companhia das letras

olha o fim do mundo aí, gente!

Tempo de leitura: 3 minutos

 

À primeira vista, “Ideias para adiar o fim do mundo” pode parecer um título meio pretensioso pra um livrinho tão pequeno. Porque ele é pitico mesmo, de dimensões e de número de páginas – 72, com muitas páginas em branco no meio, ou seja, o conteúdo é curto.

Mas é uma delicinha de ler, e no fim das contas o título faz muito sentido. Ailton Krenak é um dos maiores pensadores indígenas brasileiros e esse livrinho na verdade é uma palestra que ele deu no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. Também há textos transcritos de uma outra palestra e de uma entrevista, ambas em Lisboa. Ler esse livro é como ouvi-lo falar, o que é sempre muito gostoso, mesmo com o choque de realidade.

No nosso episódio sobre o fim da carne falamos sobre o nosso distanciamento das origens do que comemos, e de como essa desconexão da origem de tudo, na real, e não só da comida, é um problemaço. Esse pressuposto de que as coisas aparecem magicamente na prateleira do supermercado, sem entender a cadeia de produção, os mecanismos perversos por trás de tudo o que consumimos, trouxe a gente pro ponto no qual nos encontramos hoje, nesse momento da história do planeta em que a presença humana é mais nefasta e potencialmente devastadora do que nunca. Estamos pertinho da borda do precipício e continuamos achando que tá tudo bem, continuamos no piloto automático, sem prestar atenção no que acontece nos bastidores da vida capitalista.

Se é certo que o desenvolvimento de tecnologias eficazes nos permite viajar de um lugar para outro, que as comodidades tornaram fácil a nossa movimentação pelo planeta, também é certo que essas facilidades são acompanhadas por uma perda de sentido dos nossos deslocamentos.

Né? A gente definitivamente precisa parar pra pensar sobre essas coisas. E quando você pára (esse acento caiu ou ainda tem? Gosto dele; vou deixar) pra pensar, que é o que esse livrinho te força a fazer, A Grande Ficha (TM Laerte) cai.

O fim do mundo talvez seja uma breve interrupção de um estado de prazer extasiante que a gente não quer perder.

Ou seja, todas as agruras do ser humano podem ser resumidas em “ninguém quer perder privilégios”. O que faz sentido, obviamente; abrir mão de coisas legais é sempre doloroso, assim como pedir desculpas, admitir um erro, mudar de opinião. Mas é exatamente disso tudo que estamos precisando, ou não conseguiremos adiar o fim do mundo. É preciso dar uma guinada radical no jeito em que fazemos meio que tudo, a mudança precisa ser estrutural, mas nada vai mudar enquanto não aprendermos a fazer essas coisas chatas e dolorosas – sendo que todas elas começam com a gente pensando no que está fazendo. Pensar é o que o capitalismo não quer que a gente faça, de maneira alguma.

E nossas crianças, desde a mais tenra idade, são ensinadas a serem clientes. Não tem gente mais adulada do que um consumidor. São adulados até o ponto de ficarem imbecis, babando.

Outro dia, na reunião de pais na escola da minha filha, uma mãe estava dizendo que “é muito fácil educar o filho dos outros, né”. Quase respondi, mas fiquei quieta. O lance é que educar não é difícil. É cansativo, coisa muito diferente. O mesmo vale pra ser um bom cidadão – não é difícil, mas é cansativo se policiar o tempo todo, principalmente quando a maioria das pessoas ao seu redor funciona na modalidade deambulando e defecando. Educar uma criança direito requer tempo, paciência e sim, aquela palavra tão esvaziada, empatia. Ser um cidadão consciente requer as mesmas coisas. É preciso pensar, refletir, se questionar, e nada disso é indolor – por isso é tão fácil pro capitalismo nos impedir de fazer essas coisas. É muito confortável pra gente simplesmente se deixar levar por um sistema que não nos incentiva a fazer coisas dolorosas e cansativas.

O lance é que não tá dando certo, né. Se por um lado o ser humano é naturalmente desesperado e já houve inúmeras ocasiões históricas em que parecia que o mundo estava pra acabar, dessa vez os números, os dados, estão comprovando que a coisa é muito séria. Eu tenho medo, de verdade, de pensar em que tipo de mundo minha filha vai herdar, porque eu não sei como ele vai ser. Não sei o que vai restar se a gente não se mexer AGORA.

Sim, sim, Sabrina nos ensinou que não são nossos canudos de inox e copos de silicone e hábitos de reciclagem que vão adiar o fim do mundo. Mas a necessária mudança estrutural tem que começar de algum lugar, tem que ser exigida por nós, e só seremos capazes de exigi-la se fizermos essas reflexões dolorosas. Então fica aí o recado do Krenak. Bora pensar.

Pistolando #029 – Sobre o autoritarismo brasileiro

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O cenário político brasileiro atual é desolador e a fome de punitivismo demonstrada por boa parte dos eleitores do governo que desgraçadamente assumiu em 2018 assusta cada vez mais os setores progressistas. Mas essa sanha punitivista, esse namoro com o autoritarismo não veio do nada. Exploramos suas origens com Rodrigo Elias, do podcast Passadorama, com base no livro de Lilia Schwarcz, Sobre o Autoritarismo Brasileiro, em mais uma parceria com a Companhia das Letras.

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Pistolando #022 – Crime organizado à moda italiana

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No nosso primeiro episódio da nossa parceria com a Companhia das Letras, que nos enviou o livro Os Meninos de Nápoles, de Roberto Saviano, puxamos o fio do romance pra falar sobre crime organizado à moda italiana e suas ramificações e influências no Brasil. Conversamos com Leandro Demori, do jornal The Intercept Brasil, autor de Cosa Nostra no Brasil.

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em boa companhia

Tempo de leitura: 2 minutos 

Ao que parece, 2019 vai ser o ano do podc… Não, péra.

Pra gente esse tá sendo o ano da leitura. Estamos tentando participar o máximo que podemos do desafio de leitura de autoras mulheres que as meninas do As Desqualificadas estão fazendo, e eu pessoalmente venho fazendo resenhas dos livros que estou lendo, que façam ou não parte do desafio, como maneira de me estimular a ler mais. Netflix e redes sociais sugam a gente; quando a gente olha já passamos uma semana inteira sem ler nada.

Not today, Satan! Esse ano estamos atacados, duas máquinas de ler devorando um monte de gêneros diferentes. Por isso veio muito a calhar a parceria que fizemos com a Companhia das Letras.

(Por falar em Companhia das Letras, ouçam o podcast deles, que a gente já ouvia muito antes dessa parceria rolar. As entrevistas são sempre muito boas.)

Eles tavam atrás de produtores de conteúdo pra falar dos livros deles; tivemos sorte de entrar no grupo dos parceiros pra esse projeto e todo mês recebemos um e-mail com um catálogo do qual podemos escolher um livro, sobre o qual depois falamos no podcast. O livro de fevereiro eu escolhi junto com o Thiago e o episódio que fala dele, ou melhor, que vai partir do livro pra expandir o assunto central da história, vai ser gravado antes do final do mês, com convidados que cês não vão acreditar, cês não tão entendendo. O livro de março está sendo votado na Pistolândia, o grupo dos nossos catárticos no Telegram, enquanto digito esse post.

(Falando em catárticos, estamos muito precisados de mais apoio, principalmente depois do assalto desse fim de semana. Thiago precisa de um celular novo e de uma escrivaninha pra poder editar de casa, em vez de ficar no trabalho até onze da noite pra aproveitar os móveis ergonômicos da empresa.)

O legal é que os títulos disponíveis são sempre muito variados e temos que nos virar pra encaixá-los no nosso formato, no nosso estilo. É um ótimo exercício de criatividade e um desafio pra gente (leia-se “sarna pra se coçar”, mas a gente gosta). É também a oportunidade de fazer algo diferente, pois se por um lado ideias pra pauta não nos faltam, por outro é bom ter um ponto inicial concreto a partir do qual podemos ir pra várias direções diferentes na hora do debate, já que o tema central do livro pode ser explorado de ângulos variados que muitas vezes não teríamos levado em consideração se não fosse o livro.

Nem gravamos o primeiro ainda e já estamos mega animados 😀

Então fica aí a mensagem: leiam mais, ajudem a gente no Catarse, divulguem pros amigos, sigam a gente no Twitter e no Instagram e fiquem de olho no feed, porque vem coisa aí que cês não tão esperando não 😉