Mês: setembro 2018

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 1: “O Brasil livre”

Tempo de leitura: 7 minutos

Lá vamos nós começar essa jornada pelos argumentos mais malucos do ano. Tudo o que estiver em cinza é um citação direta ao programa de Bolsonaro; as exclamações e os textos em letra maiúscula são de responsabilidade dele.

“O BRASIL LIVRE”

Propomos um governo decente, diferente de tudo aquilo
que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um
governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios. Um
governo formado por pessoas que tenham compromisso
com o Brasil e com os brasileiros. Que atenda aos
anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a
diferença na vida de todos.
Um governo que defenda e resgate o bem mais precioso
de qualquer cidadão: a Liberdade. Um governo que
devolva o país aos seus verdadeiros donos: os
brasileiros.

 

Aqui logo no início já temos um bom material pra trabalhar, repare:

Quando Bolsonaro joga essas frases dessa forma não há NADA sendo dito. “Ué, como assim nada sendo dito? Ele está dizendo que vai romper com o que temos hoje”.

Pois é, esse é o problema. A frase foi construída de uma forma que você lê nela o que você quiser. Um antipetista lê a parte que diz “governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios” e pensa logo no governo Dilma. Eu leio a mesma frase e penso logo em Temer e seus comparsas. Como pode isso se a frase é a mesma?

Essa é a jogada: ele não se declarou inimigo de nenhum dos dois, quem fez a associação foi você. Não passa de um truque, a jogada é mandar no início uma frase impossível de ser contra e assim fazer o leitor baixar a guarda. Depois você vem com a parte que importa, e essa é que é a perigosa.

“VALORES E COMPROMISSOS”

O FRUTO DA VIDA É SAGRADO!
• Este é um país de todos nós, brasileiros natos ou de coração. Um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações.
• As pessoas devem ter liberdade de fazer suas escolhas e viver com os frutos dessas escolhas, desde que não interfiram em aspectos essenciais da vida do próximo.
• Os frutos materiais dessas escolhas, quando gerados de forma honesta em uma economia de livre iniciativa, têm nome: PROPRIEDADE PRIVADA! Seu celular, seu relógio, sua poupança, sua casa, sua moto, seu carro, sua terra são os frutos de seu trabalho e de suas escolhas! São sagrados e não podem ser roubados, invadidos ou expropriados!
• Os frutos de nossas escolhas afetivas têm nome: FAMÍLIA! Seja ela como for, é sagrada e o Estado não deve interferir em nossas vidas.

Vamos começar analisando textualmente (e com isso eu já nem quero discutir a escolha de tratar pautas como frases soltas pontuadas). Falar sobre o “fruto da vida” remete a uma posição contra a legalização do aborto; mais uma vez Jair opta por dizer as coisas nas entrelinhas. Ele parece ter um problema em assumir textualmente as posições que defende abertamente quando está com um microfone na mão. A nossa posição sobre o aborto você pode conferir neste ótimo texto da Leticia. Ah, você notou que no ponto onde ele fala de toda a diversidade brasileira ele “acidentalmente” não cita que temos várias religiões? Curioso, não? Acho que eu não preciso dizer a razão disso, né?

A terceira e a quinta frase têm composições curiosas que valem a pena conferir juntas. Uma fala sobre a liberdade do indivíduo, a outra sobre a instituição da família, a qual segundo ele o Estado não deveria impor nenhum obstáculo. Ora, uma vez que o Estado não deve ser um empecilho à família e o indivíduo deve ter total liberdade, por que o casamento entre pessoas do mesmo sexo causa tanto incômodo ao candidato? Foi ele mesmo que escreveu “seja como ela for“. Se ele está disposto a não criar caso contra o casamento gay, lésbico, famílias não-monogâmicas e toda a sorte de diversidade que a total liberdade individual gera, então estamos juntos, mas claro que sabemos que não é o caso. Será que ele leu o próprio programa?

“LIBERDADE E FRATERNIDADE!”

• Quebrado o atual ciclo, com o Brasil livre do crime, da corrupção e de ideologias perversas, haverá estabilidade, riqueza e oportunidades para todos tentarem buscar a felicidade da forma que acharem melhor.
• Liberdade para as pessoas, individualmente, poderem fazer suas escolhas afetivas,
políticas, econômicas ou espirituais.
• Devemos ser fraternos! Ter compaixão com o próximo. Precisamos construir uma sociedade que estenda a mão aos que caírem. Escolhas erradas ou tropeços fazem parte da vida. Ajudar o próximo a se levantar nos diferencia como humanos.
• Mais importante: uma Nação fraterna e humana, com menos excluídos, é mais forte. Há menos espaço para populistas e suas mentiras. O Brasil precisa se libertar dos corruptos. O povo brasileiro precisa ser livre de VERDADE!

OK, eu tô começando a ficar incomodado. Estamos no terceiro slide e é a terceira vez que temos a palavra “liberdade”, o que é bem duvidoso quando se é o único postulante ao cargo que defende abertamente o regime que acabou com a liberdade de expressão com o AI-5. O cara tem a cara de pau de colocar no programa de governo dele que o que nos torna humanos é a virtude de ajudar quem fez escolhas erradas, mas ele próprio quer tratar bandidos a bala, desacreditando assim qualquer meio que uma pessoa possa ter de se reabilitar depois de ter cometido algum crime. Hipocrisia pouca é bobagem. Se é essa solidariedade que nos torna humanos, o que esse pensamento o torna?

Nenhuma outra parte do texto é digna de nota. O resto é só informação tirada do rabo e um caminhão de moral cristã (não que seja um defeito, mas eu esperava mais do que isso de quem pretende governar um país).

DIREITOS E DEVERES

• A forma de mudarmos o Brasil será através da defesa das leis e da obediência à Constituição, Assim, NOVAMENTE, ressaltamos que faremos tudo na forma da Lei!
• Qualquer forma de diferenciação entre os brasileiros não será admitida.
• Todo cidadão terá seus direitos preservados.
• Todo cidadão, para gozar de seus plenos direitos, deve obedecer às leis e cumprir com seus deveres (não matar, não roubar, não participar de falso testemunho, não sonegar impostos, etc.).
• Qualquer pessoa no território nacional, mesmo não sendo cidadã brasileira , tem direitos inalienáveis como ser humano, assim como tem o dever de obedecer as leis do Brasil.

Esse aqui vai ser rápido de analisar. Você leu o texto? Tem alguma coisa ali que é novidade? “Todo cidadão terá os seus direitos preservados”. Porra, isso é o mínimo que eu espero! Esse slide é totalmente irrelevante.

“IMPRENSA LIVRE E INDEPENDENTE

• Somos defensores da Liberdade de opinião, informação, imprensa, internet, política e religiosa!
• Liberdade das pessoas e de suas famílias em poder escolher os rumos da vida na contínua busca da felicidade!
• Somos contra qualquer regulação ou controle social da mídia.
• A Liberdade é o caminho da prosperidade. Não permitiremos que o Brasil prossiga no caminho da servidão.
• Nosso povo deve ser livre para pensar, se informar, opinar, escrever e escolher seu futuro.

Lá vem mais uma contradição do candidato. A mesma pessoa que é contra qualquer regulação da mídia é a que mais pede a remoção de páginas na internet. E aí? Devemos acreditar no Bolsonaro dos slides ou no das ações? Papel aceita tudo.

Será que alguém pode me explicar o motivo da segunda frase? Tem algum candidato que é contra as famílias que buscam felicidade? Gente, essa frase totalmente genérica é bem legal pra você colocar no rodapé daquela foto de pôr-do-sol no Instagram, MAS ISSO AQUI É UM PROGRAMA DE GOVERNO!

A NOSSA BANDEIRA É VERDE-AMARELA

• Nos últimos 30 anos o marxismo cultural e suas derivações como o gramscismo,
se uniu às oligarquias corruptas para minar os valores da Nação e da família
brasileira.
• Queremos um Brasil com todas as cores: verde, amarelo, azul e branco.
PRECISAMOS NOS LIBERTAR!
VAMOS NOS LIBERTAR!

Essa daqui é a que mais me tirou do sério e é por isso que finalizamos a parte 1 por aqui. O tal “marxismo cultural” é uma teoria da conspiração requentada a partir de um tal de “bolchevismo cultural” que fazia relativo sucesso na Itália da década de 30. Lembra o que rolava na Itália dessa época? Isso mesmo, um tal de Fascismo.

Claro que você não precisa acreditar em mim, e é por isso que esse que é um tema muito sério precisa de melhores referências, então eu deixo aqui um techo traduzido de um excelente texto de Jason Wilson no jornal inglês The Guardian, que está longe de ser comunista:

A teoria do marxismo cultural também é claramente antissemita, baseando-se na idéia dos judeus como uma quinta coluna sabotando a civilização ocidental de dentro, uma visão racista que tem uma história mais longa do que o marxismo. Como os Protocolos dos Sábios de Sião, a teoria foi fabricada propositalmente, para uma finalidade especial: a instituição e a perpetuação da guerra cultural. Podemos até nomear um autor para essa loucura: William S Lind, um polemista da direita americana, que procurou colocar o ativismo de direita em um novo patamar quando a Guerra Fria chegou ao fim.

Caso você tenha meia horinha sobrando, ouça a ótima análise do tal “marxismo cultural” feita pelo Carapanã para o Podcast Viracasacas.

Nesse momento você deve estar pensando “mas se é só uma teoria da conspiração então deixa isso pra lá, não fica dando palco pra isso”. Olha, eu adoraria, meu caro leitor, mas tem gente que realmente acredita nisso, e talvez um dos mais célebres seja esse cara aqui.

Anders Breivik matou 77 pessoas em julho de 2011

A crença no tal marxismo cultural fez com que esse cara armasse 2 explosões e um ataque armado matando 77 pessoas. Em seu julgamento ele fez questão de fazer a saudação nazista e pediu desculpas aos outros extremistas por ter sido pego antes de matar mais gente. Essa alucinação de pessoas extremistas é literalmente mortal. Tudo de que o Brasil não precisa é um candidato a presidente que incentive delírios como esse.

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: “Estrutura e gestão”
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

metralhadora de fúria hoje; aguentem.

Tempo de leitura: 6 minutos

Quando minha filha entrou na cozinha hoje pra tomar café, viu minha cara inchada de choro e perguntou se eu tava me sentindo mal. Respondi que sim, porque era um dia muito, muito triste, e expliquei a ela, aos prantos, o que significa perder um museu como o Nacional. Ela me abraçou; tomamos café em silêncio. Ela me perguntou se eu já a tinha levado a esse museu; respondi que não, porque o Rio é uma cidade complicada. Não dá pra simplesmente pensar num lugar e decidir ir – tem a dificuldade de chegar, tem a logística imposta pelo mapa da violência urbana, você precisa se planejar muito, muito bem pra não ser pego no bairro tal em tal hora e não precisar atravessar o túnel tal à noite porque sabe que pode morrer se errar os cálculos. Então nós nunca fomos.

Quando a notícia do incêndio chegou ontem, a Carol tinha acabado de ir pra cama e eu estava sentada na minha poltrona dando a última olhada no Facebook antes de pegar no livro que estou lendo. Alguém postou sobre o incêndio e eu fui procurar no Twitter. Logo depois o Thiago me mandou um áudio totalmente atônito perguntando se eu tinha visto a notícia. Ficamos os dois assim, catatônicos, acompanhando as notícias, até que a raiva chegou e passamos a nos alternar no comando do PistolandoPod, furiosos, vomitando palavrões, consternados e putaços ao mesmo tempo.

Sabemos muito bem que o descaso com a cultura e com a educação não é exclusividade desse governo golpista de merda do caralho. Isso vem desde sempre – a verdade é que o Brasil começou a morrer em 1500, vamos combinar. O que esse vampiro maldito, colocado ali primeiro por um sistema político que impede a governabilidade se não forem feitos pactos com o diabo, e segundo por gente cheia de desonestidade intelectual que sacaneia os petistas pelo sanduíche de mortadela mas foi lá encher o cu de filé mignon pago pela FUCKING FIESP – A FUCKING FIESP, CARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOOO – fez com o corte de gastos por 20 anos foi oficializar o horror. Um governo – uma série de governos, um povo inteiro – que caga e anda pra educação e pra cultura merece só um meteoro mesmo. Por sinal, um meteorito foi a única peça que resistiu ao incêndio do museu. Acho significativo.

O brasileiro é todo errado. Nossas prioridades são as piores possíveis, nosso senso de coletivo é inexistente, nosso interesse pelo passado como modo de trabalhar o futuro é nulo, nossa capacidade de nos preocuparmos e nos programarmos a longo prazo é nenhuma. E além de tudo isso ainda temos a ameaça da moral e dos bons costumes. A treta do Queer Museum foi uma das tantas que ilustram claramente o retrocesso mental desse país. A simples existência de uma fucking bancada fucking evangélica, uma aberração em qualquer país minimamente normal, é um sinal claro do atraso que nos toma e que ainda é somente a ponta do iceberg. Quem me conhece sabe: se eu fosse funcionária pública e fosse obrigada a REZAR (‘ORAR’ TEU CU) no trabalho, cara, não haveria coquetel molotov que bastasse no bairro pra apaziguar a minha fúria. Só de pensar que no Rio temos o Crivella como prefeito – UM FUCKING PASTOR DA FUCKING IGREJA UNIVERSAL, PORRAAAAAAAAAAAA, O QUE CARALHOS VOCÊS TÊM NA CABEÇA, SEUS MERDAS, PRA ELEGER UM TRASTE DESSES – eu tenho vontade de chorar. A invasão desses energúmenos filhos da puta na nossa política, seu entranhamento na nossa sociedade, são sinais de que ainda tem MUITO espaço pra piorar. Mas o pior nem é a bancada evangélica propriamente dita, pois são só mais um grupo de pessoas escrotas cuidando dos próprios interesses; o problema maior, a meu ver, é a nossa elite de merda, nossa classe média, a mais escrota que já pisou na face da terra, que prefere apoiar esses merdas a votar “em comunista maconheiro”. Você deixou de votar no Freixo pra votar no Crivella? Você é um merda e não tenho a mínima hesitação em afirmar isso. É um merda, ponto. Agora senta aí e chafurda bem chafurdado na merda que você ajudou a piorar.

Observando isso tudo acontecendo, a gente entende que Darcy Ribeiro tinha mesmo razão e tudo isso que tá acontecendo é um projeto. As mentes da nossa classe média foram moldadas desde sempre pra desprezar o que é nosso e louvar o hemisfério norte; os grandíssimos sacos de merda que diziam que as ciclovias do Haddad em São Paulo eram coisa de comunista pagam pau pra Amsterdã; os mesmos grandíssimos sacos de merda que estão usando esse incêndio como justificativa pra pedir a privatização de tudo são os que ficam babando no Louvre, convenientemente ignorando que os maiores museus do mundo são administrados pelos governos. Trata-se de patrimônio nacional, porra, como é possível uma pessoa ser tão filha da puta a ponto de querer vender seus próprios museus??? Suas próprias indústrias de base, sua infraestrutura? Como é possível alguém defender a venda pra estrangeiros de empresas que são necessárias pra você TER ELETRICIDADE EM CASA, BOTAR GASOLINA NO CARRO, TER ÁGUA ENCANADA?

Eu queria saber por que não queimamos Brasília ainda. Eu sei os motivos, mas queria mesmo entender por que não estamos mais revoltados. Também sei os motivos; somos realmente um povo pouco afeito a guerras, e além disso depois de tantos séculos de ignorância voluntariamente incentivada pela elite dominante, não somos capazes de entender a dimensão da importância de um museu, de uma pesquisa científica, de uma filarmônica, de projetos culturais pras periferias. O importante é que a Lei Rouanet não dê dinheiro à obra Os Macaquinhos. O importante é não ter kit gay nas escolas – e não me dêem espaço pra começar a xingar o Bolsomerda e os merdas que nele votam, porque vocês tão carecas de saber minha opinião a respeito. Foda-se que o museu mais importante da América Latina pegou fogo por falta de verba pra ajeitar a fiação elétrica do prédio (ou por alguma causa dolosa que ainda não conhecemos); o importante é fiscalizar o que cada um faz com seus próprios orifícios corporais. Foda-se que perdemos VINTE FUCKING MILHÕES DE ITENS, décadas de pesquisas, espécimes raríssimos, documentos históricos, espécies ainda não identificadas; o importante é fazer operação militar nas favelas, sabendo muito bem que não serve pra nada além de matar negros e pobres – e aqui incluo os militares mortos durante a intervenção e os PMs que morrem no Rio, e no país inteiro, todos os dias. AIN MAS UMA COISA NÃO EXCLUI A OUTRA – nesse caso, exclui sim, porque a hierarquia das nossas prioridades diz muito sobre o que somos e que valores temos. Os valores da classe média brasileira são, não necessariamente nessa ordem: prefiro eu estar na merda mas ter gente mais na merda do que eu a estar não na merda mas na companhia da classe C no avião; farinha pouca, meu pirão primeiro; a família acima de tudo, mas quero poder jogar minha mulher da janela e depois dizer que não me lembro de nada; privatiza tudo, que se der errado eu vou morar em Miami; bicicleta é coisa de comunista, mas ai como eu amo Amsterdã; socialista é tudo filho da puta, mas aqui tá feia a coisa, vou pra Portugal ajudar a criar um novo nicho mercado de apartamentos com dependência de empregada porque não sei viver sem mucama e meu braço cai se eu tiver que limpar a minha própria privada; tem que matar traficante mesmo, mas a culpa não é minha pois eu votei no Aécio. Pra mim, nada resume e ilustra tão perfeitamente a classe média brasileira quanto os adesivos da Dilma de pernas abertas pra colar no carro. Em tempo: se você já usou esse adesivo e não se arrepende, não entende a magnitude disso, você é um merda também.

Sempre que visito museus fora do Brasil fico pensando que se eu morasse lá teria o passe anual e viveria lá dentro. Fiquei pensando nisso hoje, depois do incêndio. Há algumas semanas uma amiga querida, a Ana Cardoso, me chamou pra darmos uma volta no Museu Oscar Niemeyer aqui em Curitiba. Eu não gosto de arte moderna e abomino a arquitetura dele, mas SEMPRE tem alguma mostra interessante pra ver e eu não vou com a frequência com que deveria. Por preguiça mesmo; a Ana vai sempre, mas ela vai a pé, mora pertinho. Eu moro relativamente perto, mas fico com preguiça de ir mais porque nem todo o acervo deles me interessa. Se houvesse um museu de história natural ou de arte nos moldes da National Gallery de Londres aqui eu certamente moraria lá dentro.

Minha mãe sempre encheu a boca pra falar da Quinta da Boa Vista, porque era realmente uma coisa deslumbrante, pra além da importância histórica da estrutura e do museu. Uma área de lazer invejável numa cidade ridiculamente quente, mas com ridiculamente poucas áreas verdes. Eu fui ao museu várias vezes quando pequena, com meu pai, com excursões da escola. Nunca fui depois de adulta. Me arrependo de não ter levado a Carol. Agora nada daquilo existe mais.

Esse texto tá completamente sem sentido, sem fio condutor, sem lógica entre os parágrafos. Não tenho condições emocionais de escrever nada direito. Ontem fui dormir chorando e xingando, minha cabeça tava uma zona, mil coisas ao mesmo tempo, vários textos misturados. Perdoem a minha confusão mental, por favor.

Eu vou trabalhar na biblioteca hoje à tarde. Quarta-feira o ingresso no Niemeyer é grátis; vou pegar a Carol mais cedo na escola e levá-la ao museu.

Leiam a Eliane Brum sobre o assunto. Nunca houve pessoa que escrevesse tão bem sobre qualquer coisa quanto essa mulher.