vem observando que os empregadores vêm investindo mais em treinamento e também em outros aspectos da tecnologia e da automação, simplesmente porque estão sendo forçados a fazer isso, a investir de maneiras que eles não precisavam fazer antes, porque eles podiam contar com mão-de-obra relativamente barata. Então eu acho que isso pode vir a mudar, e seria muito positivo, mas em termos de migração, acho mais provável que haja um tipo de… um efeito, que vai ser menos trabalhadores europeus vivendo no Reino Unido. Mas mais trabalhadores de fora da UE vão vir, então trabalhadores da América Latina, do subcontinente indiano, eles viriam e trabalhariam no Reino Unido simplesmente porque seriam tão competitivos quanto alguém vindo da UE, e então a composição da população de migrantes no Reino Unido pode se tornar um pouco menos europeia e mais global. Acho que é um efeito possível.

 

Leticia: Beleza. MUITO OBRIGADA pelo seu tempo, vou parar de gravar agora. Depois eu mando o link, quando o episódio sair, pra você ver como ficou.

 

Chris: Excelente.

 

Leticia: Obrigada MESMO, viu? O papo foi ótimo.

 

Chris: Prazer foi meu, foi ótimo conversar com você.

 

Leticia: Obrigada, ciao, tchau.

 

Chris: Tchau.