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Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 6: Defesa nacional

Tempo de leitura: 7 minutos

Olá, amiguinhos, estamos de volta para mais uma parte da análise do plano de governo de Bolsonaro. O último, além de ficar longo, deu um puta trabalho pra levantar os dados, então esse aqui vai ser um pouco mais curto e vai ter muita lição de história.

DEFESA NACIONAL

Garantia da Lei e da Ordem
Dentre instituições, grupos, pessoas ou atividades, que tiveram sua imagem atacada pela doutrinação ideológica de esquerda, certamente as Forças Armadas do Brasil estão entre as que mais sofreram.
Houve clara intenção de desconstruir a imagem desta espinha dorsal da Nação, afinal, elas são o último obstáculo para o socialismo.
Saliente-se que as Forças Armadas do Brasil tem uma História que nos orgulha. Por exemplo, heróis brasileiros lutaram contra o Nacional Socialismo na Segunda Guerra Mundial. Fomos o único país da América Latina a lutar contra os Nazistas. Posteriormente, outros heróis impediram a tomada do poder por forças de esquerda que planejavam um golpe comunista no Brasil em 1964, conforme o editorial: Julgamento da Revolução – O GLOBO, 7 de outubro de 1984.
Atualmente, a Nação olha para as Forças Armadas como garantia contra a barbárie.

Bolsonaro cita uma suposta difamação da imagem dos militares por um conceito muito vago de esquerda. Uma pena que seja lá onde ele estudou deve ter dormido nas aulas de história. Vamos recapitular?

  • 12/11/1823, a “Noite da Agonia”: Quando Karl Marx tinha apenas 5 anos e o Brasil apenas 1 ocorreu o primeiro golpe da pátria independente. Dom Pedro I ordenou um cerco e a prisão e exílio dos deputados constituintes liberais, formando logo depois um novo conselho composto apenas por conservadores da sua confiança. A quem foi ordenada tal atitude golpista? A eles, claro, os militares.
  • 23/07/1840, o Golpe da Maioridade: 34 anos do nosso bom velhinho terminar O Capital, lá estava o Brasil metido em outro rolo. Dom Pedro I abdicou do trono, seu filho ainda cheirarava a leite e a briga entre liberais e conservadores estava no auge. Em suma, fizeram a cabeça do moleque pra assumir logo e às favas a Constituição, que só permitiria a ascensão ao trono após os 18 anos completados.
  • 15/11/1889, a Proclamação da República: Mais uma vez tivemos paticipação direta dos militares. Marechal Deodoro da Fonseca foi persuadido a marchar contra seu mui amigo Dom Pedro II após Benjamin Constant e outros positivistas da época dizerem a ele que Gaspar da Silveira Martins, seu desafeto declarado, seria nomeado comandante do exército. Ah, é era mentira.
  • 03/11/1891, O Golpe de Três de Novembro: O mesmo Marechal Deodoro da Fonseca acaba eleito presidente pelo voto indireto e na data referida dissolveu o congresso nacional numa canetada e declarou estádio de sítio no país.
  • 23/11/1891, A Primeira Revolta da Armada fez sua principal vítima. Marechal Floriano Peixoto assume após a renúncia de Deodoro. A consituição da época regia que se o presidente deixasse o cargo em menos de um ano de sua eleição, deveriam haver novas eleições. Floriano não deu a mínima para os dispositivos constitucionais e permaneceu no cargo. 2 anos de república e 3 golpes de militares; que fase…
  • A Revolução de 30: Após uma eleição fraudada para que Júlio Prestes fosse o sucessor de Washington Luís, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba não aceitaram o resultado, e no vuco-vuco que se sucedeu João Pessoa, então governador da Paraíba, foi morto. Foi a gota d’água para que setores militares embarcassem no bonde golpista de colocar Getúlio Vargas na cadeira. Segue um trecho:“[…] detinha a superioridade militar sobre os revoltosos, mas faltava ao alto-comando vontade para defender a legalidade. Os chefes militares sabiam que as simpatias da jovem oficialidade e da população estavam com os rebeldes. Uma junta formada por dois generais e um almirante decidiu depor o presidente da República e passar o governo ao chefe do movimento revoltoso, o candidato derrotado da Aliança Liberal. Sem grandes batalhas, caiu a Primeira República, aos 41 anos de vida.”
    (Carvalho, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2015. p. 100).
  • O “Estado Novo”: Não perca as contas, ja estamos no sétimo golpe! Em 1937 o General Olímpio Mourão Filho fez uma presepada, inventou um tal de Plano Cohen inexistente e nele dizia que estava em curso uma possível tentativa de revolução socialista – na época o socialismo e o tenentismo afloravam no Brasil. Em 30 de setembro de 1937 o General Eurico Gaspar Dutra declara Estado de Guerra e cassa os direitos constitucionais. Em 10 de novembro é fechado o Congresso Nacional sob aplausos dos integralistas (uma versão tupiniquim do fascismo). Nada de eleições previstas para 38; a ditadura Vargas vai até 1945.
  • A Deposição de Vargas: Praticamente os mesmos militares que apoiaram o golpe de 1937 tiraram Vargas do cargo em 1945. Enquanto Getúlio tentava fazer uma transição para manter tudo dentro das suas vontades, a pressão popular ia apertando. Quando Gegê afastou o chefe de polícia do Distrito Federal, João Alberto Lins de Barros, e pôs em seu lugar seu próprio irmão, o General Góis Monteiro, que o havia ajudado em 1930, reagiu ao gesto de Vargas e mobilizou tropas no Distrito Federal. Góis e Dutra exigiram a renúncia, mas tudo que ganharam foi um cadáver martirizado.
  • 01/04/1964 O Golpe Militar: Esse eu vou me abster de comentar. Foram 21 anos de cerceamento de liberdades e todo o tipo de crime sob o pretexto de um fantasma do socialismo que jamais chegou perto de tomar o poder.

Nos nossos últimos NOVE Golpes de Estado apenas um não teve o envolvimento direto de setores das forças armadas. Diferente do que o candidato diz, as forças armadas não são “o último obstáculo para o socialismo”, mas sim o último obstáculo para a Democracia.

DEFESA NACIONAL

Segurança das Fronteiras
Devemos recuperar as condições operacionais de nossas Forças Armadas, com a valorização e a proteção de seus integrantes!
Diante das crises, nossos combatentes precisam de equipamentos modernos, não somente de veículos e armas. Ameaças digitais já são presentes. Nossas Forças Armadas precisam estar preparadas, através de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, com a participação das instituições militares no cenário de combate a todos os tipos de violência.
Além disso, no papel de consolidação nacional, devemos lembrar da participação das Forças Armadas no processo de atendimento da saúde e da educação da população, principalmente em áreas remotas do país.
As Forças Armadas terão um papel ainda mais importante diante do desafio imediato no combate ao crime organizado, sendo importante buscar uma maior integração entre os demais órgãos de segurança pública, principalmente na estratégia de elevar a segurança de nossas fronteiras.
Teremos em dois anos um colégio militar em todas as capitais de Estado.

Aqui basicamente só aparecem frases inócuas de exaltação das forças armadas, é o popular “jogar pra torcida”. A única coisa que é digna de nota aqui é o tal colégio militar. Sobre isso eu não vou fazer textão não, vou colocar um vídeo do Le Monde Diplomatique que é mil vezes melhor do que eu:

SUFOCAR A CORRUPÇÃO

• Transparência e Combate à Corrupção são metas inegociáveis.
• Como pilar deste compromisso, iremos resgatar “As Dez Medidas Contra a Corrupção”, proposta pelo Ministério Público Federal e apoiadas por milhões de brasileiros, e encaminhá-las para aprovação no Congresso Nacional.

Quando eu penso que já tava acabando o texto chegam as tais “As Dez Medidas Contra a Corrupção”. Não vai ter jeito, vamos ter que destrinchar. As tais medidas estão cheias de falácias e não tem como passar batido por elas.

Pra começar as 10MCC são referenciadas como se fossem um documento plural, contruído pelo MPF juntamente com a sociedade – ao menos é o que o site diz, mas “curiosamente” não há lugar algum em que você consiga acessar a íntegra dos documentos a não ser pelo site do 10MCC que, para a surpresa de ninguém, é do MPF!  Fique à vontade para procurar quem é essa sociedade que ajudou, não vai chegar a lugar algum. Há um problema nisso? Não exatamente, não é nada ilegal, mas essa maquiagem de iniciativa popular, convenhamos, não é a coisa mais moral do mundo.

Outra forma utilizada para legitimar as tais 10 medidas é dizer que elas têm como respaldo 2 milhões de assinaturas em um abaixo-assinado, mas vamos lá, se alguém te para na rua e diz que tem um abaixo-assinado que é contra a corrupção você deixaria de assinar? Quem diabos é a favor da corrupção??? É uma retórica baixa.

Eu poderia fazer um texto gigante sobre essas medidas ou até mesmo quem sabe elas virem um episódio do nosso podcast, eu só vou deixar aqui uma situação pra mostrar o quão absurdo é o projeto.

Vamos pegar o que está no anteprojeto do primeiro ato, o teste de integridade:

“Art. 3º Os testes de integridade consistirão na simulação de situações sem o conhecimento
do agente público, com o objetivo de testar sua conduta moral e predisposição para cometer ilícitos
contra a Administração Pública.”

Basicamente o que vai rolar? Lembra do teste de fidelidade do João Kléber? É basicamente isso, mas ao invés de uma modelo sensual forçando a barra pra cima de um garotão com namorada seria um policial disfarçado esfregando dinheiro na cara de um servidor público mal remunerado. E eu não tô inventando não, tem até artigo mandando filmar quando possível. A ideia é provocar uma situação pra cima do servidor forçando uma barra pra ele aceitar algum tipo de vantagem, financeira ou não e ser pego com a boca na botija.

Talvez você esteja achando interessante né? Bem, tudo terá de ser previamente comunicado e é vedada a realização dos testes com juízes e cargos de alto escalão, afinal todos sabem que quem fez o Petrolão, os escândalos de Furnas e do metrô de SP foram os almoxarifes e contínuos, né?

A medida é um ornitorrinco que mesmo que tivesse boa intenção possui várias falhas e abre precedentes para excessos. Ou você acha que não rolaria de plantar uma grana na sala daquele secretário que almoça com a turma do sindicato pra incriminá-lo e tirar do caminho? Achou exagerado? É porque você não conhece o modus operandi de alguns outros servidores públicos por aí… [¹] [²]

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 7:  Saúde

Tempo de leitura: 5 minutos

Falou em saúde e educação, eu entro em campo! Então lá vamos nós:

SAÚDE E EDUCAÇÃO

A SAÚDE DEVERIA SER MUITO MELHOR
Com o valor que o Brasil já gasta!
Abandonando qualquer questão ideológica,
chega-se facilmente à conclusão que a
população brasileira deveria ter um
atendimento melhor, tendo em vista o
montante de recursos destinados à Saúde.
Quando analisamos os números em termos
relativos, o Brasil apresenta gastos
compatíveis com a média da OCDE, grupo
composto pelos países mais desenvolvidos.
Mesmo quando observamos apenas os
gastos do setor público, os números ainda
seriam compatíveis com um nível de bem
estar muito superior ao que vemos na rede
pública.
É possível fazer MUITO mais com os
atuais recursos!
ESSE É NOSSO COMPROMISSO!

A saúde é uma bosta blá blá blá poderia ser melhor blá blá blá Whiskas sachê.  Gastaram um parágrafo inteiro pra falar o óbvio. Todo mundo sabe que a saúde pública fica muito aquém do que deveria, apesar do SUS ser um projeto MARAVILHOSO elogiado no mundo inteiro. Quantos outros países no mundo oferecem serviços de saúde totalmente gratuitos? Lembrando que em muitos outros ele é pago E ruim ao mesmo tempo. O SUS deve ser defendido com unhas e dentes, mas isso requer investimento. Coisa que o programa do Bozo já disse que não vai fazer (veja aqui e aqui). Eles dizem que é possível fazer muito mais com os atuais recursos (mais uma vez mostrando que não pretendem aumentar os investimentos no SUS). Como vão fazer isso?

SAÚDE NA BASE

O Prontuário Eletrônico Nacional Interligado será o pilar de uma saúde na base informatizada e perto de casa. Os postos, ambulatórios e hospitais devem ser informatizados com todos os
dados do atendimento, além de registrar o grau de satisfação do paciente ou do responsável. O cadastro do paciente reduz custos ao facilitar o atendimento futuro por outros médicos, em outros
postos ou hospitais. Além disso, torna possível cobrar maior desempenho dos gestores locais.

Ótima ideia informatizar tudo, super maneiro, fica bonitão, o computador lá, o médico cutucando a tela do tablet, todo disruptivo, pipipi popopó. Mas vem cá… O Brasil tem internet confiável, estável, difusa em todo o seu território? O posto de saúde lá nos cafundós do Amazonas vai ter prontuário digital?

E essa deveria mesmo ser a prioridade pra melhorar o SUS?

Credenciamento Universal dos Médicos: Toda força de trabalho da saúde poderá ser utilizada pelo SUS, garantindo acesso e evitando a judicialização. Isso permitirá às pessoas maior poder de escolha,
compartilhando esforços da área pública com o setor privado. Todo médico brasileiro poderá atender a qualquer plano de saúde.

“Todo médico brasileiro poderá atender a qualquer plano de saúde” na verdade quer dizer “todo médico brasileiro vai ter que ceder às compensações risíveis que os planos de saúde pagam aos profissionais, porque senão não conseguem trabalhar”. Poder de escolha coisa nenhuma – médico forçado a trabalhar por migalhas vai atender igual à cara dele, e não tiro a razão dele não.

 

PREVENIR É MELHOR E MAIS BARATO

Mais Médicos: Nossos irmãos cubanos serão libertados. Suas famílias poderão imigrar para o Brasil. Caso sejam aprovados no REVALIDA, passarão a receber integralmente o valor que lhes é
roubado pelos ditadores de Cuba!

Além da Revalida, sugiro apertar mais o Provão e a fiscalização das faculdades, porque o que tem de faculdade de medicina formando médicos péssimos no Brasil não tá no gibi. Temos uma legião de médicos que na verdade são técnicos em medicina incapazes de tratar os pacientes com gentileza, de dar atenção às queixas, de aceitar críticas, de ouvir outras opiniões, de trabalhar em harmonia com a equipe de enfermagem e com outros profissionais de saúde, que eles consideram inferiores. Uma legião de médicos que escrevem tudo errado, cometem erros inacreditáveis, são negligentes e jamais deveriam estar exercendo, mas estão, pois têm um diploma de uma faculdade vagabunda nas mãos. Prepara um Provão bem difícil, enche as faculdades de fiscais, faz avaliações severas e você vai ver quantas faculdades de bosta vão fechar. Vão sobrar bem poucas particulares, digo com tranquilidade.

 

Médicos de Estado: Será criada a carreira de Médico de Estado, para atender as áreas remotas e carentes do Brasil

Já existem programas pra mandar médicos pra regiões remotas do país; tenho colegas que trabalharam em cidades microscópicas em áreas de floresta e tal. Ninguém quer ir, porque ninguém em sã consciência quer morar num lugar remoto, sem infra nenhuma, sem conforto, sem nada pra fazer. Além de médicos, esses lugares remotos precisam de infraestrutura, que não está prevista no programa. Obviamente, o programa não especifica como será essa carreira, quem vai fazer parte dela, de onde virão os fundos pra custeá-la, como serão definidos os locais pra onde serão mandados esses profissionais. Mais uma frase absolutamente vazia, desprovida de significado.

 

Os agentes comunitários de saúde serão treinados para se tornarem técnicos de saúde preventiva para auxiliar o controle de doenças frequentes como diabetes, hipertensão, etc.

Legal, medicina preventiva. Já existem agentes comunitários treinados (também) pra saúde preventiva. São poucos, ganham pouco e contam com pouca infraestrutura. Quais são os planos pra mudar esse quadro? Nenhum, ao que parece, pois o plano não especifica.

 

UM EXEMPLO DE PREVENÇÃO

Saúde bucal e o bem estar da gestante. Estabelecer nos programas neonatais em todo o país a visita ao dentista pelas gestantes. Onde isso foi implementado , houve significativa redução de prematuros.

Saúde bucal é importante pacas, eu sei. Boa saúde bucal reduz o tempo de internação em UTI, por exemplo. Mas e aí? Do que mais precisamos, além de reduzir a incidência de bebês prematuros? Por que essa obsessão com a saúde bucal? Ele deve ter lido algo sobre isso em algum lugar, achou chique e agora enfia isso em tudo o que é debate e conversa.

 

Outro exemplo será a inclusão dos profissionais de educação física no programa de Saúde da Família, com o objetivo de ativar as academias ao ar livre como meio de combater o sedentarismo e a obesidade e suas graves consequências à população como AVC e infarto do miocárdio.

Interessante. Onde serão essas academias ao ar livre? Nas muitíssimas (cof cof) áreas verdes das nossas cidades, visto que somos um país que preza muitíssimo pelos seus parques (cof cof)? Que horas as pessoas irão fazer atividade física?  Antes ou depois de pegar a primeira de três conduções pra ir pro trabalho ou pra voltar pra casa? Quem vai ficar com os filhos dessas pessoas enquanto elas malham? Vai haver educação alimentar pra esses cidadãos? Porque todo mundo tá careca de saber que alimentação, estresse, fumo, consumo de álcool são fatores tão importantes quanto o sedentarismo pra manutenção da saúde. O que será feito pra reduzir o estresse das pessoas? Dica: cortar o décimo-terceiro salário NÃO reduz o estresse.

Mais um bloco do programa que não diz absolutamente nada. Nada, nada, nada. Um grande vazio de ideias habitado por frases feitas desprovidas de significado, que um macaco mais espertinho seria capaz de formar usando aqueles kits de palavras magnéticas pra colar na porta da geladeira.

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 5: “Mentiras da esquerda”

Tempo de leitura: 7 minutos

Opa! Estamos de volta pra continuar a nossa saga pelo território inóspito de ideias chamado “Projeto Fênix”. Se segura que só pelo título esse aqui já promete!

MENTIRAS DA ESQUERDA

“a polícia é a que mais mata“
• O Brasil está em Guerra. Veja o título do recente documentário da Globo: “A Guerra do Brasil”!
• Segundo o IBGE, criminosos praticaram oficialmente 62.517 homicídios no Brasil em 2016.
• Intervenções policiais legais resultaram em 1.374 mortes em 2016.
• Apenas 2% de mortes violentas no Brasil estiveram associadas com ações policiais.
• Tais ações estão concentradas em dois Estados: Rio de Janeiro, com 538 mortes; e Bahia, com 364 mortes. Juntos, totalizam 66% das mortes! Retirando-se esses dois Estados, em 2016 as mortes violentas no Brasil associadas com ações policiais seriam 472, um número inferior a 1% do total

OK, logo depois do título que afirma que a esquerda mente vem a frase entre aspas “a polícia que mais mata”, isso já nos leva a crer que essa afirmação é mentirosa. Bem, se ele realmente acredita que esses dados são mentirosos é melhor ele ir reclamar com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública ou então com a Anistia Internacional. Vamos vencer essa frase a coisa ainda vai longe e não dá pra simplesmente enfiar os dados na cabeça de quem teima no negacionismo.

Essa segunda frase é sensacional! Você deve acreditar que o Brasil está em guerra, por qual outro motivo a Globo faria um documentário chamado “A Guerra do Brasil”? Acabei de ver que tem um documentário chamado “BR-101: A rodovia de muitos ‘Brasis'”. Será que todos os movimentos separatistas lograram êxito e eu não fiquei sabendo?

Em tempo: afinal a Globo mente ou fala a verdade? Matéria dela só serve quando convém?

Eu não deveria, mas como eu sou um cara muito legal, eu vou passar pro JB os números reais e atualizados das mortes decorrentes de intervenções policiais em 2017 (francamente, PSL, eu sozinho faço uma pesquisa melhor que a equipe de planejamento presidencial de vocês, que vergonha). Em números absolutos foram 5.169 mortes, um número mais de 3,76 vezes maior que o publicado no plano de governo de Bolsonaro. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

A GUERRA NO BRASIL SERÁ VENCIDA!

NOSSOS HERÓIS SERÃO LEMBRADOS!
• Enquanto a esquerda está preocupada com as mortes associadas a ações policiais, segundo a Ordem dos Policiais do Brasil (OPB), foram mortos 493 policiais em 2016! Em 2017 esse total subiu para 552 e, infelizmente, tudo indica que teremos ainda mais policiais mortos em 2018.
• São Heróis Nacionais que tombaram e foram esquecidos pelos atuais governantes nesta Guerra do Brasil! Um dos compromissos será lembrar o nome de cada um desses guerreiros! Suas famílias serão homenageadas e cada um desses heróis terá seu nome gravado no Panteão da Pátria e da Liberdade!
Nós brasileiros agradecemos aos heróis e suas famílias pela  coragem e pelo sacrifício que fizeram! Que seus nomes nunca sejam esquecidos!

Uma coisa que me mata de agonia nesse ufanismo militarista todo é a quantidade de exclamações e gritos de guerra. Um saco tentar argumentar quando o outro lado só tá gritando frases motivacionais. Se essa porra resolvesse alguma coisa era só dar um megafone na mão do augusto Cury e o Brasil virava a Suíça.

Diferentemente do candidato, que costuma trocar de órgão para o que melhor apetece a sua visão de mundo, eu vou continuar a fazer a análise com os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2018. Nele consta que o número de policiais vítimas de homicídio foi de 386 em 2016 e 367 óbitos em 2017. Claro que o número não deixa de ser trágico; é lamentável ver trabalhadores mal remunerados e pouco capacitados perdendo suas vidas num combate sem sentido, mas aqui vou continuar me atendo aos dados do candidato e o fato é que os dados informados por Bolsonaro são, respectivamente, 27% e 50% maiores do que o reportado. Tire suas próprias conclusões. Pra mim isso aí é desonestidade.

A melhor forma de honrar cada um dos caídos nessa grande idiotice chamada guerra às drogas é, de uma vez por todas, evitar que outros trabalhadores trilhem o mesmo caminho. Isso passa inevitavelmente por reorientar a política de drogas no país. E se você não acredita nisso, saiba que não sou em quem diz. Esse é o sexto ponto da agenda “Segurança Pública é a Solução”, criada pelo mesmo Fórum Brasileiro de Segurança Pública citado anteriomente.

PRENDER E DEIXAR NA CADEIA SALVA VIDAS!

Mato Grosso do Sul, São Paulo e Brasília são os que mais prendem e os que mostram avanços…
http://www.justica.gov.br/news/mj-divulgara-novo-relatorio-do-infopen-nesta-terca-feira/relatorio-depen-versao-web.pdf

OUTRO EXEMPLO DE MUDANÇA IDEOLÓGICA

Combater o ESTUPRO de mulheres e CRIANÇAS!

Ué, se prender salva vidas e nós temos a terceira maior população carcerária do mundo, por que é que não somos o terceiro país mais seguro do mundo? Essa falácia foi tão fácil de desmentir que não deu nem graça, mas aqui a ideia não é ficar jogando frase de efeito pra cair oclinhos na cara e virar um meme babaca, então vamos usar números: no 10º Anuário de Segurança Pública de 2016 foi registrada uma população carcerária de 584.361 detentos; em 2018 o mesmo relatório apresenta o número de 729.551 presos, um aumento de quase 25%. Vejamos os outros crimes citados:

Homicídios: de 52.463 para 55.900, aumento de 6,5%

Roubo e furto de veículos: de 242.097 para 276.371, aumento de 14%

Estupros: de 55.070 para 61.032, aumento de 10%

Você, leitor, se sente mais seguro agora? Se a atual política de encarceramento não vem funcionando, o que é que faz o candidato acreditar que a dele fará?

CONCLUSAO (sic)

Os números comprovam que o extermínio de brasileiros é realizado pelos criminosos!
Para reduzir os homicídios, roubos, estupros e outros crimes:
1º Investir fortemente em equipamentos, tecnologia, inteligência e capacidade investigativa das forças policiais,
2º Prender e deixar preso! Acabar com a progressão de penas e as saídas temporárias!
3º Reduzir a maioridade penal para 16 anos!
4º Reformular o Estatuto do Desarmamento para garantir o  direito do cidadão à LEGÍTIMA DEFESA sua, de seus familiares, de sua propriedade e a de terceiros!
5º Policiais precisam ter certeza que, no exercício de sua atividade profissional, serão protegidos por uma retaguarda jurídica. Garantida pelo Estado, através do excludente de ilicitude. Nós brasileiros precisamos garantir e reconhecer que a vida de um policial vale muito e seu trabalho será lembrado por todos nós! Pela Nação Brasileira!
6º Tipificar como terrorismo as invasões de propriedades rurais e urbanas no território brasileiro.
7º Retirar da Constituição qualquer relativização da propriedade privada, como exemplo nas restrições da EC/81.
8º Redirecionamento da política de direitos humanos,  priorizando a defesa das vítimas da violência.

Dava pra falar bastante sobre cada um desses pontos mas vamos nos ater a só alguns, até porque o texto já está muito longo e ainda faltam mais 13 partes.

Vale tomar algum tempo pra se falar do tal “excludente de ilicitude”. Esse mecanismo legal já existe no nosso código penal e diz o seguinte:

Art. 23

“Não há crime quando o agente pratica o fato:
I – em estado de necessidade;
II – em legítima defesa;
III – em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Parágrafo Único. O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo.”

Art. 24

“Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
    §1º Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
    §2º Embora seja razoável exigir-se o sacrifício do direito ameaçado, a pena poderá ser reduzida de um a dois terços.”

Ou seja, matar uma pessoa é crime mas se essa pessoa estiver sob as circunstâncias acima tudo é relativizado. Pelas características da lei já se pode notar de que ela é traada como uma exceção, uma previsão jurídica de uma situação que eventualmente pode acontecer mas não é o ideal (bem, dá pra falar disso de todo o código penal). O problema aqui é que Bolsonaro trata essa prerrogativa como uma regra, sendo assim não é nenhum exagero dizer que o que ele propõe é dar uma licença para matar. a afirmação de que “precisamos garantir e reconhecer que a vida de um policial vale muito” não passa de um espantalho para uma falsa simetria em que a vida de um policial vale mais que a de qualquer pessoa suspeita de um crime, seja ela inocente ou não.

Lembra do papo que bandido bom é bandido morto? Então, senta aqui e leia esse texto. O excludente de licitude dá a qualquer criminoso que se esconda atrás de uma farda a possibilidade de escapar de prisões preventivas e a liberdade provisória mesmo se pego em flagrante. Parece uma boa ideia pra você?

A questão sobre o direito de propriedade também é bem sintomática. Eu realmente fiquei espantado de nenhum adversário estar batendo nisso. Vejamos o que é a tal EC/81 que ele quer derrubar:

“Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a fundo especial com destinação específica, na forma da lei.”

Já sabemos que o candidato não é um defensor das drogas. O que sobrou na lei? O trabalho escravo. Pra evitar qualquer tipo de confusão sobre o que a legislação brasileira considera trabalho escravo, vamos ver direto da fonte:

Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:

§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:

– cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;

II – mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.”

Não há a mínima possibilidade de achar esse texto dúbio. Juntando os pontos, dá pra concluir que Bolsonaro é contra retirar as terras de um proprietário que tenha comprovadamente usado mão de obra de pessoas escravizadas em sua plantação, uma pessoa que tem sangue nas mãos.

Entre escolher entre a dignidade dos trabalhadores e a propriedade privada, Bolsonaro já fez a sua escolha. Eu não consigo expressar em texto o tamanho do meu ódio.

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

É isso mesmo que você quer para o país? Se não for, não deixe de compartilhar esse texto com seus amigos (ou não), e se estiver dentro das suas possibilidades considere auxiliar financeiramente o nosso humilde projeto. Com apenas 5 reais você nos ajuda demais a manter os custos e a qualidade do trabalho aqui feito.

 

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 4: Linhas de ação

Tempo de leitura: 6 minutos

Já que a gente se meteu nessa enrascada por iniciativa própria, simbora continuar essa série pra terminar o quanto antes. A palavra chave de hoje é: segurança.

LINHAS DE AÇÃO

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO: enfrentar o crime e cortar a corrupção.
SAÚDE E EDUCAÇÃO: eficiência, gestão e respeito com a vida das pessoas. Melhorar a saúde e dar um salto de qualidade na educação com ênfase na infantil, básica e técnica, sem doutrinar.
ECONOMIA: Emprego, Renda e Equilíbrio Fiscal. oportunidades e trabalho para todos, sem inflação.

“Enfrentar o crime e cortar a corrupção”, baita proposta, hein! Como ninguém pensou nisso antes, não é mesmo?

Esse slide não tem nenhuma informação digna de nota, todos esses assunto serão melhor (?!) abordados no futuro, então vamos ignorar por enquanto.

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO

SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO
A Globo, em seu documentário A Guerra do Brasil (dezembro de 2017), chama atenção para alguns números:

  • 60 mil homicídios por ano, mais que 92 países juntos. Muito acima dos 14 mil homicídios dos EUA, que têm uma população 50% maior que a nossa.

  • No Brasil, 786 mil pessoas foram assassinadas entre 2001 e 2015.

  • Na Guerra do Iraque, entre 2003 e 2017, foram mortas 268 mil pessoas; Na Síria, de 2011 a 2017: 330 mil.

  • Segundo o documentário, os culpados são: as armas de fogo, que causam 7 em cada 10 mortes.

  • O documentário indica os 5 primeiros colocados no ranking de piora: Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, Bahia e Ceará, porém, deixa no ar a razão da piora.

  • Menciona a melhora substancial que a Colômbia teve, pois reduziu em 70% os homicídios, porém, não diz as causas disso.

Desculpem a repetição da frase “SEGURANÇA E COMBATE À CORRUPÇÃO” mas eu prometi que iria manter como está no original.

Então vamos lá, os números. Eu não vou procurar a fonte dos números pra não cair em uma guerra de narrativas; vou tomá-las como verdadeiras para analisar estritamente o conteúdo do documento. Indo por essa lógica, eu já posso dizer logo de cara que é bastante desonesto comparar uma guerra como a do Iraque com a situação do Brasil. O Brasil possui uma desigualdade social abissal e a violência aqui se dá de uma forma completamente diferente. Não dá pra comparar com uma guerra em que um dos lados matava pessoas como se estivesse jogando videogame (vídeo não indicado para pessoas sensíveis).

Lembre-se: temos a maior taxa de mortes de policiais do mundo e a polícia que mais executa pessoas também. Ambos os fatos são absurdos, sem exceções.

Sobre os estados, eu falo depois do próximo slide.

“CONTRA A ESQUERDA: NÚMEROS E LÓGICA”

• As armas são instrumentos, objetos inertes, que podem ser utilizadas para matar ou para salvar vidas. Isso depende de quem as está segurando: pessoas boas ou más. Um martelo não prega e uma faca não corta sem uma pessoa…
• EUA, Áustria, Alemanha, Suécia, Noruega, Finlândia, Israel, Suíça, Canadá, etc, são países onde existe uma arma de fogo na maioria dos lares. Coincidentemente, o índice de homicídios por armas de fogo é muito menor que no Brasil. No Canadá, são 600 homicídios por ano! Em Israel 110 e Suíça 40!
• Peguemos o exemplo de nossos vizinhos: Chile, Uruguai, Argentina e Paraguai. Um tratamento estatístico mostrará uma correlação inversa entre armas nos lares e homicídios!
• Já a Venezuela, que aumentou a restrição às armas da população civil, está com o dobro de homicídios do Brasil: quase 60 por 100 mil. Com 31 milhões de habitantes, matam 17 mil por ano! Seria como 120 mil homicídios no Brasil por ano!

Adorei esse slide, ele já começa com “CONTRA A ESQUERDA” hahahaha. Bem, então vejamos.

A primeira afirmação é verdadeira, claro; objetos não cumprem os seus objetivos sem uma ação de comando. A diferença é que o martelo e a faca (eu não devia mas eu ri quando vi a referência) não têm por objetivo principal matar.

A segunda informação também não está errada do ponto de vista estatístico; talvez só tenha faltado dizer que TODOS os países citados também possuem um nível de desigualdade social muito menor que o nosso, ou vai dizer que você preferiria morar num Brasil com armas a morar numa Suíça desarmada?

OK, vejamos as leis dos países citados na URSAL América Latina. A fonte é do Senado Federal:

  • CHILE: Uma lei de novembro de 2004 prevê prisão para quem porta armas ilegais e anistia quem entregá-las em delegacias.
  • URUGUAI: Posse é permitida, após curso sobre manejo de armas e legislação. São exigidos testes psicológicos e físicos, além de atestado de antecedentes criminais.
  • ARGENTINA: O porte, conforme a legislação local, só se permite a policiais e militares e, excepcionalmente, a civis cuja vida esteja comprovadamente em perigo
  • PARAGUAI: O porte é permitido, existindo restrições só para armas automáticas ou de guerra.

Vê-se que os caminhos não são tão diferentes assim dos que foram tomados pelo Brasil. A Venezuela não foi colocada em um tópico à parte por acaso; todos sabemos que as conversas se inflamam quando se fala de qualquer ação tomada no palácio de Miraflores. A lei do desarmamento venezuelana foi citada de modo tão vago que eu vou até deixar o link do documento original aqui pra quem quiser  estudar o caso.

Para os preguiçosos, eu dou uma resumida aqui: no tocante ao porte de arma, esse só fica totalmente proibido caso seu dono esteja drogado ou bêbado ou em manifestações ou locais públicos em que haja consumo de bebidas alcoólicas (artigo 10). No mais, as únicas armas proibidas são as não registradas.

“Artículo 1. Esta Ley tiene por objeto el desarme de las personas que porten, detenten u oculten armas de fuego de manera ilegal, a los fines de salvaguardar la paz, la convivencia, la seguridad ciudadana, y de las instituciones, así como la integridad física de las personas y de sus propiedades.

(…)

Artículo 3. Son armas de fuego ilegales las que no estén registradas en la Dirección de Armamento de la Fuerza Armada Nacional. “

Vou deixar que você tire suas próprias conclusões…

AIN MAS VC NAUM REFUTOU O NÚMERO DE MORTES NA VENEZUELA!!!!11!!

De fato não o fiz, lembra do que eu falei sobre a desigualdade? Então…

“VAMOS AOS FATOS”

Os 5 primeiros colocados no ranking de piora: Rio Grande do Norte, Maranhão, Pará, Bahia e Ceará, são regiões que passaram a ser governadas pela esquerda ou seus aliados e onde a “epidemia” de drogas não foi coincidentemente introduzida.
Aliás, o avanço das drogas e da esquerda são prevalentes nas regiões mais violentas do mundo: Honduras, Nicarágua, El Salvador, México e Venezuela (onde há forte restrição à população ter armas).
O documentário NÃO menciona que a melhora substancial da Colômbia foi o resultado da derrota das FARC (que abertamente vive do tráfico de drogas). Além disso, as FARC participaram do Foro de São Paulo, fundado pelo PT e pelo ditador cubano. A verdade é que o número de homicídios no Brasil passou a crescer de forma consistente a partir do 1º Foro de SP, no início dos anos 1990.
Houve até “bolsa crack” em cidades administradas pela esquerda, como por exemplo em São Paulo.

Não causa nenhuma surpresa constatar que os estados citados pelo programa de governo de Bolsonaro têm várias outras coisas em comum: todos ficam no Nordeste, região que sofre com uma disputa de território por parte do Comando Vermelho e do Primeiro Comando da Capital, ambos oriundos do Sudeste. Alguém aí pode me citar ações concretas do ex-militar para conter o avanço do CV em seu estado? Não achei nenhuma aqui e me parece que 27 anos foram tempo o suficiente pra pensar nessas coisas, né não? Estes estados também figuram nada bem no Índice de Gini, um indicador que mede a desigualdade social. Associar essa ascenção do crime com os governos de esquerda é, pra dizer o mínimo, uma correlação espúria, assunto que você já viu em outro texto da série.

Esse “bolsa crack” citado é digno de uns pitacos e talvez seja a parte mais canalha do slide. Primeiro porque é praticamente jogado no slide sem contextualização, deixando a cargo do leitor fazer a associação que lhe convém. No caso dos bolsonaristas de plantão, vai ser a pior possível, por se tratar de um programa de governo associado à Prefeitura de São Paulo no mandato de Haddad. O nome disso é wishful thinking, o “pensamento desejoso” de que isso seja verdade. A canalhice ainda é maior quando a forma vaga da frase dá chance para a ambiguidade: a tal “bolsa crack” pode ser compreendida como um apelido ao programa “De braços abertos” – que visava ser um programa de redução de danos com oferta de moradia e emprego a fim de quebrar o estigma dos usuários – ou como uma fake news que rolou há algum tempo atrás. Vai da honestidade intelectual do leitor.

“VAMOS AOS NÚMEROS: ATLAS DA VIOLÊNCIA 2018 DO IBGE”

Esse eu tive até que printar que esse silde é praticamente uma vitamina de ódio dos tempos da guerra fria com o mais puro Tiozão do Zap!

Você que chegou até aqui já é bem inteligente pra saber que a relação não é verdadeira, então não tem muito o que comentar sobre essa parte, a não ser que o link informado no slide está quebrado e não leva a lugar nenhum.

Chega por hoje.

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 3: “A nova forma de governar”

Tempo de leitura: 4 minutos

Estrutura e Gestão

REDUÇÃO DE ESTRUTURAS MINISTERIAIS
ATUALMENTE TEMOS 29 MINISTÉRIOS

23 Ministérios;
2 Secretarias com status de Ministério;
4 Órgãos com status de Ministério;
Fonte:www2.planalto.gov.br/presidencia/ministros

O PAÍS FUNCIONARÁ MELHOR COM MENOS MINISTÉRIOS
Um número elevado de ministérios é ineficiente, não atendendo os legítimos interesses da Nação. O quadro atual deve ser visto como o resultado da forma perniciosa e corrupta de se fazer política nas últimas décadas, caracterizada pelo loteamento do Estado, o popular “toma lá-dá-cá”.

Mas olha só quem aprendeu a dar fontes sobre as informações que divulga! Uma pena isso só acontecer quando é conveniente e óbvio.  Nesse trecho a única coisa digna de nota é a expressão “toma lá-dá-cá” (porque diabos eles escrevem desse jeito, cacete??).

Qualquer um que já tenha acompanhado as entrevistas de Bolsonaro em sabatinas ou debates já se deparou com essa expressão, é um termo que ele usa com muita frequência e está associado à troca de favores entre políticos e partidos e também como uma crítica à partilha de cargos em ministérios e secretarias a fim de compor uma base menos turbulenta. Curiosamente, pesquisando aqui eu não achei nenhuma crítica do então deputado Bolsonaro à nomeação para o IBGE de Paulo Rabello de Castro do seu partido à época, o PSC. Pouco mais de um ano depois Rabello foi nomeado presidente do BNDES sob aplausos das associações empresariais (leia-se FIESP e demais amigos do Pato) pois viram nele uma pessoa que acabaria com a política da gestão anterior que foi, segundo eles  de “baixa liberação de recursos e do rigor fiscal da equipe econômica”, ou seja, nas entrelinhas o patronato brasileiro queria uma pessoa mais mão aberta com os recursos públicos federais, que exigisse menos garantias e não fosse tão fiscalmente criteriosa (Estado mínimo pra quem mesmo?).

Se alguém achar uma linha de citação deBolsonaro criticando essas atitudes, me mande, pois eu realmente não vi em lugar nenhum.

ORÇAMENTO BASE ZERO

Com o fim do aparelhamento dos ministérios, inverteremos a lógica tradicional do processo de gastos públicos. Cada gestor, diante de suas metas, terá que justificar suas demandas por recursos públicos.
Os recursos financeiros, materiais e de pessoal, serão disponibilizados e haverá o acompanhamento do desempenho de sua gestão.
O montante gasto no passado não justificará os recursos demandados no presente ou no futuro. Não haverá mais dinheiro carimbado para pessoa, grupo político ou entidade com interesses especiais.
Prioridades e metas passam a ser a base do Orçamento Geral da União, para gastar o dinheiro do POVO obtido pelos impostos.

Isso aqui me parece no mínimo delirante, parece que eu estou ouvindo alguém que está ardendo em febre e não consegue concatenar suas ideias. Talvez seja a parte mais vaga do plano até agora: metas para ministérios? Qual vai ser a meta do ministério da cultura? O número de pessoas que leram Machado de Assis? Que visitaram museus? Isso não faz o menor sentido.

Falar sobre não haver “dinheiro carimbado” também é complicado; parece que os 27 anos como deputado não ajudaram Bolsonaro a entender como funciona a administração pública, mesmo depois de ter participado de 26 aprovações de orçamento.

Será que isso aqui é dinheiro carimbado?

A imagem acima foi retirada da última Lei orçamentária aprovada, caso alguém queira mais detalhes está disponível aqui

MAIS BRASIL, MENOS BRASÍLIA

Brasília não pode ser o objetivo final de um governo. Quase 99% da população vive nos outros 5.570 municípios do Brasil.
Os ministros passam a ser executivos em suas respectivas áreas, com a missão de coordenar esforços de governadores, prefeitos e seus secretários para o atingimento de metas claras.
Nas últimas décadas, o Governo Federal concentrou a arrecadação de tributos, criando burocracia e ineficiência para controlar os entes federados. Queremos uma Federação de verdade. Os recursos devem estar próximos das pessoas: serão liberados automaticamente e sem intermediários para os prefeitos e governadores. As obras e serviços públicos serão mais baratos e com maior controle social.

UM GOVERNO QUE CONFIA NOS BRASILEIROS!
Chega de carimbos, autorizações e burocracias. A complexidade burocrática alimenta a corrupção. Faremos um Governo que confiará no cidadão, simplificando e quebrando a lógica que a esquerda nos impôs de desconfiar das pessoas corretas e trabalhadoras. Não continuaremos a tratar a exceção como regra, o que prejudica a maioria dos seguidores da lei.
O GOVERNO VAI CONFIAR NOS INDIVIDUOS!
O GOVERNO RECUARÁ, PARA QUE OS CIDADÃOS POSSAM AVANÇAR!

Neste trecho, Bolsonaro (ou seja lá quem escreveu isso pra ele, futuramente teremos razões pra duvidar que ele sequer leu esse documento) induz o leitor ao erro de associar automaticamente os controles à burocracia. O auge desse trecho é a frase “Faremos um Governo que confiará no cidadão, simplificando e quebrando a lógica que a esquerda nos impôs de desconfiar das pessoas corretas e trabalhadoras. Não continuaremos a tratar a exceção como regra, o que prejudica a maioria dos seguidores da lei”. Seguidores da lei assim como o Paulo Guedes, que ganhou uma nota preta com uma fraude na bolsa de valores?

Essa liberalização pregada por Bolsonaro nada mais é do que o enfraquecimento dos instituições de fiscalização e controle. Se já há corrupção com todos os mecanismos de hoje, o que será de nós sem eles? Claro que teremos mais corrupção, será terra de ninguém! O próximo passo seria vir a público e dizer ‘ain, tem muita corrupção no setor público, acho melhor a gente privativar…’. Bem-vindos ao tenebroso mundo do Estado mínimo.

E a tendência é piorar…

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

pequenos machismos, grandes vitórias

Tempo de leitura: 5 minutos

Vamos falar hoje de pequenos machismos terrivelmente entranhados na nossa sociedade, que muitas vezes passam batido e a gente nem nota.

Há algumas semanas um dos meus amigos médicos publicou esse meme no grupo de WhatsApp da faculdade:

Deixei quieto um tempo pra ver se alguém dizia alguma coisa. Alguns riram; a maioria nem respondeu. Depois de um tempinho fui no grupo das meninas mais chegadas e perguntei: quantos homens vocês conhecem que gastam mais que as suas mulheres? Só uma respondeu que isso era maluquice, pois sabe-se que mulheres gastam mais. As outras concordaram que seus maridos gastam mais – e eu me incluo nesse grupo. Não só porque ganho muito menos do que o meu marido, mas porque não tenho paixão por compras idiotas que nem ele (fora alguns muitos Funko Pops, não costumo comprar coisas inúteis e caras).

Como eu vi que ninguém notou o quão machista e idiota é esse meme, deixei o assunto morrer, apesar da vontade ter sido de apontar por que ele é machista. Esse tipo de piada cretina parte do pressuposto que mulheres são fúteis e interesseiras, gastando o dinheiro do marido, o pobre coitado que rala e bota comida na mesa, obrigado a dar dinheiro pra cobrir despesas como manicure, depilação, coleções infinitas de sapatos e bolsas e outros custos tipicamente femininos.

O que eu queria ter dito era isso:

1) Se é verdade que muitas mulheres são sustentadas pelos maridos, também é verdade que:

a) Em muitíssimos casos isso se dá por falta de incentivo a subir na carreira tanto quanto os homens;

b) Em muitíssimos casos isso se dá porque o ambiente no trabalho é tão machista que impede que mulheres avancem na carreira;

c) Frequentemente mulheres abandonam suas carreiras pra ficar com os filhos, pois todo mundo sabe que cuidar de filho é coisa só de mulher;

d) Frequentemente mulheres abandonam suas carreiras pra seguir o marido, que se muda por causa do emprego. Eu conheço uma dentista que parou de trabalhar porque o marido se muda periodicamente a trabalho e pra ela é impossível montar um consultório e formar clientela fixa sabendo que dali a dois anos vai se mudar novamente;

d) MULHERES GANHAM MENOS QUE HOMENS COM CAPACIDADES SEMELHANTES;

e) O mundo espera que as mulheres sejam sustentadas por seus maridos e muitas delas jamais se questionam sobre isso, jamais pensam em ter sua independência financeira. Certamente não somos educadas desde pequenas pra sermos independentes em termos econômicos.

 

2) Mesmo se fosse verdade que toda mulher gasta rios de dinheiro com manicure, cabelos, maquiagem, sapatos, bolsas, depilação, POR QUE DIABOS ISSO ACONTECE? Cês acham mesmo que a gente acorda um dia e decide depilar a virilha assim do nada? Acham mesmo que a gente nasceu amando tirar cutícula? Acham mesmo que desde pequenas sonhamos com peitos de silicone? Ou será, SERÁAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA, que tem um tiquinho de pressão social aí, hmmmmm?

Você que acha que eu estou exagerando, que esse autocuidado é uma coisa típica de mulher, uma coisa natural, uma coisa genética, uma coisa com a qual nascemos: quantas vezes você já criticou o aspecto físico de outra mulher? Quantas vezes você falou ou pensou que feminista não raspa o sovaco? Quantas vezes você não pensou “nossa, que desleixada” quando viu uma mulher com as unhas sem fazer, com as raízes dos cabelos sem pintar, com buço, sem maquiagem, com uma roupa menos arrumada? Bote a mãozinha na consciência e admita pra você mesma que você faz isso todo dia. Eu faço isso todo dia – a diferença é que parei de falar em voz alta, e meu objetivo é parar totalmente de pensar essas coisas. Talvez consiga um dia, mas não garanto; esse condicionamento mental é foda de superar.

Enfim, tudo isso eu queria ter dito, mas não disse porque estava com preguiça de discutir o óbvio.

Hoje em um subgrupo da faculdade (grupo de zap é igual gremlin, se você molhar, ele vira vários outros) alguém postou tuítes do Mr Catra, que não irei reproduzir aqui por preguiça mesmo. Eram vários, um pacote de tuítes, e a maioria tinha conteúdo machista. Bem machista mesmo, escroto, sabe. Eu estava almoçando quando a mensagem chegou; revirei os olhos e voltei ao meu filé de frango na chapa. Qual não foi a minha surpresa quando uma das meninas, anestesista, disse:

“Só achei engraçada a x e a y. As outras são tão machistas que agridem. Desculpa, mas nem consegui achar graça”

Engasguei com a couve de tanta emoção. Logo depois uma das outras meninas, radiologista, deu um reply com o emoji de mulher com a mão levantada, tipo “idem”. Fiz o mesmo. Fui seguida por um dos meninos, proctologista, que disse “também achei. Achei rude e grosseiro”.

MEU

ZEUS

DO

CÉU

Levei a conversa ao grupo das meninas, onde agradeci à anestesista por ter feito a observação, pois estou cansada de ser a única chata do rolé (no Rio é rolé; sorry not sorry). Seguiu-se uma breve mas linda conversa sobre o que é machismo e o que não é, sobre o que é engraçado e o que não é.

A conclusão foi, obviamente, que o humor Trapalhões, que caçoa de mulheres, negros, gordos e gays, tem que ser deixado lá nos anos 80, dos quais jamais deveria ter saído. Uma coisa só é engraçada quando ninguém se ofende. E que o fato de VOCÊ não se ofender com x ou y (eu sou uma que dificilmente me ofendo, por exemplo) não significa que a coisa não é ofensiva pra um outro grupo inteiro de pessoas. Colocar-se no lugar dos outros é um exercício difícil mas que deveríamos fazer sempre. Se alguém tá dizendo que tá sendo ofendido pela piada, pare e pense. É provável que esteja mesmo e que você não tenha pensado sobre isso porque não é o seu calo que está sendo pisado.

NÃO É MIMIMI. NÃO É O MUNDO FICANDO CHATO. É o mundo aprendendo a reclamar quando alguém escroto ri de algo ofensivo pra outras pessoas. Ou seja, é grande a probabilidade que você seja só uma pessoa horrível mesmo que até agora não entendeu que certas piadas são ofensivas e não devem mais ser reproduzidas. 2018, zente. Já deu, né?

Em caso de dúvida, pergunte a alguém que pertence à minoria que está sendo sacaneada. Siga os ensinamentos de Buda: NÃO SEJA CUZÃO.

Um beijo especial pras meninas – Hallynne, Djésmin, Pinho, Sassá – e pro Queiroz. Que mais e mais fichas caiam, todos os dias.

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília”

Tempo de leitura: 6 minutos

E aí, curtiu a primeira parte? Então simbora seguir a análise dessa bela obra (no sentido informal da palavra) de Bolsonaro.

“A NOVA FORMA DE GOVERNAR! MAIS BRASIL, MENOS BRASÍLIA”

2019 SERÁ O ANO DA MUDANÇA
NOSSA VITÓRIA SERÁ CONTRA A SERVIDÃO!
Faremos os ajustes necessários para garantir crescimento com inflação baixa e geração de empregos.
Enfrentaremos os grupos de interesses escusos que quase destruíram o país.
Após 30 anos em que a esquerda corrompeu a democracia e estagnou a economia, faremos uma aliança da ordem com o progresso: um governo Liberal Democrata.
Segurança, Saúde e Educação são nossas prioridades. Tolerância ZERO com o crime, com a corrupção e com os privilégios.

Aqui volta uma jogada bastante malandra que é fingir que declarou guerra a um inimigo mas deixar esse oponente simplesmente sem nome. Afinal, quem são os “grupos de interesses escusos” que Bolsonaro pretende enfrentar? A Odebrecht? A Coca-Cola? O PCC? A associação de moradores do meu bairro? Fica a seu critério aí; imagine um inimigo e concorde comigo.

Talvez o ex-militar esteja tão confiante nas habilidades econômicas de seus ajudantes nessa campanha que esteja ficando desleixado até com as mais simples das operações matemáticas. Só isso explica o candidato dizer que a esquerda vem “corrompendo a democracia” há 30 anos. Eu tive que apelar para a Wikipedia pra descobrir quem eram os manda-chuvas da época: em 1988 o presidente era José Sarney, o presidente da Câmara era Ulysses Guimarães e no Senado quem presidia era Humberto Lucena, os três partidários do PMDB (nenhuma surpresa aqui). A gente nem precisa analisar a biografia dos 3 pra chegar à conclusão que o governo não era um antro de esquerdistas. Depois deles ainda vieram Collor, Itamar, FHC… Digamos que nenhum deles estamparia camisas com a cara do Che Guevara.

Mas então de onde diabos Bolsonaro tirou essa conta de 30 anos?

Sabe outra coisa que também é de 1988? A nossa Constituição, que restabeleceu plenamente o governo civil. Significa? Vou deixar pra você o julgamento.

“TUDO SERÁ FEITO DENTRO DA LEI”

NOSSA CONSTITUIÇÃO PRECISA SER RESPEITADA!
Mesmo imperfeita, Nossa Constituição foi feita por representantes eleitos pelo povo.
Ela é a LEI MÁXIMA E SOBERANA DA NAÇÃO BRASILEIRA.
Lamentavelmente, Nossa Constituição foi rasgada nos últimos anos, inclusive por muitos que deveriam defendê-la.
Nosso conjunto de Leis será o mapa e a BÚSSOLA serão os princípios liberais democratas para navegarmos no caminho da prosperidade. Enfrentaremos o viés totalitário do Foro de São Paulo, que desde 1990 tem enfraquecido nossas instituições democráticas.

Quem rasgou a Constituição? Quando? Em que ocasião? Será que em algum momento Bolsonaro vai parar com essa palhaçada de ficar dando indiretinha?

Ah, o Foro de SP… Demorou, mas enfim começou a maluquice, vamos lá. Pra começar, é bem curioso o jeito como setores da direita tratam o FSP como se fosse uma seita secreta comparável ao Opus Dei e não como se fosse uma confederação com site próprio, e um papel bem claro e definido: “O Foro de São Paulo reúne partidos progressistas, nacionalistas, socialistas e comunistas. Há basicamente dois pontos em comum entre estes partidos: lutar pela integração regional e combater o neoliberalismo”, como afirma sem pestanejar Valter Pomar em entrevista. Mas se tudo é tão às claras assim, então qual é a comoção? Simples, o lance é gerar um espantalho. Fica fácil bater em uma organização que apesar de aberta é pouco conhecida e que não faz o mínimo esforço de se admitir de esquerda.

“DESAFIOS URGENTES”

CONTRA a criminalidade, corrupção e aparelhamento do Estado para estancar os estragos e iniciar o processo de recuperação do país, da economia e da Democracia.
• Mais de 62 mil homicídios por ano.
• Mais de UM MILHÃO de brasileiros foram assassinados desde a 1ª reunião do Foro de São Paulo.
• Epidemia de crack, introduzido no Brasil pelas filiais das FARC.
• Corrupção generalizada e ameaças às instituições que a estão combatendo.
• Infraestrutura insuficiente e deteriorada.
• Educação e saúde à beira do colapso.
• 13 milhões de desempregados, oficialmente.
• Desrespeito às leis, à vida, à propriedade privada e à Constituição Brasileira!

Vamos por partes: A primeira frase só diz o óbvio, ou alguém aí é a favor da corrupção? A segunda frase só mostra um dado. Não dá pra dizer nada a partir dela. É na terceira que a coisa fica divertida; ela é o que costumamos chamar de Correlação Espúria  e tem até um site só disso em inglês. A grande maluquice dele é traçar uma relação entre dois dados que não têm nada a ver um com o outro. Aqui vai um vídeo bem simples e educativo sobre essas correlações.

Bem, explicado esse ponto, cabe mais um esclarecimento sobre o texto acima, que mostra que tão importante quanto O QUE está sendo dito é também COMO e ONDE isso está acontecendo. A quarta frase fala sobre o crack ter sido “introduzido no Brasil pelas filiais das FARC”. Bem, essa frase é complicada, porque a afirmação ainda não é um consenso entre os especialistas. Tudo leva a crer que facções criminosas brasileiras tenham estreitado relações com as FARC que, com a sua produção COLOSSAL de cocaína, abasteceu o mercado brasileiro. O problema não está na frase; onde está então?

O problema está em onde esta frase foi colocada, logo abaixo da frase sobre o Foro de São Paulo. Quando paramos de analisar frase a frase e passamos a ver o todo, a impressão que o texto dá é que a introdução do crack foi uma consequência direta da reunião das esquerdas. Além de ser mais um exemplo de correlação espúria, também beira a sacanagem.

No mais, nada a comentar. Deixemos a defesa da propriedade privada para discutirmos mais além.

“UM BRASIL EM ROTA FISCAL EXPLOSIVA!”

LIBERALISMO ECONÔMICO
As economias de mercado são historicamente o maior instrumento de geração de renda, emprego, prosperidade e inclusão social. Graças ao Liberalismo, bilhões de pessoas estão sendo salvas da miséria em todo o mundo.
Mesmo assim, o Brasil NUNCA adotou em sua História Republicana os princípios liberais. Ideias obscuras, como o dirigismo, resultaram em inflação, recessão, desemprego e corrupção.
O Liberalismo reduz a inflação, baixa os juros, eleva a confiança e os investimentos, gera crescimento, emprego e oportunidades.
Corruptos e populistas nos legaram um déficit primário elevado, uma situação fiscal explosiva, com baixo crescimento e elevado desemprego. Precisamos atingir um superávit primário já em 2020.
Nossa estratégia será adotar as mesmas ações que funcionam nos países com crescimento, emprego, baixa inflação, renda para os trabalhadores e oportunidades para todos.

O liberalismo está salvando bilhões de vidas, curiosamente quase todas no hemisfério norte. E isso tem um preço alto, que é a maximização de lucros e consequente exploração da massa trabalhadora até o limite e quiçá, além dele. Estou exagerando? Não me parece exagero quando uma fábrica tem 200 tentativas de suicídio por ano e ao invés de dar condições de trabalho aos seus trabalhadores opta por instalar redes de proteção e fazer um termo em que tira a responsabilidade da empresa em caso de suicídio.

Sobre os outros pontos citados, eu deixo a palavra com o excelente professor Daniel Souza, que entende mais de economia do que eu entenderei na minha vida inteira.

“O PROBLEMA É O LEGADO DO PT DE INEFICIÊNCIA E CORRUPÇÃO”

Está previsto pelo atual governo que para 2019 o Brasil terá déficit primário de R$ 139 bilhões, que tentaremos reduzir rapidamente. Temos o objetivo de equilibrar as contas públicas no menor prazo possível, buscando um superávit primário que estabilize a relação dívida / PIB. O desafio inicial também será organizar e desaparelhar as estruturas federais, O déficit nominal de 2019, que inclui os juros da dívida, é previsto em R$ 489,3 bilhões (6,5% do PIB). O valor das renúncias tributárias é de R$ 303,5 bilhões (19% da arrecadação). O déficit dos regimes de Previdência Social está previsto em R$ 288,3 bilhões.

Aqui constam apenas dados, nao há muito o que comentar. Só vou deixar uma coisinha aqui: GOVERNO NÃO TEM QUE DAR LUCRO.

“O BRASIL É MAIOR QUE NOSSOS PROBLEMAS”

Apesar do momento difícil, é importante não esquecer que SOMOS MUITO MAIS
FORTES que todos esses problemas.
O Brasil passará por uma rápida transformação cultural, onde a impunidade, a corrupção, o crime, a “vantagem”, a esperteza, deixarão de ser aceitos como parte de nossa identidade nacional, POIS NÃO MAIS ENCONTRARÃO GUARIDA
NO GOVERNO.
Importante mencionar novamente: As leis e, em destaque, Nossa Constituição serão
nossos instrumentos! Ninguém será perseguido, todos terão seus direitos respeitados.
Todavia, investigações não serão mais atrapalhadas ou barradas.
A Justiça poderá seguir seu rumo sem interferências políticas e isso deverá acelerar as
punições aos culpados

Outro slide bem sem sal pra comentar. Aqui Bolsonaro promete que em 4 anos acontecerá uma revolução cultural em que várias coisas dadas como intrínsecas ao dia-a-dia do brasileiro vão deixar de existir. Quer um spoiler? Não vai acontecer. 21 anos de ditadura militar não acabaram com nada disso, pelo contrário: reforçaram que a farda tinha força para executar coisas que até então não eram possíveis, ou seja, a “vantagem” vestiu um uniforme.

Esse capítulo foi meio xoxo de verificar. Esperamos que as coisas melhorem na parte 3.

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília”
Parte 3: Estrutura e gestão
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo

Tempo de leitura: 2 minutos

Longe de mim defender Ciro Gomes; o cara é tão problemático que uma fala dele rendeu o nosso episódio número 2 sobre racismo, mas tem horas que a gente tem que concordar. Quando Ciro criticou o que chamou de “esquerda intelectual” dizendo que estavam “voando para os problemas do Brasil”, ele tinha um ponto. Veja bem, eu não disse que ele tinha razão, disse que ele tinha um ponto.

De fato parece haver algum descolamento entre algumas pautas e a grande base de sustentação do povo brasileiro, e isso fica muito evidente pra mim principalmente nos discursos anti-Bolsonaro. O enfrentamento de certas pautas dele se dá de uma forma que não fica exatamente clara pro eleitor mais alienado, praquele cara que não tava acompanhando o notíciário com atenção nos últimos tempos e só agora passa a tentar entender o que tá pegando, afinal falta pouco tempo para as eleições.

Que tal uma ajudinha?

Pensando nisso eu pretendo trazer aqui algumas explicações da forma mais didática possível mas sem acabar no tom professoral. Tentar explanar de um jeito simples cada ponto da plataforma do dito cujo respeitando a intelectualidade de você que lê este texto. Não vou te tratar como criança e vou tentar evitar empregar aquele monte de termo que simplesmente não está no dia-a-dia do trabalhador. Sejamos simples e diretos.

Se você é uma daquelas pessoas que já têm uma boa bagagem mas simplesmente travam quando precisam discutir com um eleitor do Bolsonaro em potencial e assim acaba não conseguindo convencê-lo de não fazer essa burrada, então considere esse documento como um pequeno guia de consulta rápida. Deixe nos favoritos do seu celular; a chance de você precisar dele no próximo almoço de domingo em família é bem alta. Procurei separar entre os temas justamente para facilitar a consulta.

Para que ninguém possa dizer que estamos sendo desonestos, todas as frases do plano de governo de Bolsonaro estarão transcritas na íntegra. Nesta pequena série (separada pra não assustar com o tamanho do texto) vou tentar deixar isso mais claro. Esse é um documento que inicialmente reflete única e exclusivamente a minha visão. Espero que gostem.

Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília”
Parte 3: “Estrutura e gestão”
Parte 4: “Linhas de ação”
Parte 5: “Mentiras da esquerda”
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EMBREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: “O novo Itamaraty” (EM BREVE)

 

Guia de sobrevivência ao almoço de domingo – Parte 1: “O Brasil livre”

Tempo de leitura: 7 minutos

Lá vamos nós começar essa jornada pelos argumentos mais malucos do ano. Tudo o que estiver em cinza é um citação direta ao programa de Bolsonaro; as exclamações e os textos em letra maiúscula são de responsabilidade dele.

“O BRASIL LIVRE”

Propomos um governo decente, diferente de tudo aquilo
que nos jogou em uma crise ética, moral e fiscal. Um
governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios. Um
governo formado por pessoas que tenham compromisso
com o Brasil e com os brasileiros. Que atenda aos
anseios dos cidadãos e trabalhe pelo que realmente faz a
diferença na vida de todos.
Um governo que defenda e resgate o bem mais precioso
de qualquer cidadão: a Liberdade. Um governo que
devolva o país aos seus verdadeiros donos: os
brasileiros.

 

Aqui logo no início já temos um bom material pra trabalhar, repare:

Quando Bolsonaro joga essas frases dessa forma não há NADA sendo dito. “Ué, como assim nada sendo dito? Ele está dizendo que vai romper com o que temos hoje”.

Pois é, esse é o problema. A frase foi construída de uma forma que você lê nela o que você quiser. Um antipetista lê a parte que diz “governo sem toma lá-dá-cá, sem acordos espúrios” e pensa logo no governo Dilma. Eu leio a mesma frase e penso logo em Temer e seus comparsas. Como pode isso se a frase é a mesma?

Essa é a jogada: ele não se declarou inimigo de nenhum dos dois, quem fez a associação foi você. Não passa de um truque, a jogada é mandar no início uma frase impossível de ser contra e assim fazer o leitor baixar a guarda. Depois você vem com a parte que importa, e essa é que é a perigosa.

“VALORES E COMPROMISSOS”

O FRUTO DA VIDA É SAGRADO!
• Este é um país de todos nós, brasileiros natos ou de coração. Um Brasil de diversas opiniões, cores e orientações.
• As pessoas devem ter liberdade de fazer suas escolhas e viver com os frutos dessas escolhas, desde que não interfiram em aspectos essenciais da vida do próximo.
• Os frutos materiais dessas escolhas, quando gerados de forma honesta em uma economia de livre iniciativa, têm nome: PROPRIEDADE PRIVADA! Seu celular, seu relógio, sua poupança, sua casa, sua moto, seu carro, sua terra são os frutos de seu trabalho e de suas escolhas! São sagrados e não podem ser roubados, invadidos ou expropriados!
• Os frutos de nossas escolhas afetivas têm nome: FAMÍLIA! Seja ela como for, é sagrada e o Estado não deve interferir em nossas vidas.

Vamos começar analisando textualmente (e com isso eu já nem quero discutir a escolha de tratar pautas como frases soltas pontuadas). Falar sobre o “fruto da vida” remete a uma posição contra a legalização do aborto; mais uma vez Jair opta por dizer as coisas nas entrelinhas. Ele parece ter um problema em assumir textualmente as posições que defende abertamente quando está com um microfone na mão. A nossa posição sobre o aborto você pode conferir neste ótimo texto da Leticia. Ah, você notou que no ponto onde ele fala de toda a diversidade brasileira ele “acidentalmente” não cita que temos várias religiões? Curioso, não? Acho que eu não preciso dizer a razão disso, né?

A terceira e a quinta frase têm composições curiosas que valem a pena conferir juntas. Uma fala sobre a liberdade do indivíduo, a outra sobre a instituição da família, a qual segundo ele o Estado não deveria impor nenhum obstáculo. Ora, uma vez que o Estado não deve ser um empecilho à família e o indivíduo deve ter total liberdade, por que o casamento entre pessoas do mesmo sexo causa tanto incômodo ao candidato? Foi ele mesmo que escreveu “seja como ela for“. Se ele está disposto a não criar caso contra o casamento gay, lésbico, famílias não-monogâmicas e toda a sorte de diversidade que a total liberdade individual gera, então estamos juntos, mas claro que sabemos que não é o caso. Será que ele leu o próprio programa?

“LIBERDADE E FRATERNIDADE!”

• Quebrado o atual ciclo, com o Brasil livre do crime, da corrupção e de ideologias perversas, haverá estabilidade, riqueza e oportunidades para todos tentarem buscar a felicidade da forma que acharem melhor.
• Liberdade para as pessoas, individualmente, poderem fazer suas escolhas afetivas,
políticas, econômicas ou espirituais.
• Devemos ser fraternos! Ter compaixão com o próximo. Precisamos construir uma sociedade que estenda a mão aos que caírem. Escolhas erradas ou tropeços fazem parte da vida. Ajudar o próximo a se levantar nos diferencia como humanos.
• Mais importante: uma Nação fraterna e humana, com menos excluídos, é mais forte. Há menos espaço para populistas e suas mentiras. O Brasil precisa se libertar dos corruptos. O povo brasileiro precisa ser livre de VERDADE!

OK, eu tô começando a ficar incomodado. Estamos no terceiro slide e é a terceira vez que temos a palavra “liberdade”, o que é bem duvidoso quando se é o único postulante ao cargo que defende abertamente o regime que acabou com a liberdade de expressão com o AI-5. O cara tem a cara de pau de colocar no programa de governo dele que o que nos torna humanos é a virtude de ajudar quem fez escolhas erradas, mas ele próprio quer tratar bandidos a bala, desacreditando assim qualquer meio que uma pessoa possa ter de se reabilitar depois de ter cometido algum crime. Hipocrisia pouca é bobagem. Se é essa solidariedade que nos torna humanos, o que esse pensamento o torna?

Nenhuma outra parte do texto é digna de nota. O resto é só informação tirada do rabo e um caminhão de moral cristã (não que seja um defeito, mas eu esperava mais do que isso de quem pretende governar um país).

DIREITOS E DEVERES

• A forma de mudarmos o Brasil será através da defesa das leis e da obediência à Constituição, Assim, NOVAMENTE, ressaltamos que faremos tudo na forma da Lei!
• Qualquer forma de diferenciação entre os brasileiros não será admitida.
• Todo cidadão terá seus direitos preservados.
• Todo cidadão, para gozar de seus plenos direitos, deve obedecer às leis e cumprir com seus deveres (não matar, não roubar, não participar de falso testemunho, não sonegar impostos, etc.).
• Qualquer pessoa no território nacional, mesmo não sendo cidadã brasileira , tem direitos inalienáveis como ser humano, assim como tem o dever de obedecer as leis do Brasil.

Esse aqui vai ser rápido de analisar. Você leu o texto? Tem alguma coisa ali que é novidade? “Todo cidadão terá os seus direitos preservados”. Porra, isso é o mínimo que eu espero! Esse slide é totalmente irrelevante.

“IMPRENSA LIVRE E INDEPENDENTE

• Somos defensores da Liberdade de opinião, informação, imprensa, internet, política e religiosa!
• Liberdade das pessoas e de suas famílias em poder escolher os rumos da vida na contínua busca da felicidade!
• Somos contra qualquer regulação ou controle social da mídia.
• A Liberdade é o caminho da prosperidade. Não permitiremos que o Brasil prossiga no caminho da servidão.
• Nosso povo deve ser livre para pensar, se informar, opinar, escrever e escolher seu futuro.

Lá vem mais uma contradição do candidato. A mesma pessoa que é contra qualquer regulação da mídia é a que mais pede a remoção de páginas na internet. E aí? Devemos acreditar no Bolsonaro dos slides ou no das ações? Papel aceita tudo.

Será que alguém pode me explicar o motivo da segunda frase? Tem algum candidato que é contra as famílias que buscam felicidade? Gente, essa frase totalmente genérica é bem legal pra você colocar no rodapé daquela foto de pôr-do-sol no Instagram, MAS ISSO AQUI É UM PROGRAMA DE GOVERNO!

A NOSSA BANDEIRA É VERDE-AMARELA

• Nos últimos 30 anos o marxismo cultural e suas derivações como o gramscismo,
se uniu às oligarquias corruptas para minar os valores da Nação e da família
brasileira.
• Queremos um Brasil com todas as cores: verde, amarelo, azul e branco.
PRECISAMOS NOS LIBERTAR!
VAMOS NOS LIBERTAR!

Essa daqui é a que mais me tirou do sério e é por isso que finalizamos a parte 1 por aqui. O tal “marxismo cultural” é uma teoria da conspiração requentada a partir de um tal de “bolchevismo cultural” que fazia relativo sucesso na Itália da década de 30. Lembra o que rolava na Itália dessa época? Isso mesmo, um tal de Fascismo.

Claro que você não precisa acreditar em mim, e é por isso que esse que é um tema muito sério precisa de melhores referências, então eu deixo aqui um techo traduzido de um excelente texto de Jason Wilson no jornal inglês The Guardian, que está longe de ser comunista:

A teoria do marxismo cultural também é claramente antissemita, baseando-se na idéia dos judeus como uma quinta coluna sabotando a civilização ocidental de dentro, uma visão racista que tem uma história mais longa do que o marxismo. Como os Protocolos dos Sábios de Sião, a teoria foi fabricada propositalmente, para uma finalidade especial: a instituição e a perpetuação da guerra cultural. Podemos até nomear um autor para essa loucura: William S Lind, um polemista da direita americana, que procurou colocar o ativismo de direita em um novo patamar quando a Guerra Fria chegou ao fim.

Caso você tenha meia horinha sobrando, ouça a ótima análise do tal “marxismo cultural” feita pelo Carapanã para o Podcast Viracasacas.

Nesse momento você deve estar pensando “mas se é só uma teoria da conspiração então deixa isso pra lá, não fica dando palco pra isso”. Olha, eu adoraria, meu caro leitor, mas tem gente que realmente acredita nisso, e talvez um dos mais célebres seja esse cara aqui.

Anders Breivik matou 77 pessoas em julho de 2011

A crença no tal marxismo cultural fez com que esse cara armasse 2 explosões e um ataque armado matando 77 pessoas. Em seu julgamento ele fez questão de fazer a saudação nazista e pediu desculpas aos outros extremistas por ter sido pego antes de matar mais gente. Essa alucinação de pessoas extremistas é literalmente mortal. Tudo de que o Brasil não precisa é um candidato a presidente que incentive delírios como esse.

 

Esse texto é parte de uma série. Não deixe de ver os nossos outros textos sobre o tema:

Introdução
Parte 1: “O Brasil livre”
Parte 2: “Mais Brasil, menos Brasília
Parte 3: “Estrutura e gestão”
Parte 4: Linhas de ação
Parte 5: Mentiras da esquerda
Parte 6: Defesa nacional
Parte 7:  Saúde
Parte 8: Educação (EM BREVE)
Parte 9: Inovação, ciência e tecnologia (EM BREVE)
Parte 10: Economia (EM BREVE)
Parte 11: Economia 2 (EM BREVE)
Parte 12: Economia 3 (EM BREVE)
Parte 13: Economia 4 (EM BREVE)
Parte 14: Economia 5 (EM BREVE)
Parte 15: Agricultura e Infraestrutura (EM BREVE)
Parte 16: Energia, petróleo e gás (EM BREVE)
Parte 17: Tranportes, portos e aviação (EM BREVE)
Parte 18: O novo Itamaraty (EM BREVE)

metralhadora de fúria hoje; aguentem.

Tempo de leitura: 6 minutos

Quando minha filha entrou na cozinha hoje pra tomar café, viu minha cara inchada de choro e perguntou se eu tava me sentindo mal. Respondi que sim, porque era um dia muito, muito triste, e expliquei a ela, aos prantos, o que significa perder um museu como o Nacional. Ela me abraçou; tomamos café em silêncio. Ela me perguntou se eu já a tinha levado a esse museu; respondi que não, porque o Rio é uma cidade complicada. Não dá pra simplesmente pensar num lugar e decidir ir – tem a dificuldade de chegar, tem a logística imposta pelo mapa da violência urbana, você precisa se planejar muito, muito bem pra não ser pego no bairro tal em tal hora e não precisar atravessar o túnel tal à noite porque sabe que pode morrer se errar os cálculos. Então nós nunca fomos.

Quando a notícia do incêndio chegou ontem, a Carol tinha acabado de ir pra cama e eu estava sentada na minha poltrona dando a última olhada no Facebook antes de pegar no livro que estou lendo. Alguém postou sobre o incêndio e eu fui procurar no Twitter. Logo depois o Thiago me mandou um áudio totalmente atônito perguntando se eu tinha visto a notícia. Ficamos os dois assim, catatônicos, acompanhando as notícias, até que a raiva chegou e passamos a nos alternar no comando do PistolandoPod, furiosos, vomitando palavrões, consternados e putaços ao mesmo tempo.

Sabemos muito bem que o descaso com a cultura e com a educação não é exclusividade desse governo golpista de merda do caralho. Isso vem desde sempre – a verdade é que o Brasil começou a morrer em 1500, vamos combinar. O que esse vampiro maldito, colocado ali primeiro por um sistema político que impede a governabilidade se não forem feitos pactos com o diabo, e segundo por gente cheia de desonestidade intelectual que sacaneia os petistas pelo sanduíche de mortadela mas foi lá encher o cu de filé mignon pago pela FUCKING FIESP – A FUCKING FIESP, CARALHOOOOOOOOOOOOOOOOOOO – fez com o corte de gastos por 20 anos foi oficializar o horror. Um governo – uma série de governos, um povo inteiro – que caga e anda pra educação e pra cultura merece só um meteoro mesmo. Por sinal, um meteorito foi a única peça que resistiu ao incêndio do museu. Acho significativo.

O brasileiro é todo errado. Nossas prioridades são as piores possíveis, nosso senso de coletivo é inexistente, nosso interesse pelo passado como modo de trabalhar o futuro é nulo, nossa capacidade de nos preocuparmos e nos programarmos a longo prazo é nenhuma. E além de tudo isso ainda temos a ameaça da moral e dos bons costumes. A treta do Queer Museum foi uma das tantas que ilustram claramente o retrocesso mental desse país. A simples existência de uma fucking bancada fucking evangélica, uma aberração em qualquer país minimamente normal, é um sinal claro do atraso que nos toma e que ainda é somente a ponta do iceberg. Quem me conhece sabe: se eu fosse funcionária pública e fosse obrigada a REZAR (‘ORAR’ TEU CU) no trabalho, cara, não haveria coquetel molotov que bastasse no bairro pra apaziguar a minha fúria. Só de pensar que no Rio temos o Crivella como prefeito – UM FUCKING PASTOR DA FUCKING IGREJA UNIVERSAL, PORRAAAAAAAAAAAA, O QUE CARALHOS VOCÊS TÊM NA CABEÇA, SEUS MERDAS, PRA ELEGER UM TRASTE DESSES – eu tenho vontade de chorar. A invasão desses energúmenos filhos da puta na nossa política, seu entranhamento na nossa sociedade, são sinais de que ainda tem MUITO espaço pra piorar. Mas o pior nem é a bancada evangélica propriamente dita, pois são só mais um grupo de pessoas escrotas cuidando dos próprios interesses; o problema maior, a meu ver, é a nossa elite de merda, nossa classe média, a mais escrota que já pisou na face da terra, que prefere apoiar esses merdas a votar “em comunista maconheiro”. Você deixou de votar no Freixo pra votar no Crivella? Você é um merda e não tenho a mínima hesitação em afirmar isso. É um merda, ponto. Agora senta aí e chafurda bem chafurdado na merda que você ajudou a piorar.

Observando isso tudo acontecendo, a gente entende que Darcy Ribeiro tinha mesmo razão e tudo isso que tá acontecendo é um projeto. As mentes da nossa classe média foram moldadas desde sempre pra desprezar o que é nosso e louvar o hemisfério norte; os grandíssimos sacos de merda que diziam que as ciclovias do Haddad em São Paulo eram coisa de comunista pagam pau pra Amsterdã; os mesmos grandíssimos sacos de merda que estão usando esse incêndio como justificativa pra pedir a privatização de tudo são os que ficam babando no Louvre, convenientemente ignorando que os maiores museus do mundo são administrados pelos governos. Trata-se de patrimônio nacional, porra, como é possível uma pessoa ser tão filha da puta a ponto de querer vender seus próprios museus??? Suas próprias indústrias de base, sua infraestrutura? Como é possível alguém defender a venda pra estrangeiros de empresas que são necessárias pra você TER ELETRICIDADE EM CASA, BOTAR GASOLINA NO CARRO, TER ÁGUA ENCANADA?

Eu queria saber por que não queimamos Brasília ainda. Eu sei os motivos, mas queria mesmo entender por que não estamos mais revoltados. Também sei os motivos; somos realmente um povo pouco afeito a guerras, e além disso depois de tantos séculos de ignorância voluntariamente incentivada pela elite dominante, não somos capazes de entender a dimensão da importância de um museu, de uma pesquisa científica, de uma filarmônica, de projetos culturais pras periferias. O importante é que a Lei Rouanet não dê dinheiro à obra Os Macaquinhos. O importante é não ter kit gay nas escolas – e não me dêem espaço pra começar a xingar o Bolsomerda e os merdas que nele votam, porque vocês tão carecas de saber minha opinião a respeito. Foda-se que o museu mais importante da América Latina pegou fogo por falta de verba pra ajeitar a fiação elétrica do prédio (ou por alguma causa dolosa que ainda não conhecemos); o importante é fiscalizar o que cada um faz com seus próprios orifícios corporais. Foda-se que perdemos VINTE FUCKING MILHÕES DE ITENS, décadas de pesquisas, espécimes raríssimos, documentos históricos, espécies ainda não identificadas; o importante é fazer operação militar nas favelas, sabendo muito bem que não serve pra nada além de matar negros e pobres – e aqui incluo os militares mortos durante a intervenção e os PMs que morrem no Rio, e no país inteiro, todos os dias. AIN MAS UMA COISA NÃO EXCLUI A OUTRA – nesse caso, exclui sim, porque a hierarquia das nossas prioridades diz muito sobre o que somos e que valores temos. Os valores da classe média brasileira são, não necessariamente nessa ordem: prefiro eu estar na merda mas ter gente mais na merda do que eu a estar não na merda mas na companhia da classe C no avião; farinha pouca, meu pirão primeiro; a família acima de tudo, mas quero poder jogar minha mulher da janela e depois dizer que não me lembro de nada; privatiza tudo, que se der errado eu vou morar em Miami; bicicleta é coisa de comunista, mas ai como eu amo Amsterdã; socialista é tudo filho da puta, mas aqui tá feia a coisa, vou pra Portugal ajudar a criar um novo nicho mercado de apartamentos com dependência de empregada porque não sei viver sem mucama e meu braço cai se eu tiver que limpar a minha própria privada; tem que matar traficante mesmo, mas a culpa não é minha pois eu votei no Aécio. Pra mim, nada resume e ilustra tão perfeitamente a classe média brasileira quanto os adesivos da Dilma de pernas abertas pra colar no carro. Em tempo: se você já usou esse adesivo e não se arrepende, não entende a magnitude disso, você é um merda também.

Sempre que visito museus fora do Brasil fico pensando que se eu morasse lá teria o passe anual e viveria lá dentro. Fiquei pensando nisso hoje, depois do incêndio. Há algumas semanas uma amiga querida, a Ana Cardoso, me chamou pra darmos uma volta no Museu Oscar Niemeyer aqui em Curitiba. Eu não gosto de arte moderna e abomino a arquitetura dele, mas SEMPRE tem alguma mostra interessante pra ver e eu não vou com a frequência com que deveria. Por preguiça mesmo; a Ana vai sempre, mas ela vai a pé, mora pertinho. Eu moro relativamente perto, mas fico com preguiça de ir mais porque nem todo o acervo deles me interessa. Se houvesse um museu de história natural ou de arte nos moldes da National Gallery de Londres aqui eu certamente moraria lá dentro.

Minha mãe sempre encheu a boca pra falar da Quinta da Boa Vista, porque era realmente uma coisa deslumbrante, pra além da importância histórica da estrutura e do museu. Uma área de lazer invejável numa cidade ridiculamente quente, mas com ridiculamente poucas áreas verdes. Eu fui ao museu várias vezes quando pequena, com meu pai, com excursões da escola. Nunca fui depois de adulta. Me arrependo de não ter levado a Carol. Agora nada daquilo existe mais.

Esse texto tá completamente sem sentido, sem fio condutor, sem lógica entre os parágrafos. Não tenho condições emocionais de escrever nada direito. Ontem fui dormir chorando e xingando, minha cabeça tava uma zona, mil coisas ao mesmo tempo, vários textos misturados. Perdoem a minha confusão mental, por favor.

Eu vou trabalhar na biblioteca hoje à tarde. Quarta-feira o ingresso no Niemeyer é grátis; vou pegar a Carol mais cedo na escola e levá-la ao museu.

Leiam a Eliane Brum sobre o assunto. Nunca houve pessoa que escrevesse tão bem sobre qualquer coisa quanto essa mulher.