Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 4: Linhas de ação

Tempo de leitura: 6 minutos

Já que a gente se meteu nessa enrascada por iniciativa própria, simbora continuar essa série pra terminar o quanto antes. A palavra chave de hoje é: segurança.

LINHAS DE AÇÃO

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO: enfrentar o crime e cortar a corrupção.
SAÚDE E EDUCAÇÃO: eficiência, gestão e respeito com a vida das pessoas. Melhorar a saúde e dar um salto de qualidade na educação com ênfase na infantil, básica e técnica, sem doutrinar.
ECONOMIA: Emprego, Renda e Equilíbrio Fiscal. oportunidades e trabalho para todos, sem inflação.

“Enfrentar o crime e cortar a corrupção”, baita proposta, hein! Como ninguém pensou nisso antes, não é mesmo?

Esse slide não tem nenhuma informação digna de nota, todos esses assunto serão melhor (?!) abordados no futuro, então vamos ignorar por enquanto.

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO
A Globo, em seu documentário A Guerra do Brasil (dezembro de 2017), chama atenção para alguns números:

  • 60 mil homicídios por ano, mais que 92 países juntos. Muito acima dos 14 mil homicídios dos EUA, que têm uma população 50% maior que a nossa.

  • No Brasil, 786 mil pessoas foram assassinadas entre 2001 e 2015.

  • Na Guerra do Iraque, entre 2003 e 2017, foram mortas 268 mil pessoas; Na Síria, de 2011 a 2017: 330 mil.

  • Segundo o documentário, os culpados são: as armas de fogo, que causam 7 em cada 10 mortes.

  • O documentário indica os 5 primeiros colocados no ranking de piora: Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, Bahia e Ceará, porém, deixa no ar a razão da piora.

  • Menciona a melhora substancial que a Colômbia teve, pois reduziu em 70% os homicídios, porém, não diz as causas disso.

Desculpem a repetição da frase “SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO” mas eu prometi que iria manter como está no original.

Então vamos lá, os números. Eu não vou procurar a fonte dos números pra não cair em uma guerra de narrativas; vou tomá-las como verdadeiras para analisar estritamente o conteúdo do documento. Indo por essa lógica, eu já posso dizer logo de cara que é bastante desonesto comparar uma guerra como a do Iraque com a situação do Brasil. O Brasil possui uma desigualdade social abissal e a violência aqui se dá de uma forma completamente diferente. Não dá pra comparar com uma guerra em que um dos lados matava pessoas como se estivesse jogando videogame (vídeo não indicado para pessoas sensíveis).

Lembre-se: temos a maior taxa de mortes de policiais do mundo e a polícia que mais executa pessoas também. Ambos os fatos são absurdos, sem exceções.

Sobre os estados, eu falo depois do próximo slide.

“CONTRA A ESQUERDA: NÚMEROS E LÓGICA”

• As armas são instrumentos, objetos inertes, que podem ser utilizadas para matar ou para salvar vidas. Isso depende de quem as está segurando: pessoas boas ou más. Um martelo não prega e uma faca não corta sem uma pessoa…
• EUA, Áustria, Alemanha, Suécia, Noruega, Finlândia, Israel, Suíça, Canadá, etc, são países onde existe uma arma de fogo na maioria dos lares. Coincidentemente, o índice de homicídios por armas de fogo é muito menor que no Brasil. No Canadá, são 600 homicídios por ano! Em Israel 110 e Suíça 40!
• Peguemos o exemplo de nossos vizinhos: Chile, Uruguai, Argentina e Paraguai. Um tratamento estatístico mostrará uma correlação inversa entre armas nos lares e homicídios!
• Já a Venezuela, que aumentou a restrição às armas da população civil, está com o dobro de homicídios do Brasil: quase 60 por 100 mil. Com 31 milhões de habitantes, matam 17 mil por ano! Seria como 120 mil homicídios no Brasil por ano!

Adorei esse slide, ele já começa com “CONTRA A ESQUERDA” hahahaha. Bem, então vejamos.

A primeira afirmação é verdadeira, claro; objetos não cumprem os seus objetivos sem uma ação de comando. A diferença é que o martelo e a faca (eu não devia mas eu ri quando vi a referência) não têm por objetivo principal matar.

A segunda informação também não está errada do ponto de vista estatístico; talvez só tenha faltado dizer que TODOS os países citados também possuem um nível de desigualdade social muito menor que o nosso, ou vai dizer que você preferiria morar num Brasil com armas a morar numa Suíça desarmada?

OK, vejamos as leis dos países citados na URSAL América Latina. A fonte é do Senado Federal:

  • CHILE: Uma lei de novembro de 2004 prevê prisão para quem porta armas ilegais e anistia quem entregá-las em delegacias.
  • URUGUAI: Posse é permitida, após curso sobre manejo de armas e legislação. São exigidos testes psicológicos e físicos, além de atestado de antecedentes criminais.
  • ARGENTINA: O porte, conforme a legislação local, só se permite a policiais e militares e, excepcionalmente, a civis cuja vida esteja comprovadamente em perigo
  • PARAGUAI: O porte é permitido, existindo restrições só para armas automáticas ou de guerra.

Vê-se que os caminhos não são tão diferentes assim dos que foram tomados pelo Brasil. A Venezuela não foi colocada em um tópico à parte por acaso; todos sabemos que as conversas se inflamam quando se fala de qualquer ação tomada no palácio de Miraflores. A lei do desarmamento venezuelana foi citada de modo tão vago que eu vou até deixar o link do documento original aqui pra quem quiser  estudar o caso.

Para os preguiçosos, eu dou uma resumida aqui: no tocante ao porte de arma, esse só fica totalmente proibido caso seu dono esteja drogado ou bêbado ou em manifestações ou locais públicos em que haja consumo de bebidas alcoólicas (artigo 10). No mais, as únicas armas proibidas são as não registradas.

“Artículo 1. Esta Ley tiene por objeto el desarme de las personas que porten, detenten u oculten armas de fuego de manera ilegal, a los fines de salvaguardar la paz, la convivencia, la seguridad ciudadana, y de las instituciones, así como la integridad física de las personas y de sus propiedades.

(…)

Artículo 3. Son armas de fuego ilegales las que no estén registradas en la Dirección de Armamento de la Fuerza Armada Nacional. “

Vou deixar que você tire suas próprias conclusões…

AIN MAS VC NAUM REFUTOU O NÚMERO DE MORTES NA VENEZUELA!!!!11!!

De fato não o fiz, lembra do que eu falei sobre a desigualdade? Então…

“VAMOS AOS FATOS”

Os 5 primeiros colocados no ranking de piora: Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, Bahia e Ceará, são regiões que passaram a ser governadas pela esquerda ou seus aliados e onde a “epidemia” de drogas não foi coincidentemente introduzida.
Aliás, o avanço das drogas e da esquerda são prevalentes nas regiões mais violentas do mundo: Honduras, Nicarágua, El Salvador, México e Venezuela (onde há forte restrição à população ter armas).
O documentário NÃO menciona que a melhora substancial da Colômbia foi o resultado da derrota das FARC (que abertamente vive do tráfico de drogas). Além disso, as FARC participaram do Foro de São Paulo, fundado pelo PT e pelo ditador cubano. A verdade é que o número de homicídios no Brasil passou a crescer de forma consistente a partir do 1º Foro de SP, no início dos anos 1990.
Houve até “bolsa crack” em cidades administradas pela esquerda, como por exemplo em São Paulo.

Não causa nenhuma surpresa constatar que os estados citados pelo programa de governo de Bolsonaro têm várias outras coisas em comum: todos ficam no Nordeste, região que sofre com uma disputa de território por parte do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital, ambos oriundos do Sudeste. Alguém aí pode me citar ações concretas do ex-militar para conter o avanço do CV em seu estado? Não achei nenhuma aqui e me parece que 27 anos foram tempo o suficiente pra pensar nessas coisas, né não? Estes estados também figuram nada bem no Índice de Gini, um indicador que mede a desigualdade social. Associar essa ascenção do crime com os governos de esquerda é, pra dizer o mínimo, uma correlação espúria, assunto que você já viu em outro texto da série.

Esse “bolsa crack” citado é digno de uns pitacos e talvez seja a parte mais canalha do slide. Primeiro porque é praticamente jogado no slide sem contextualização, deixando a cargo do leitor fazer a associação que lhe convém. No caso dos bolsonaristas de plantão, vai ser a pior possível, por se tratar de um programa de governo associado à Prefeitura de São Paulo no mandato de Haddad. O nome disso é wishful thinking, o “pensamento desejoso” de que isso seja verdade. A canalhice ainda é maior quando a forma vaga da frase dá chance para a ambiguidade: a tal “bolsa crack” pode ser compreendida como um apelido ao programa “De braços abertos” – que visava ser um programa de redução de danos com oferta de moradia e emprego a fim de quebrar o estigma dos usuários – ou como uma fake news que rolou há algum tempo atrás. Vai da honestidade intelectual do leitor.

“VAMOS AOS NÚMEROS: ATLAS DA VIOLÊNCIA 2018 DO IBGE”

Esse eu tive até que printar que esse silde é praticamente uma vitamina de ódio dos tempos da guerra fria com o mais puro Tiozão do Zap!

Você que chegou até aqui já é bem inteligente pra saber que a relação não é verdadeira, então não tem muito o que comentar sobre essa parte, a não ser que o link informado no slide está quebrado e não leva a lugar nenhum.

Chega por hoje.

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

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